[Maria do Rosário Pedreira]

Vasco Graça Moura escreve poesia há meio século, razão para se dizer: é obra... Apesar de saber que tem muitos livros publicados (romances também), não pensei já fosse há tanto tempo que publicava e fui surpreendida pela efeméride no caderno «Actual», do Expresso, no sábado 26 de Maio, no qual o escritor (e grande tradutor de poesia, de Dante a Rilke e Shakespeare) dava uma entrevista ao jornalista Valdemar Cruz. Às tantas, Vasco Graça Moura dizia que via sobretudo na escrita poética um «exercício técnico, uma aplicação de capacidades oficinais». A discussão sobre se a poesia resulta de um trabalho de ourives ou de mais qualquer coisa inexplicável é muito antiga, mas, no caso de Vasco Graça Moura, tenho de confessar que nunca vi ninguém tão dotado para a produção poética no imediato. Uma vez, numa viagem de avião que fiz com ele e outros poetas até Madrid, vi-o traduzir (com rima e métrica) dois sonetos de Petrarca (que ficaram quase tão bons como os originais); e nessa cidade espanhola, depois de um jantar em casa do escritor João de Melo, que era o Conselheiro Cultural português na época, o poeta que comemora o seu 50.º aniversário este ano fez um soneto ali em menos de nada sobre o jantar e o anfitrião que não ficava nada a dever a muita da poesia publicada em Portugal. Mas essa facilidade para compor tem de ser uma capacidade rara, não pode ser só oficina...