[Flávio Bittencourt]

1988: Ivan Carlos Regina apresenta o Manifesto Antropofágico da FC brasileira

Tibor Moricz acaba de lembrar o acontecimento.

 

 

 

 

 

 

 

  

 

A VELHA BARCAÇA "Ipanema", RIGOROSA CUMPRIDORA DO

TRAJETO TRANSGUANABARINO RIO-NITERÓI / NITERÓI-RIO,

SOB O ESPLÊNDIDO OLHAR FOTOGRÁFICO DE

MÁRCIO NEGRÃO:

 Barca Rio-Niterói

(http://br.olhares.com/barca_rio_niteroi_foto453624.html)

 

 

 

 

O AEROBARCO "Flexa de Icaraí", DO MESMO PERCURSO NÁUTICO,

NA FOTOGRAFIA PRIMOROSA DE JEFFERSON FRANÇA:

Travesia Rio x Niterói no aero-barco Flexa de Icaraí - Niterói - Rio de Janeiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

por Jefferson França

(http://www.panoramio.com/photo/5223590)

 

 

 

 

O CATAMARÃ "Ingá 2" (IDEM):

O catamarã Ingá 2, que sofreu uma pane elétrica durante o trajeto Praça 15-Niterói (RJ) 

(http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/08/23/apos-acidente-com-catamara-tempo-medio-de-espera-pelas-barcas-e-de-1h-entre-rio-e-niteroi.jhtm;

foto: C. ALVIM COSTA / Futura Press)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.memoriasdosubdesenvolvimento.blogspot.com/)

 

 

 

 

 

CHARGE DO CARTUNISTA SINFRÔNIO:

 

(http://ideiaseetc.wordpress.com/2008/11/24/ovni-cai-mata-banqueiro-e-provoca-tumulto-em-sp/)

 

 

 

 

 

 

"Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante"

(IVAN CARLOS REGINA, frase-fecho de seu Manifesto de 1988)

 

 

 

 

 

 

 

 (http://amatematicaandaporai.blogspot.com/2010_10_01_archive.htmlhttp://amatematicaandaporai.blogspot.com/2010_10_01_archive.html)

 


 

 



 

 

 

 

  

 

 

ESTAVA PROGRAMADA UMA

CONFERÊNCIA DE GARRY KASPAROV

A SER PROFERIDA NO PORTO (PORTUGAL),

EM 10.2.2011, PARA MAIS DE MIL EXECUTIVOS

E A COLUNA "Recontando..." PESQUISARÁ

PARA VERIFICAR SE O EVENTO EFETIVAMENTE

ACONTECEU

(SEM A LEGENDA ACIMA DIGITADA,

A FOTO DO EX-CAMPEÃO MUNDIAL DE XADREZ

PODE SER ENCONTRADA, NA WEB, EM:

http://nxsts.blogspot.com/2011/02/garry-kasparov-no-porto.html)

 

 

 

 

 

(http://www.smev.de/flags/spiegel2001-6.html)

 

 

 

HOMEM versus MÁQUINA:

IVAN CARLOS DE REGINA, AUTOR DO

MANIFESTO ANTROPOFÁGICO DA FICÇÃO CIENTÍFICA

BRASILEIRA (1988), ESCREVEU SOBRE ESSA ESTÓRIA

QUE PERTENCE AO DOMÍNIO PÚBLICO E QUE É CONTADA

E RECONTADA EM TODOS OS CONTINENTES DA TERRA:

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bruce Pandolfini [AUTOR DO LIVRO], Kasparov [HOMEM] and Deep Blue [PROGRAMA DE COMPUTADOR]: The Historic Chess Match Between Man and Machine
 

(http://ebookee.org/Kasparov-and-Deep-Blue-The-Historic-Chess-Match-Between-Man-and-Machine_142650.html)

 

 

 

 

 

"(...) O totem foi a primeira máquina do homem (...)"

(IVAN CARLOS REGINA,

no Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira)

 

  

 

 

 

"(...) Em fevereiro de 1996 o computador de xadrez da IBM chamado Deep Blue venceu Kasparov [ENXADRISTA NASCIDO EM 1963, EM BAKU, AZERBAIJÃO (URSS) - República que se declarou independente da URSS em 30.8.1991 -, ENTÃO CAMPEÃO MUNDIAL DE XADREZ] em um jogo usando controles de tempo normal no Jogo 1. Mas Kasparov reagiu bem, terminando com 3 vitórias e 2 empates e ganhando facilmente a disputa.

Em maio de 1997, uma versão atualizada do Deep Blue derrotou Kasparov com um placar de 3½–2½ em uma disputa muito divulgada. Após cinco jogos, os dois jogadores estavam na mesma, porém Kasparov foi vencido do Jogo 6. Esta foi a primeira vez que um computador venceu um campeão mundial em uma disputa. Um documentário sobre este evento foi feito, intitulado Game Over: Kasparov and the Machine.

Kasparov declarou que muitos fatores pesaram contra ele nesta disputa. Em particular, foi negado a ele o acesso aos jogos recentes do Deep Blue, enquanto o time do computador poderia estudar centenas dos jogos de Kasparov.

Após a derrota, Kasparov disse que algumas vezes percebeu profunda inteligência e criatividade nos movimentos do computador, sugerindo que durante o segundo jogo jogadores humanos, em contravenção às regras, fizeram intervenções. A IBM negou que tenha trapaceado, dizendo que a única intervenção humana ocorreu entre jogos. A regra para que os desenvolvedores modificassem o programa entre jogos foi uma oportunidade que eles disseram que usaram para reforçar fraquezas nas jogadas do computador reveladas durante o curso da partida. Kasparov requereu acesso aos registros da máquina mas a IBM recusou, embora tenha publicado-os na internet posteriormente. O Garry pediu uma revanche, mas a IBM negou e aposentou o Deep Blue, o que foi visto por Kasparov como uma forma de cobrir as evidências de adulteração durante o jogo. (...)".

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Garry_Kasparov)

 

 

 

 

 

foto-de-teh-eng-koon-afp
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lan house em Pequim. Foto: Teh Eng Koon,  AFP

(http://peregrinacultural.wordpress.com/tag/tecnologia/)

 

 

 

 

lanhouse

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lan House em Copacabana

(http://peregrinacultural.wordpress.com/tag/tecnologia/,

sendo que o responsável por esta Coluna não estava,

em recente viagem que fez ao Rio, sentado numa das

"baias de microcomputador", quando essa imagem foi flagrada;

contudo, na Capital Paulista, há poucos dias (CARNAVAL DE 2011),

ele aparece - e isso será mostrado brevemente, neste mesmo

"batcanal" - em locais interessantes de São Paulo, Capital,

por vezes ao lado de pessoas certamente muito mais interessantes

do que ele próprio; tendo ido a São Paulo de avião, com passagem

comprada promocionalmente, mas não havia mais a tal promoção para a volta

a Brasília, o que o obrigou a voltar em ônibus interestadual; o colunista,

então, sem PC disponível, foi mentalmente elaborando uma crônica que

depois acabou de redigir, em Brasília, sobre tempos universitários,

transguanabarinos (A IDA DO RIO A NITERÓI GERALMENTE ERA FEITA

DE AEROBARCO E A VOLTA DE VELHA BARCAÇA, num tempo [1979]

em que ainda não se falava de CATAMARÃS, que são, por assim dizer, 

as "novas barcaças", cujo interior parece o de atualizadas aeronaves de

grande porte), como o Sr., a Sra. e a Srta. poderão ler e ver

[ILUSTRAÇÕES CONCERNENTES, mas não de barcas, de aerobarcos,

nem de catamarãs...], na web, em:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/um-cachorro-na-sala-de-aula,236,5770.html)

 

 

 

 

 Picture of Native American Totem Pole

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TOTEM (poste-estátua de caráter antropossimbólico) NO ALASCA

(http://www.hickerphoto.com/native-american-totem-pole-3698-pictures.htm)

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UM TOTEM VERDADEIRAMENTE MAGNÍFICO, NO ALASCA
(SÓ A FOTO, SEM A LEGENDA DESTA COLUNA "Recontando...":
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ESCULTOR WAYNE HEWSON, DA ETNIA - DO ALASCA -
TSIMSHIAN, CONSTRÓI UM TOTEM, EM KETCHIKAN
(A CAPITAL MUNDIAL DO TOTEM, no Alasca):
 

"Ketchikan, Alaska: The Totem Pole Capital of the World

 Ketchikan, Alaska: The Totem Pole Capital of the World

Ketchikan, Alaska, was the third and final port on my Coral Princess cruise. On Thursday morning, I left the ship and immediately joined a tour of the Alaska Rainforest Sanctuary, where I walked through dripping greenery for about an hour hoping to see some wildlife. Our guide was knowledgeable about the plentiful plantlife and at the end, we were rewarded with some bald eagles flying overhead. But it turned out that I was more enthralled by the sanctuary's other attractions: watching master carver Wayne Hewson create his latest totem pole (pictured above). Totem Poles are really what Ketchikan is all about.

 

Wayne, a Tsimshian Native American, has crafted 30 totem poles, five of which decorate the Alaska Rainforest Sanctuary. (...)". 

   
 
 
 
 
 
 
 
UM FABULOSO TOTEM NO LIXO (*),
DEPOIS DO CARNAVAL: 
 

"Passando pela avenida Migrantes, vi estruturas de alegorias que foram usadas no Arraial Flor de Maracujá e abandonadas na calçada. Entre o lixo chama a atenção uma escultura de um ser peludo, todo preto. Em princípio pensei se tratar da representação do Mapinguari, mas aí vi que a criatura tinha dentes, na verdade presas, como as dos mamutes.
 

Como eu não fui ao arraial, não sei do que se trata. Peço a quem souber, nos repassar essa contribuição para sabermos mais sobre essa representação cultural, folclórica e, quiçá, paleontológica. (Fotos JCarlos) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                           HOMENAGEANDO O ILUSTRADOR E CARTUNISTA BRASILEIRO SINFRÔNIO,
                           O ENXADRISTA AZERBAIJANIANO GARRY KASPAROV,
                           O ESCULTOR KETCHIKANIANO (ALASCA) WAYNE HEWSON,
                           OS ESCRITORES E PESQUISADORES BRASILEIROS
                           IVAN CARLOS REGINA E
                           TIBOR MORICZ,
                           desejando a todos eles muita saúde e vida longa,
                           SEM ESQUECER, NESSA LISTA DE PESSOAS MUITO TALENTOSAS,
                           DOS SEGUINTES FOTÓGRAFOS BRASILEIROS, TODOS ELES
                           DA MAIOR COMPETÊNCIA AFETIVA E PROFISSIONAL NO TRATO
                           DA ARTE DA LUZ:
                           MÁRCIO NEGRÃO,
                           JEFFERSON FRANÇA e
                           C. ALVIM COSTA
                           
 
 
 
 
 
 
 
 
11.3.2011 -  Em 1997, o programa de computador Deep Blue venceu o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov -  Ivan Carlos Regina, o autor do MANIFESTO DE 1988, enfrentou a questão, com a habilidade criativo-literária que é expressão de sua inteligência e sua inventividade crítica e teórica. Tibor Moricz, no excelente blog É SÓ OUTRO BLOGUE reapresenta o importante texto de Ivan Carlos Regina.  (Adiante está transcrito, também, o texto de I. C. Regina sobre a vitória do computador sobre o homem, acrescentando-se que Kasparov afirma que houve trapaça de homens que usaram de esperteza [desonestidade anti-desportiva, falando-se num português bem claro] para, digamos, AJUDAR O COMPUTADOR A VENCER O HOMEM INTELIGENTE.)  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 
 
 
 
 
 
 
 
 
TIBOR MORICZ,
EM SEU BLOG É SÓ OUTRO BLOGUE,
ESCREVEU, REAPRESENTANDO E
TRANSCREVENDO O MANIFESTO DE 1988,
QUE IVAN CARLOS REGINA EM BOA HORA LANÇOU
 
 
"

Diga “não!” à dominação cultural imperialista.

Por Tibor Moricz

Houve tempo em que a ficção científica que se escrevia no Brasil era toda eivada dos símbolos da literatura estrangeira e de tal forma contaminada por ela que não existia nem a mais tênue sombra de uma literatura identificada com a nossa realidade.

Isso fez surgir alguns insurgentes escritores brasileiros que, em busca de uma literatura de raiz, com personagens, cenários e ambientações tipicamente nacionais, procuraram romper com os asfixiantes clichês anglo-saxônicos.

Foi quando Ivan Carlos Regina, autor premiadíssimo da Segunda Onda da FC&F brasileira, escreveu o Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira (publicado num fanzine em 1988), pegando carona no famoso Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade. O que era pra ser uma brincadeira acabou como símbolo de uma geração que buscava uma identidade própria, repudiando a mediocridade que permeava o cenário da literatura de gênero à época. Um movimento literário em sua essência.

Leiam esse manifesto e ponderem: mudou alguma coisa de lá para cá?

***

MANIFESTO ANTROPOFÁGICO

DA FICÇÃO CIENTÍFICA

BRASILEIRA


MOVIMENTO SUPERNOVA

O homem foi até as estrelas para se encontrar e só achou o vazio, vazio, vazio.

Descobriu que no interior de todos os sóis se esconde a noite, e com ela sua inimiga ancestral, a escuridão.

São seus companheiros de viagem a morte, a dor, o riso, o sexo, a miséria, a alegria, o amor, o tédio, a solidão, a desesperança, o cansaço e a preguiça.

No cruzar da existência uma pirâmide de objetos inúteis: um forno de microondas, uma garrafa plástica, um quilo de éter, uma blusa de náilon, uma lâmina de barbear. Objetos do dia a dia.

Não propomos a dialética do povo mas a estética do novo.

O homem odeia o deus e ama o robô. Seu destino é destruir a perfeição e criar a aberração.

O totem foi a primeira máquina do homem.

Queremos ser uma explosão da forma e uma revolução do conteúdo. A supernova no céu do convencional.

A alegria e a prova dos nove.

A tecnologia e, em ultima instância, a tentativa neurótica do homem em substituir todos os seus componentes humanos por artificiais, criando um mundo onde ele seja o menos possível responsável.

Um boitatá de olhos de césio espreita no planalto central do país.

Ao lidar somente com a máquina, a ficção científica transforma-se num gênero de cenários, um arremedo de vaudeville, estéril e inconsequente.

Não viemos criticar a função da máquina mas propor a estética do homem.

Precisamos deglutir urgentemente, após o Bispo Sardinha, a pistola de raios laser, o cientista maluco, o alienígena bonzinho, o herói invencível, a dobra espacial, o alienígena mauzinho, a mocinha com pernas perfeitas e cérebro de noz, o disco voador, que estão tão distantes da realidade brasileira quanto a mais longínqua das estrelas.

A ficção científica brasileira não existe.

A cópia do modelo estrangeiro cria crianças de olhos arregalados, velhinhos tarados por livros, escritores sem leitores, homens neuróticos, literaturas escapistas, absurdos livros que se resumem as capas e pobreza mental, colônias intelectuais, que procuram, num grotesco imitar, recriar o modus vivendi dos paises tecnologicamente desenvolvidos.

A ficção científica nacional não pode vir a reboque do resto do mundo. Ou atingimos sua qualidade ou desaparecemos.

A produção literária brasileira, no gênero de FC, à exceção de reduzido rol de obras, é de uma mediocridade horripilante.

Uma mula sem cabeça cospe fogo radioativo pelas ventas.

Emulamos tecnologias sem conhecê-las.

Um Saci Pererê matuta, com uma prótese de vanádio, masca mandioca, tritura paçoca e arrota urânio enriquecido.

A alegria e a prova dos nove.

O homem prova, todo dia, que não é merecedor da tecnologia.

Queremos despertar o iconoclasta que jaz em todo peito brasileiro.

Morte aos adoradores de máquinas.

Um caipora verde amarelo devora hambúrgueres, destrói satélites, deglute armas e destroça tecnologias.

Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante.

SUPERNOVA

São Paulo, 1º ano após o desastre de Goiânia.

IVAN CARLOS REGINA

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"Homem versus máquina no xadrez - Eu penso diferente

segunda-feira, 29 de março de 2004 | 23:41

 

Por Ivan Carlos Regina 

Com o advento da Revolução Industrial uma grande parcela da humanidade acreditava que a maioria de seus problemas – como a fome, por exemplo – seria resolvida.

A multiplicação da força dos homens pelo vapor das máquinas geraria um excedente de produção, que, é lógico, seria distribuído às classes menos favorecidas.

Nem todos pensavam assim.

No ano de 1812, um industrial chamado Mr. Smith, dono de uma tecelagem, no distrito inglês de Huddenfield, recebeu uma carta com pesadas ameaças – ou jogava fora suas máquinas de tear – ou teria sua fábrica incendiada, junto com a sua casa.

A carta, assinada por um tal Ludd, inicia a fase descoberta do Movimento Ludista, que aterrorizou a Inglaterra de 1811 a 1818.

Liderados por Ned Ludd (talvez um pseudônimo), que se intitulava Capitão ou General, bandos de homens com máscaras negras ou com o rosto pintado de fuligem atacavam as fábricas de tecidos de Nottingham, e depois qualquer classe de indústria que tivesse máquinas trabalhando.

O nome Ludismo foi inicialmente utilizado para designar a resistência operária contra a tecnologia e prática de trabalho inovadora. Com o passar do tempo qualquer restrição ao uso de máquinas ou ferramentas tecnológicas, e mesmo o medo ou ódio a elas, passou também a ser conhecido como ludismo.

Este movimento inglês foi severamente reprimido, pois temia-se que as conturbações políticas acabassem provocando uma revolução nos moldes da já ocorrida na França.

Um panfleto da época dizia sobre Ludd - “Sua obra de destruição não se atém a método nenhum! O fogo e a água servem-lhe para destruir pois os elementos ajudam seu desígnio – ele destruirá tudo de dia e de noite e nada poderá escapar de sua sentença”. Mais ameaçador é impossível.

Apesar de clandestino o movimento teve imediata simpatia de uma série de intelectuais, tais como:

Bertrand Roussel, que dizia - “As máquinas se adoram porque são belas, se estimam pela força que nos dão, mas as odiamos pois são repugnantes e nos aborrecem pela escravidão que impõem.”

William Blake, o genial, mas muitas vezes tido como louco poeta inglês, acreditava que os ludistas eram instrumento de uma revolta sagrada.

A romancista Charlotte Bronté, porém, disse serem gente fracassada, decaída, um bando de desocupados.

Nesta altura você deve estar se perguntando: - E que tem isto a ver com o confronto homem versus máquina no xadrez?

Defendo a posição que quase todos nós somos, no íntimo, e em menor ou maior grau, um pouco ludistas.

O próprio Marx era indeciso nesta questão – para ele, os trabalhadores tinham que ameaçar os capitalistas, concluindo que a máquina é estruturalmente uma “potência hostil ao trabalhador”, conforme consta no “O Capital”. Outras vezes acreditava que o controle dos meios de produção, em especial o das máquinas, libertaria o proletariado.

Com o tempo, ludista tornou-se termo pejorativo, ainda que Martin Heidegger, um dos mais refinados pensadores alemães do século XX, acreditava que a tecnologia pertinente ao mundo moderno, acabaria por levar à destruição da natureza, com a consequente massificação sufocadora da criatividade e a banalização da existência. Filósofo da Ontologia (estudo do ser), pregava um culto à origem da filosofia.

Nesta altura pergunta assim de surpresa para você, gentil leitor: - “Para quem você torceu, no último match Kasparov x X3D Fritz? Se você respondeu, para o homem, é claro, me desculpe, mas você é um bocadinho ludita.

Permita-me continuar, sem ficar irritado por enquanto: o temor à máquina versus a nostalgia do paraíso perdido é um tema recorrente em nosso pensamento coletivo atual.

Afinal, vivemos o neoludismo.

Um “maluco”, sobre a bandeira de teses ludistas, enviou 23 cartas bomba (que feriram 22 pessoas e mataram duas) à diversas personalidades do nosso mundo, entre os quais Bill Gates. Ele acreditava piamente que o desenvolvimento tecnológico ameaçava a destruição de nosso planeta, sendo as mortes provocadas por suas cartas bomba plenamente justificadas. Seu apelido “Unabomber” correu o mundo, ficou célebre, foi considerado pelo FBI como um dos mais perigosos terroristas do mundo, que disponibilizou intenso efetivo para capturá-lo. Acabou sendo denunciado pelo próprio irmão, pela cifra de um milhão de dólares – interessante o mundo onde vivemos, pois, como sabemos, o melhor dos homens, Jesus Cristo, foi traído por apenas 30 dinheiros, cifra insuficiente para comprar, na época, um vidro de bom perfume. Surpresa maior foi sua identificação. “Unabomber” era, na verdade, Theodore Zaczynsky, ex-professor de Matemática da Universidade de Berkeley e tido e havido por todos como “um gênio”. Vivia numa cabana, isolado do resto da humanidade. Está preso desde 1998, e seu manifesto, com 232 ítens que sintetizam o perigo que o futuro reserva à raça humana, está na Internet para quem tiver paciência de ler. Apesar dos crimes cometidos, contou com a simpatia intelectual de muitos outros pensadores de ação, como John Zerzan, que diz - “Ou luta ou se cala – não é tempo de queixas.”

Muitos outros ludistas continuam praticando seu vandalismo, seja destruindo laboratórios de experiências genéticas ou queimando lavouras transgênicas.

Voltando ao xadrez, em 1957 Allen Newell e Herbert Simon previram que em dez anos o computador ganharia do homem.

Erraram na conta, se considerarmos que “o homem” referia-se ao campeão mundial. Em 1990 Karpov quase perdeu para um programa chamado Deep Thought, mas o computador não quis empatar, e o russo acabou ganhando em partida muito equilibrada. Foram precisos exatos quarenta anos para que o programa Deep Blue ganhasse de Kasparov, em 1997.

Nada melhor que ouvir sua própria definição da derrota: "Eu tive minha primeira visão da inteligência artificial em 10 de fevereiro de 1996, às 16h30, quando, no primeiro jogo de minha série com o Deep Blue, o computador empurrou um peão à frente para uma casa onde ele poderia ser facilmente capturado... Mas um computador, eu pensei, jamais faria um movimento assim.... Fiquei estupefato com aquele sacrifício de peão. O que podia significar? Já joguei com um monte de computadores, mas nunca tinha experimentado uma coisa como aquela. Pude sentir – pude cheirar – uma nova espécie de inteligência através do tabuleiro.”

Por que Kasparov usa o verbo cheirar? Por que o mestre ficou estupefato? Eu respondo – porque a inteligência alheia sente-se – cheira-se, é uma experiência transcendental, que se apreende pela via dos sentimentos e não pela razão.

Se ainda fosse vivo (morreu de overdose) o genial autor de ficção científica norte-americano Phillip K. Dick (1928-1982), diria - “Kasparov encontrou enfim a sua epifania”. Dick dedicou-se em sua curta vida ao estudo do simulacro, da realidade física x a realidade artificial. Escreveu quase que só obras-primas, sendo seu romance mais conhecido – “Do Androids dream of electric sheeps (1966)”, que deu origem ao filme Blade Runner (1982). Ele acreditava que quando a máquina realiza funções humanas – emula o divino – isto é fruto de uma epifania teológica, ou seja, uma revelação divina, um contacto abrupto da realidade física (a máquina) com Deus, tendo o homem como objeto. Difícil de entender? Leiam os romances dele...

Nem todos creem que as máquinas em geral, e o computador em particular, sejam destrutivas. Marvin Minky, professor de Ciência da Computação no MIT, diz - “O computador nos ensinará como aprender a pensar e a sentir”. É o mesmo verbo (sentir) que usou Kasparov. Estamos no terreno dos sentimentos e não da razão. Deu para perceber? Fundador do Laboratório de Inteligência Artificial (IA) do MIT e da “The Society of Mind”, Minky acredita que a inteligência não é produto de um mecanismo singular, mas se origina da interação entre uma grande variedade de agentes.

A comparação entre o xadrez e a vida é bastante comum. Já no século XIX Thomas H. Huxley (1868), dizia - “O tabuleiro de xadrez é o mundo; as peças são os fenômenos do Universo; as regras do jogo são o que chamamos de Leis da Natureza. O jogador no outro lado está oculto.”

Você acredita que a máquina possa vir a pensar igualzinho a um homem?

Rabuske, em 1995, dando continuidade aos trabalhos de Turing, colocava as seguintes objeções a esta possibilidade:

Objeção teológica – máquinas não pensam, porque somente o homem tem alma.

Objeção das cabeças de areia – isto nunca acontecerá, pois as conseqüências da existência das máquinas pensantes seriam terríveis.

Objeção matemática – pois as máquinas nunca terão a quantidade de ligações possíveis dentro do cérebro humano.

Objeção da percepção humana – fundamenta-se no solipsismo – a única realidade no mundo sou Eu – e este pensamento somente o homem pode ter.

Faço um parêntese para contar uma manjada anedota da ficção científica: Finalmente conseguiram reunir num só milhares de computadores, estabelecendo um Megacomputador que poderia responder a qualquer pergunta humana. Quando foi ligado, houve acalorado debate sobre qual seria a primeira pergunta que lhe fariam – Depois de muito discutirem, os cientistas introduziram a pergunta no supercérebro; - "Deus existe?"... O computador fica em silêncio alguns segundos, e depois responde - "Agora, sim!".

Objeção das deficiências de emoção – a máquina nunca será completa, sempre lhe faltará algum sentido ou alguma emoção.

Voltando ao Alain Turing, matemático inglês que viveu na Segunda Guerra Mundial, teórico genial da IA, autor de idéias revolucionárias, tais como:

- A “Máquina de Turing”, que poderia resolver qualquer problema que lhe fosse colocado, pois só pararia de pensar quando resolvesse o enigma. Assim suas saídas seriam apenas “resolvido” ou “em processamento”, e nunca “não sei”.

- O “Teste de Turing”, que consistia de formular perguntas que pudessem identificar na outra ponta de um telégrafo, se quem estava respondendo era um homem ou um computador. Experimente! Considerando as salas de chat na Internet, eis um teste realmente útil.

As idéias de Turing, inovadoras para a época, tiveram pouca aceitação e impacto inicial, talvez por ele ser homossexual. Uma peça de teatro, levada há pouco tempo em São Paulo, belíssima, contava sua atribulada vida.

Nos anos noventa do século XX assistimos a uma verdadeira explosão da IA e das Redes Neurais, que visam reconstituir e simular o pensamento humano.

Foram criados sofwares tão avançados que bateram o campeão mundial de xadrez, mas não foi possível realizar um empregado doméstico que varra o chão, lave os pratos e frite ovos.

A IA é o ramo do conhecimento humano que se propõe a entender e a construir entidades inteligentes que apresentem as mesmas capacidades das entidades inteligentes encontradas no mundo real. Estas máquinas teriam que ter visão, aprendizado, memória e raciocínio.

Em estágios de desenvolvimento, elas necessitariam: - pensar como seres humanos (abordagem cognitiva); agir como seres humanos; pensar racionalmente, como queria Aristóteles do homem; e, por fim, agir racionalmente, que é, como sabemos, obra não só do homem comum mas principalmente do homem desenvolvido espiritualmente.

Grande giro demos, mas voltemos à idéia principal: Por que torcemos todos para Kasparov e contra as máquinas? Este é o ponto-chave.

Vamos fazer uma brincadeira. Imaginemos que o Planeta Terra está participando de um super campeonato de xadrez, entre todos os planetas da Via Láctea. Diga-me, leitor, não lançaríamos mão de nossos computadores? Eles não pertencem à espécie humana?

Os projetistas que fizeram o Deep Blue não merecem nossas congratulações e o nosso reconhecimento? Nós, homens, nos julgamos melhor que os outros? Seremos o centro do Universo?

Hoje sabemos que nada nos diferencia muito do resto dos animais, tirando os aspectos teológicos. Os chimpanzés podem usar ferramentas. Jane Goodall, aluna do Prof. Richard Leakey, conseguiu provar que o chimpanzé Davi Barbacinzenta utilizava varetas para comer cupins. É claro que a princípio ninguém acreditou nela, pois só seres humanos usam extensões da mão. Foi preciso o National Geographic filmar o feito para a comunidade científica aceitar aquilo que revolucionou a Psicologia Evolutiva. Macacos podem usar ferramentas, como varas, esponjas e martelos. Sendo o computador uma ferramenta, voces já viram onde eu quero chegar.

Logo, frases como “O homem ainda pode contra a máquina” ou “Humanos do mundo, ainda há esperanças”, na minha opinião, precisam ser olhadas com outros olhos. A máquina é do homem, foi criada para dar comodidade, prazer, saúde, etc.

Ninguém se recusa a utilizar uma máquina de tomografia computadorizada, se preciso, ainda que o trabalho do médico não possa ser dispensado. A máquina potencializa a ação humana, não a substitui. Em síntese, não é ela que está em questão, mas o uso dela por parte do homem.

Por último, deixe-me contar-lhes uma idéia maluca que me ocorreu há pouco tempo: Os primeiros computadores tinham uma capacidade de memória e processamento pequenininha, eram, por assim dizer, uma unidade de cálculo. Hoje os grandes computadores têm a capacidade de centenas ou milhares dos computadores antigos.

Theodore Sturgeon, um dos mais brilhantes autores de Ficção Científica, escreveu, em 1953 o clássico “Mais que Humano (More than human)”, onde a reunião de seis seres humanos deficientes conseguia produzir uma entidade sinérgica muito melhor que a soma das individualidades.

Por que Kasparov tem que jogar sozinho contra o computador? Lembremos que os softwares, que tem evoluído de forma assustadora, normalmente são fruto de uma ampla reunião de talentos individuais. Só para ilustrar: Deep Thought, um dos mais poderosos dos programas de xadrez, teve a participação de: Hsu Feng Hsiung, chinês formado em Engenharia Eletrônica pela Taiwan National University, fez a arquitetura do sistema; Thomas Anantharaman, hindu formado em Engenharia Eletrônica pela Banaras Hindu University escreveu parte do software e os algorítmos matemáticos. Murray Campbell é Mestre em Ciências da Computação pela Universidade de Alberta, Canadá, e foi responsável pela biblioteca de aberturas e da pré-função de avaliação. Andreas Nowatzyk é formado em Física e Ciências da Computação pela Universidade de Hamburgo. Este alemão desenhou a sintonia da função de avaliação. Gente de diversas formações, do mundo inteiro, trabalhando para um Projeto Comum.

Por que Kasparov não pode se juntar a mais cinco jogadores para disputar um match contra a máquina? Proponho Kasparov, Shirov (ataque), J. Polgar (intuição), Anand (precisão), Ponomariov (juventude) e G. Vescovi (persistência). Todos eles, juntos, dialogando, representam “O Homem”.

Terminando, depois de ler este texto:

Você se aceita como um pouco ludita? (Embora eu acredite que você jamais enviará bombas pelo correio).

Você vai torcer para o homem ou para a máquina (no próximo jogo de xadrez)?

Que tal o próximo jogo : 'Deep Fritz” versus “Deep Man'? ".
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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"QUEM É IVAN CARLOS REGINA?"
 
Veja quem ele é, em:
 
 
 
(ENTREVISTA CONCEDIDA A TIBOR MORICZ POR IVAN CARLOS REGINA)