(Miguel Carqueija)

 

Ele foi companheiro de Dom Marcos Barbosa, Dom Estevão Bittencourt e Dom João Evangelista Enoud - uma era de ouro dos beneditinos brasileiros!

 

29 de abril de 1987, carta para O Globo (Dom Bernardo)


    No ultimo dia 22 de abril faleceu Dom Bernardo Schuch, no Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. Alemão de nascimento, vivia porém no Brasil há longas décadas. Quem o conheceu de perto pode dar testemunho da prodigiosa atividade que o seu zelo apostólico obrigava a manter, apesar da idade avançada. Dom Bernardo desdobrava-se, infatigável, entre o altar, o confessionário, o parlatório, a pia batismal, os retiros espirituais e onde mais sua presença fosse necessária. Parecia um moço pela sua disposição, jovialidade e seu rosto redondo. Seu português era perfeito. Dom Bernardo era a gentileza em pessoa, e nunca recusava atenção a quem o procurava. Deus o chamou, sem dúvida, para recompensá-lo de tanta dedicação para com o próximo e para com a Igreja de Cristo.
       É de se notar, também, o seu amor pela batina. Nos quinze anos em que conheci Dom Bernardo cheguei a vê-lo centenas de vezes, e posso afiançar que em todas elas ele estava com o hábito negro dos beneditinos. Isso numa época em que tantos padres procuram ocultar os sinais de seu sacerdócio, como se tivessem vergonha de ser religiosos.
    Não houve nenhum alarde na imprensa pela morte de Dom Bernardo, mas não importa: os critérios de Deus são outros. De sua lavra ficaram alguns livros que ajudarão a conservar a sua memória, o último dos quais, “Reflexões sobre a oração”, um opúsculo despretensioso mas substancial em sua doutrina, foi publicado logo antes da sua morte.

NOTA: esta carta para o jornal “O Globo” não foi publicada.