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Há 250 anos atrás eu percorria um caminho batido em mato raso, do templo, onde eu servia, à minha casa de adobe: ia e vinha, não todo o dia, mas às vezes....
Na adolescência, eu gostava muito de ir para a casa de campo de meu padrinho Gaspar, em Barão de Javary, caminho de Miguel Pereira. Quando estávamos lá, comíamos de pensão de uma senhora que morava em Governador Portela. Certa ocasião, tínhamos um compromisso em Miguel Pereira e como a refeição demorava,  eu me prontifiquei em ir buscá-la. A ida à Governador Portela foi sem problemas; na volta é que, exatamente no meio da estrada que ligava Javary à Portela, subiu do lago Itamaracá um bando de capivaras. As capivaras que vejo aqui no Rio de Janeiro e que habitam as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas são pequenas, mas, os bichos que pularam do baixio do lago para a estrada, chegavam até minha cintura – eu tenho 1,51m. Parei na Estrada com as vasilhas de comida na mão, me perguntando: – "O quê fazer?" Mas, não sei porque, achei que não iam me fazer nada e, resoluta, passei pelo meio do grupo... Nada aconteceu e cheguei "sã e salva" em Javary.
Penso em seguida em meu outro caminho do Templo à casa, da casa ao Templo... a estrada que nunca esqueci! A vida que levei para o Espaço ficava nesse trecho de caminho: a ansiedade para o que poderia me aguardar no templo, com os sacerdotes me ensinando a cítara, a batida dos pés ao som do tambor, o sânscrito das preces e dos mantras, e a ansiedade para abraçar minha mãe e os sobrinhos no conjunto pobre das casas brancas de adobe...
O elefante é tido como animal de excelente memória. Acho que ele vive uns 70 anos, por aí, pois é uma imensa massa de carne, naturalmente dificil de manter-se... Imagino o mundo que resta em suas recordações, enquanto observo um sol indeciso que faz umas manchas de luz no chão de cimento em volta da piscina, para logo depois as nuvens escurecerem o jardim de novo. Se um bando de elefantes – Yanai – ali, no Sul da Índia, atravessasse o caminho, saindo da mata para o deserto, e me surpreendesse, imagino o que levariam eles na memória através dessas travessias...