1ª Guerra Digital
Em: 25/01/2012, às 09H11
[Bráulio Tavares]
A Primeira Guerra Digital ocorreu entre quinta e sexta-feira passadas, quando o coletivo Anonymous, reunindo cerca de 5.600 computadores espalhados pelo mundo, tirou do ar os computadores do FBI, numa represália ao fechamento do Megaupload, saite de compartilhamento de arquivos, acusado de pirataria digital. É provável que não tenha sido a primeira (sempre haverá quem já viu outras); a única certeza é de que não será a última, e de que em breve será tão permanente e banal quanto as balas perdidas.
Não foi uma batalha bélica, não houve perda de vidas nem de patrimônio material. Uma dúzia de presos, parece. Não houve tiroteio; apenas ofensivas e contraofensivas virtuais por parte dos dois grupos. O grupo pró-SOPA (que defende a lei Stop Online Piracy Act), numa carga fulminante ladeira acima, invadiu e apossou-se do território Megaupload, de aliados do Anonymous. A invasão se deu em circunstâncias tais que dificilmente esse território será retomado. Já o Anonymous mostrou que não pode anexar território para si (provavelmente é disperso demais para isto), mas, em contrapartida, bombardeou uma dúzia de “pontes”, e engavetou o acesso a pontos cruciais do território inimigo: FBI, agências do governo, grandes corporações da música e do cinema.
O grupo da SOPA perdeu a chance de forçar uma discussão e votação imediata da lei, mas apossou-se de um ativo de grande porte, sem falar na vitória moral e no marketing. A guerrilha internética do Anonymous mostrou força, e usou inclusive, como veículo de ataque, computadores de usuários distraídos; convergiu sobre as redes dos adversários e as tirou do ar. 1x1.
São agitações como as da Primavera Árabe, Ocupem Wall Street, etc. Ocorrem confrontos, mas para as multidões anônimas não interessa muito o combate físico, inclusive contra um adversário bem aparelhado. As baixas mais sérias serão um efeito colateral, um risco aceito. Elas procuram a ocupação de espaços, o corte do fluxo de informações do inimigo. Não é muito diferente de ocupar ruas, barricar passagens, impedir o tráfego, intimidar os comerciantes, fechar a rua na marra.
Grupos assim são multidão apenas no sentido de serem plural e sem rosto; mas sua movimentação é a de um grupo especial de guerrilha. O grupo deve misturar anciãos, adultos, jovens, pessoas muitíssimo bem treinadas, uma rapaziada nerd e desocupada, com disposição para um novo game. Muitos mergulharam nisso às cegas, uns por aventura, outros por missão, outros por mera alegria de viver, outros por indignação cívica, outros por fama e fortuna. Juntos, podem ir da terra ao céu num pulo, como podem voltar do céu à terra num baque.