(Miguel Carqueija)

Ainda lembro dela com 18 anos parecendo 13...

 

50 ANOS FELIZES: RITA PAVONE




    No dia 1º de setembro de 1962 chegou ao fim o Primeiro Festival dos Desconhecidos, realizado na pequena cidade italiana de Ariccia, próxima a Roma, organizado pelo cantor e empresário Teddy Reno (nome artístico de Ferrucio Ricordi). E a grande, a arrasadora e inesperada vencedora foi Rita Pavone, então menor de idade: uma garota baixa, magra (uma tábua) e sardenta, dotada porém de uma simpatia irresistível e uma energia tal que lhe valeria o apelido de “a elétrica”.
     Da noite para o dia Rita Pavone tornou-se uma celebridade nacional e, logo, mundial. Em sua primeira turnê no Brasil (junho de 1964) o aeroporto do Rio de Janeiro ficou congestionado, tal o número de pessoas que compareceram. E naquele ano, ninguém no Brasil vendeu tantos discos. Nem Roberto Carlos, nem os Beatles, nem Altemar Dutra, Carlos Alberto, Trini Lopez, Ronnie Cord ou Ari Toledo, “hits” da época.
    O sucesso de Rita Pavone foi maiúsculo e estrondoso pelo mundo, da Argentina ao Japão, do Canadá à Rússia, sem esquecer Inglaterra, França, Alemanha, Espanha e Estados Unidos. Gravou em sete idiomas, estrelou filmes e peças teatrais, apresentou programas televisivos, compôs, escreveu um notável livro autobiográfico lançado em 1997 numa primorosa edição, “Nel mio piccolo...”. Não foi lançado no Brasil, mas eu pude obter um exemplar da segunda edição, de 1998. Uma bela obra repleta de fotos, desde a infância de Pavone. E foi escrito mesmo por ela, pois tem o mesmo estilo franco e marcante de suas entrevistas. Aliás, Rita possui uma inteligência superior, bem como caráter e sensibilidade: é um ser superior.
    A voz de Rita é um milagre: inconfundível, bela, poderosa, expressiva. Ela vai fundo na emotividade, trepida com as canções que interpreta, parece um anjo. O bom gosto do seu repertório é inigualável. Hoje há muitas dezenas de vídeos da Rita no “youtube”, e podemos vê-la majestosa na interpretação de “Don’t cry for me Argentina”. O seu carro-chefe é, e sempre foi, “Cuore” (“Coração”, de Rossi-Man-Weil), que gravou em diversas versões, inclusive em inglês (“Heart”). Porém, de seu vasto e inesquecível repertório, podemos lembrar “Il ballo del matone”, “Che m’importa dell mondo”, “África”, “La valigia”, “Pomerigio”, “Lettera a Pinocchio”, “Sei giá li”, “Sul cucuzzolo”, “Alla mia etá”, “Remember me”, “Plip”, “San Francesco”, “Ahi ahi ragazzo”, “Lui”, “Viva la pappa col pomodoro”, “My name is potato”, “Ma volendo”, “Supercalifragilistic-espiralidoso” etc. etc. etc.                
       Admiro também, em Rita Pavone, o seu carinho pelas crianças, seu amor pelos animais, o sentimento que transmite ao público. Admiro o seu conservadorismo de artista-família, cujo casamento com Teddy Reno (pela Igreja Católica) já dura 44 anos, coisa raríssima no meio artístico (ou qualquer outro meio). Tiveram dois filhos: Alessandro Neil (o “Neil” em homenagem ao astronauta há pouco falecido) e Giorgio.
    O caráter de Rita, como alma iluminada que ela é, se manifesta com freqüência nas suas palavras. Lembro-me de uma entrevista onde ela fez uma declaração marcante que, infelizmente, sou obrigado a citar de memória: “Eu estou sempre pronta a dar a mão a qualquer colega do meio artístico que precise de ajuda. O contrário é que não acontece”.
     Rita Pavone tornou-se uma das pessoas mais amadas do mundo, porque ela transmite amor, visível em seu sorriso.
    Maiores informações sobre esta estupenda artista e mulher em ritapavone.it.

NOTA: Pelo conjunto de sua obra e os 50 anos de carreira, Rita Pavone recebeu, em dezembro de 2011 (quando já corria, portanto, o qüinquagésimo ano de carreira profissional) o “Capri legend award 2011”, como o nome diz, na ilha de Capri, um importante evento do meio artístico europeu.

Rio de Janeiro, 31 de agosto a 9 de setembro de 2012.