A amizade é um refúgio


Rogel Samuel



Quando somos jovens temos naturalmente muitos amigos, espontaneamente. São colegas de rua, de colégio, de faculdade.

Na meia-idade diminui o número de amigos.

Mas na velhice (e eu me incluo aqui) são raros os amigos. Muitos já morreram. Outros mudaram-se, moram longe, em outra cidade, ou país.

Também o velho fica chato, fala menos, reclama mais, sente dores, seu corpo não agüenta longos encontros nos bares, pára de beber, tem de fazer dieta e por aí vai.

As velhas amizades permanecem. Mas há um problema: as pessoas mudam, ficam reacionárias, repetitivas, conversar com um velho às vezes é já saber o que ele vai dizer.

E há velhos que param de ler, ou só se limitam a reler os velhos livros já sabidos.

Algumas pessoas até ficam desagradáveis, só falam de filhos e netos, ou de doença.

Mas para mim o pior velho é aquele cujas opiniões são formadas pela televisão, pela imprensa em geral (que no Brasil mente sem pudor).

"A amizade é um refúgio, diz Dugpa Rinpochê, uma comunidade sagrada, fraterna. É um dos "refúgios preciosos" de que falam os diferentes Budas. No tumulto do mundo moderno, o homem e a mulher devem encontrar refúgio. Quando se encontrou refúgio, os problemas desaparecem como um vôo de pássaros perturbados pela pedra. Perdem o seu peso, e põem-se a dançar.

"Precisarias da força ascética do eremita, do mestre de sabedoria, para te libertar a ti próprio da cegueira e da ilusão. Hoje, o homem moderno não pode fazer nada sem a ajuda dos outros. Não vive nas solidões do Tibete, fora do mundo, protegido dos profanos pelo recinto sagrado do mosteiro. É o diálogo, a partilha, a reciprocidade que nos libertam, e nos trazem de novo à nascente Única, comum a todos os seres", conclui ele.