2016: o ano que se inicia
Por Cunha e Silva Filho Em: 05/01/2016, às 11H04
Cunha e Silva Filho
Já foi tarde 2015. Agora, é pensar no que vem e, como não sou tão otimista nem tão pessimista, quero vislumbra um ano novo melhor, pelo menos nos meus desejos explícitos, ou seja, que o pais saia do atoleiro político-financeiro em que se encontra. O melhor é pensar positivamente para não atemorizar o espírito dos brasileiros que não anda nada bem com tantas desgraças acontecidas no ano passado. Não vou repeti-las porque, na realidade, elas não deixaram de ocorrer. Não é uma página virada do calendário que vai nos tirar do desassossego.
Se há recesso no Congresso, não há recesso nas novas determinações do governo federal de aumentar os impostos, as contas de água, luz, esgoto, IPTU, gasolina, passagens de ônibus, trens, metrôs, barcas e o escambau. Até me parece que a entrada do ano só tem um motivo maior: o aumento das tarifas como se o povo humilde ainda pudesse aguentar os impostos e os juros mais altos do mundo, com o salário minguado e por vezes sem nenhum reajuste, como no caso do governo federal, cujos barnabés há tempos não veem um sinal de aumento de salários.
Entretanto, para o Executivo, o legislativo e o Judiciário e outros órgãos públicos os aumentos obedeceram à norma de sempre: foram reajustados regiamente, inclusive porque são eles mesmos que se concedem os gordos aumentos e outros colaterais que vêm encher mais ainda os bolsos já cheios do acumulados em anos anteriores. Oh, como é bom ser deputado ou membro do Judiciário, ou presidente da República! Por si só, isso já configura uma elite de profiteurs do oficialismo brasileiro. E o povo? Que povo?! Que estes vão arranjar um outro meio de complementar a renda familiar desmilinguida, achatada, com bicos ou assemelhados. Se não puderem suportar o tranco, diria como o crítico literário Álvaro Lins (1912-1970): “... suje-se gordo.”
Venho meditando há tempos sobre a rede social Facebook. Descontando algumas frivolidades que apresenta, a meu ver, o Face como é mais conhecido dos seus usuários, se tornou a maior forma de pessoas comuns ou menos comuns expressarem suas ideias a respeito do que se passa no país se no mundo.
Já escrevi que ele virou um autêntico fórum de debates e de trocas de ideias e informações jamais vistas na a comunicação brasileira.a não me importava muito com o Face, mas, à medida que começava a usá-lo, fui constatando que ele tem muita utilidade social, política, histórica e cultural. Ninguém pode negar-lhe essas vantagens.Ninguém, que eu saiba, se abalançou a fazer um estudo sobre a importância dessa rede.O seu alcance é de largo espectro, vai além fronteiras. Nele se veem mensagens em algumas línguas, notadamente, inglês, espanhol, italiano e espanhol.Até tradutor eletrônico tem, se bem que ainda deixam muito a desejar.
Se é fato que alguns usuários cometem erros de português, isso não invalida a mensagem, pois há mensagens corretíssimas que não têm o conteúdo e a profundidade de outra escrita com alguns senões de gramática.
Mais importa é a opinião sincera e o nível de consciência de cada usuário. Por isso, vejo o Face como uma espécie de ágora virtual, na qual cada um tem a sua independência, sua visão, ainda que não seja a nossa. E esse multifário conjunto de opiniões presta um serviço enorme ao desenvolvimento da escrita ao correr do teclado, i.e., a escrita das mensagens mais longas, médias ou apenas de uma pequena a frase, sinaliza pontos de vista que só vão agregar in formações ou novos ângulos sobre determinadas questões vividas pelo brasileiro ou questões que afetam o mundo inteiro. É incontestável a dimensão social do Face.
Cada página de um usuário termina por formar uma espécie de diário ou de correspondência entre pessoas que se tornaram amigas e querem continuar sendo amigas. Só vejo um perigo no uso exclusivo do Face: o meu medo que as relações entre amigos deixem para segundo plano, no tocante qao estreitamentos em profundidade, aquelas travadas pessoalmente.
Se se mantiverem apenas ao nível do espaço virtual, tenderão a perder sustentação e até mesmo se perderem em virtude da monotonia de falar somente à distância, sem o olho no olho, o aperto da mão, o braço físico, o volume da voz, a gestualidade, a linguagem viva – que é um meio dos mais eficazes no diálogo entre amigos. Sei, ademais, o quanto é difícil hoje em dia marcar-se um encontro com um grupo de amigos que estejam disponíveis em dia e hora certos. Todavia, todo esforço deve ser feito no sentido de que ao Face, grande veículo social e virtual, seja adicionado esse tempero indispensável ao encontro presencial de amigos.
Se nosso governantes auscultassem o que afirmam as mensagens postadas no Face e em outras redes sociais, eles teriam farto material crítico muito proveitoso para reverem suas posições, seus modos de lidar com a sociedade e verificar em que medida são aceitos ou repudiados.Governantes que não ouvem as reclamações da população e se encarapitam nas torres de marfim - o resultado temos visto tantas vezes -, tenderão a perder credibilidade, a honradez, o respeito dos concidadãos.
Um governante, em qualquer nível de mandato ou de cargo, verá que a sua imagem não é aquela que ele vê no espelho em sua casa ou no palácio, tendente ao narcisismo. Será antes uma imagem disforme à semelhança do que ocorreu com o personagem Dorian Gray, de Oscar Wilde (1854-1900).
Essa imagem desfigurada, horrorosa, feia, caricata, seria a verdadeira imagem que o dirigente político, caso desse atenção aos gritos da sociedade, teria de si junto aos milhões de usuários do Face e de outros meios de comunicação virtual ou mesma impressa, por exemplo, as das Cartas ao leitores do jornais de grande circulação.
Seria a imagem do que pensam os que lhe apontam erros, não a dos que teimam em lhe dizer e aos outros que não está nu, quando, na verdade, está nu, segundo relata um conto de Hans Christian Andersen ( 1805-1875). Nada se ajustaria melhor como fábula ao atual cenário político nacional do que esta contrafação de um rei, um imperador que desfilava sem roupas, enquanto os seus súditos e áulicos confirmavam (falsamente e por interesse subalterno) que estava, sim, nu, ao contrário de uma criança que, no desfile, despojada de hipocrisia, dizia com toda a espontaneidade de sua idade: “O rei está nu.”