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Luiz Filho de Oliveira

 

Apesar de não ser o “Poema do aviso final”, o texto do final da crônica, como o de Torquato o-fez antes, também brada: “É preciso que haja algum respeito/ ao menos um esboço/ ou a dignidade humana se firmará/ a machadada”. Grito parecido. Entanto, o meu poema grita a outras plagas, porquanto teve sua primeira escritura na década de 90 do século passado, e seu tema foi motivado por uma entrevista de um carioca a uma rede de TV brasileira em que se-queixava da situação vivida por ele, como voluntário da ONU, em Ruanda. Esse texto é, portanto, mais um “poema tirado de uma notícia de jornal”. Esta crônica, entretanto, entretextualmente, busca assunto num jogo, que começou com a execução equivocada do Hino Nacional Brasileiro. Queda de braço com o mastro: vou fazer o hasteamento da flâmula auriverde. Vixe!

            A bandeira que hasteio nele, no entanto, não é somente a de que o continente africano, espoliado pelos europeus, tem direito a uma reparação, sobretudo financeira, de países  como França, Inglaterra e Portugal, principalmente, por conta das suas Coroas, de seus príncipes reis. Nada mais honesto; pois, se esses países o que certamente buscaram na África foi o lucro (mesmo que fosse traficando gente!); então, que paguem a conta do que gastaram e desgastaram no continente africano. Marfim, diamantes, ouro (somente pra ficar nesses valores).

            Mas, não; à frente, no meu poema, eu navio (quem não navia?) a bandeira hasteada que também denuncia uma outra parte (podre, pode?): a despeito de todo avanço do continente-mãe,  alguns países africanos ainda não conseguiram dar cabo às guerras civis, esses carniferíssimos combates entre etnias, nem à corrupção na administração pública, essa compensável burla entre os crimes dos burocratas; tampouco podem lutar contra os regimes ditatoriais, que ainda são a praga do continente africano. Todos viram, leram e ouviram oque já aconteceu antes da Copa, em Angola.

Pois mal (porque bem não é!), esses atentados já deviam deixar atentos muitos dos que estiverem na África do Sul por estes dias de junho. Muita gente num só lugar, inocentes, que ditadores consideram números apenas. E o que o Brasil está fazendo nesse filme? Papelão (não quero escrever sobre aquela papeleira de acordo nuclear no Afeganistão, não). Mais uma vez, uma seleção brasileira de futebol sendo usada política e incorretamente pelo Governo; se não for isso, por que o Brasil permite que a equipe nacional de futebol (coisa grande neste país de fome, inclusive de bola, fome 10) vá jogar em um país cujo governo é exercido por um ditador. Esse é o caso do Zimbábue, “presidido” por Robert Mugabe. Que mal exemplo! Uma ditadura sangrenta, dito a Lula, duríssimo.
             Porisso, eu não me-corrijo, continuo crendo que a África será forte para superar suas desgraças e contratempos, contra todos os que não na-querem sobriamente livre. Assim, não posso assentir que os brasileiros assistamos a esses jogos de poder e de guerra, que fazem os ditadores com o povo, sem que les-gritemos o nosso contra-ataque na cara: a África aos afrinaos! E quanto ao caso dos países que “pularam a primeira fase”, a do etnocídio, e instituíram um “governo democrático” (para deixarmos ainda mais de lado a questão da “ajuda dos países ricos”), há que se-trabalhar a ética da solidariedade entre os povos, visto-ouvido-lido que é isso o preciso para cada nação ancorar em cais tranquilo. Naveguemos, pois, o texto. Teste o poema:

 

           

onde se-reporta a um fato refugiado em dois campos na África

 

 

Quibumba um

Quibumba dois

Ruanda... uh!

vala comum

 

sobre a nutrição

de seus protegidos

pesam os esforços

das forças da ONU

 

mas o voluntário

em tom brasileiro

– fala entrevistada

mastigando um samba –

 

pedindo arrego

cansado de fome

de vergonha & homens

quer vir pro Leblon

 

bem ali ao lado                                              

da Farmácia Piauí                                            

tomar um chopinho                                        

somente unzinhos                

 

com fome de bola

driblando as Áfricas

e as suas cóleras

que tanto assolam

 

mas bem mais cruéis

tantos governantes

nem sequer as-olham

porque não importam

 

e isso que o repórter

diz ali-outrora

não é nada novo

pras fomes no solo

 

sujeitos pras leis

sujeitos do resto

sujeitos a tais pestes

por vias satélites

 

por desvios de verbas

incompetências guerras

negras Áfricas falecem

aos sons destes versos

 

 

    (De Teresina até o Rio, via Áfricas.)