A arca do tesouso
Por Maria do Rosário Pedreira Em: 02/12/2015, às 08H36
[Maria do Rosário Pedreira]
A correspondência (no sentido de troca de cartas entre pessoas) deixou simplesmente de existir; todos nós trocamos e-mails quando a coisa exige mais explicações e SMS terrivelmente curtas quando queremos dar apenas um recadinho. No entanto, a correspondência ajudou muito ao estudo dos hábitos desta ou daquela época e geografia; e, na Holanda, encontrou-se recentemente uma arca carregadinha de cartas (mais de 2500) que podem contribuir com dados muito interessantes para o estudo da vida no país durante o século XVII. Parece que as cartas, muitas das quais estavam seladas e nunca tinham sido abertas, foram arrecadadas por um chefe dos Correios; na altura, era costume pagar a franquia quem recebia a carta, e não quem a mandava; e havia, pois claro, quem não quisesse pagar, ou não quisesse receber a carta, como o homem que morria de medo de que ela lhe trouxesse a notícia de que estava para ser pai (e tinha razão). E, assim, durante séculos, toda a correspondência que não chegou ao destino ficou guardada na arca, até que nos nossos dias a arca foi descoberta... e aberta! Agora, os académicos de cinco universidades espalhadas pelo mundo estão a deliciar-se com a leitura de centenas de missivas de aristocratas, espiões, actores, músicos, editores, mercadores e até gente do campo praticamente analfabeta. Uma arca do tesouro, sem dúvida.