1913, Paris: apupos estridentes ao balé de Igor Stravinski

Gabriela Mellão, da revista Bravo, lembrou que grande vaia se tornou uma espécie de certidão de nascimento do modernismo mundial, não só no balé.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FLÁVIO CAVALCALTI TRABALHANDO

(SÓ A FOTO: http://jd.netto.zip.net/arch2007-03-16_2007-03-31.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IBRAHIM SUED, para quem "Em sociedade tudo se sabe"

(SÓ A FOTO, SEM A LEGENDA ACIMA REDIGIDA:

http://www.hblog.com.br/2010/01/ibrahim-sued-unico-original-autentico.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA: balé devastador (1913);

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (início: 1914): conflito inimaginável, de guerra por assim dizer

caótica, quando antigas regras humanitárias foram desconsideradas pelos

países beligerantes (o uso da aeronáutica para produzir estragos terríveis

pode ter deixado o brasileiro Alberto Santos Dumont profundamente triste)

(Só a foto, que talvez tenha sido "colorizada" por métodos computacionais atualizados:

http://blog.educacional.com.br/historieta/2010/02/22/8%C2%AA-serie-aula-i-guerra-mundial/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LÊNIN, LÍDER BOCHEVIQUE VITORIOSO NA RÚSSIA, EM 1917:

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL AINDA NÃO TINHA TERMINADO

(http://cachorroluco.blogspot.com/2009/11/decalogo-de-lenin.html)

 

 

 

 

 

     Agradecendo a Gabriela Mellão - que é criadora peças de alta qualidade cênica - por

     sua generosidade no que tange a permitir que seus leitores se mantenham muito bem informados,

     homenageando a controversa memória do jornalista e escritor Ibrahim Sued, o saudoso "Turco",

     que, felizmente, cometia erros crassos de português e era anticomunista ferrenho, mas que com

     suas amizades, sem disso fazer alarde, protegeu, durante o período sombrio da Ditadura de 64,

     amigos de esquerda perseguidos pelos gorilas (COMO, DE RESTO, FEZ O APRESENTADOR 

     DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO FLÁVIO CAVALCANTIque era católico fervoroso,

     adepto da UDN e eleitor de Carlos Lacerda, pessoalmente arriscando-se e colocando também

     em risco sua respeitada família)

                                   

 

 

 "Não se podia, durante todo o espetáculo, ouvir o som da música", anotou a escritora Gertrude Stein sobre a vaia que estabeleceu o 29 de maio de 1913 como o dia D da arte de vanguarda. Nessa data, em Paris, estreou o balé A Sagração da Primavera, com música de Igor Stravinsky e coreografia de Vaslav Nijinsky. Gertrude Stein estava lá, assim como o escritor e cineasta Jean Cocteau, que registrou: "Ali, para quem soubesse ver, estavam todos os elementos de um escândalo".

GABRIELA MELLÃO

 

"A Sagração da Primavera foi um divisor de águas não só para a dança, mas para a história da arte"

CÁSSIA NAVAS, citada por GABRIELA MELLÃO NO MESMO ARTIGO, QUE ADIANTE ESTÁ REPRODUZIDO NA ÍNTEGRA

 

 

 

31.7.2010 - Algumas pessoas sensíveis e inteligentes queriam aplaudir o espetáculo de Stravinski, mas quando se ouvia a estridente vaia que eclodiu naquela estréia histórica, em maio de 1913, de A sagração da primavera, a impressão que se tinha era a de que só havia empedernidos reacionários por ali - Felizmente, como dizia o finado colunista social Ibrahim Sued, "os cães ladram e a caravana passa". Os medíocres berram e assoviam insistentemente e a obra de Stravinski passa, mas a verdade é que, agora, estou falando TANTO DE STRAVINSKI QUANTO DA TURBA ESTREITA E CONSERVADORA QUE NÃO QUERIA ADMITIR QUE FUTURO JÁ TINHA CHEGADO. Aquela situação desagradável foi o presságio - ou a expressão artística antecipada, aliás - de uma pavorosa guerra, que, começando no ano seguinte, se estenderia até 1918: a Primeira Guerra Mundial. Como se não bastasse tamanho transtorno, em 1917 os bolcheviques chegaram ao poder, em Moscou. A família Romanov foi dizimada de forma inclemente (*) e o mundo nunca mais seria o mesmo. Para melhor ou para pior, não importa, a verdade é que TUDO MUDOU.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

(*) - NÃO DEIXE DE LER, POR FAVOR, SE PARA TANTO VOCÊ TIVER TEMPO, recente matéria por nós compilada, que menciona a chacina do czar da Rússia e sua nobre família, "A ocupação extra da bisneta do czar da Rússia": http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/a-ocupacao-extra-da-bisneta-do-czar-da-russia,236,4459.html

 

 

 

 

"Setembro/2009

A Vaia Inaugural

Os apupos na estreia de "A Sagração da Primavera" são um marco das vanguardas artísticas. Depois de chocar, o balé se tornou um clássico - e inspirou coreógrafos como Pina Bausch, cuja companhia traz a obra ao Brasil

Por Gabriela Mellão

Pina Bausch e o Horror da Morte  

"Não se podia, durante todo o espetáculo, ouvir o som da música", anotou a escritora Gertrude Stein sobre a vaia que estabeleceu o 29 de maio de 1913 como o dia D da arte de vanguarda. Nessa data, em Paris, estreou o balé A Sagração da Primavera, com música de Igor Stravinsky e coreografia de Vaslav Nijinsky. Gertrude Stein estava lá, assim como o escritor e cineasta Jean Cocteau, que registrou: "Ali, para quem soubesse ver, estavam todos os elementos de um escândalo". Como escreveu o crítico musical Alex Ross, da revista The New Yorker, no livro O Resto É Ruído, escândalos como esse ocorriam de seis em seis meses na Paris dos anos 10, em que criadores da nascente vanguarda encenavam peças, escreviam músicas ou pintavam quadros destinados a sacudir e a chocar os conservadores. Nenhuma vaia, no entanto, ficou tão marcada na história da arte quanto a destinada à Sagração, talvez pelos desdobramentos posteriores. A peça de Stravinsky se tornou uma espécie de certidão de nascimento da música moderna. A coreografia de Nijinsky revolucionou a dança. E artistas como Gertrude e Cocteau, que estavam na plateia, se viram para sempre impregnados do espírito demolidor da Sagração - a obra de toda uma geração nascida na época atesta isso.

Depois do choque inicial da estreia, apresentada pela companhia Ballets Russes, do empresário Sergei Diaghilev, A Sagração foi aos poucos caindo no gosto do público. E se tornou - expressão paradoxal - uma espécie de "clássico da vanguarda". Os mais importantes coreógrafos do século 20 visitaram a partitura de Stravinsky e, cada um a seu modo, se impregnaram de sua música de ritmo irresistível, em que as cordas e sopros da orquestra fazem as vezes de instrumentos de percussão. Nessa aventura se lançaram nomes como o francês Maurice Béjart, em 1959, e a americana Martha Graham, em 1984. Uma dessas versões - a da coreógrafa alemã Pina Bausch, morta em junho último - volta a ser apresentada no Brasil neste mês, num programa que inclui Café Müller, com a companhia Pina Bausch Tanztheater Wuppertal.

Na versão original, os dançarinos contorciam-se e tremiam em espasmos no palco, seguindo a complexa estrutura politonal e dissonante da composição de Stravinsky. Com cabeças e pés torcidos, braços dobrados na lateral, mãos abertas e rígidas, os bailarinos levavam o grotesco ao palco para contar a história da jovem - a "eleita" - que precisa ser sacrificada em oferenda ao deus da primavera (a história do balé se baseia numa antiga lenda russa). Para elaborar os tremores e as contorções dos bailarinos, Nijinsky tomou como base a técnica de eurritmia desenvolvida pelo músico-educador suíço Émile Jacques-Dalcroze. Segundo ele, todo ritmo podia corresponder a uma livre criação motora.

Na Sagração da Primavera, os dançarinos golpeiam o solo com os pés, contrariando as regras clássicas segundo as quais os bailarinos, com sapatilhas de ponta, precisam "flutuar". No fim, acontece um dos solos mais longos e exigentes da dança moderna: a eleita, então imóvel, exterioriza com contorções seu terror diante da morte. Ela acelera seus movimentos até a convulsão final, quando gira sobre si mesma, cai morta e é erguida ao céu, em oferenda ao deus da primavera.

Criados pelo pintor e arqueólogo Nicholas Roerich, a cenografia e os figurinos ainda eram bastante suntuosos: no fundo do palco, um imenso painel retratava a paisagem do interior da Rússia. Já os figurinos, pesados, imitavam roupas de camponeses com vestidos longos, rostos pintados e uma série de adereços.

A primeira grande releitura da Sagração da Primavera ficou marcada, justamente, por tornar mais econômicos os recursos de cena, ao mesmo tempo em que retirava a história do contexto regional russo. Em 1959, com 32 anos, Maurice Béjart consagrou-se com uma coreografia despida de adereços pitorescos e um elenco formado por bailarinos das mais diferentes etnias, transformando a história num hino ao amor universal e apresentando a união profunda entre homem e mulher. Para Béjart, o encontro carnal entre um homem e uma mulher simboliza, também, a união do céu e da terra, a dança de vida e morte - "eterna como a primavera", como ele dizia.

Nessa época, Martha Graham já era um nome consagrado. Contudo, ela só iria fazer sua versão da Sagração 25 anos depois, aos 90 anos. Como Béjart, ela retirou a coreografia do contexto original. Fez uma versão contemporânea do ritual da fertilidade, investindo nos movimentos vigorosos, por meio das técnicas de contração e relaxamento do corpo pelas quais ela se celebrizou. Seus dançarinos vestem sungas, tornozeleiras e munhequeiras pretas. Os homens saem de cena carregando as mulheres nos ombros, compondo um retrato da fragilidade da mulher na sociedade patriarcal.

Essa abordagem da condição feminina também é uma característica da coreografia de Pina Bausch. Criada em 1975, quando Pina iniciava sua trajetória à frente da Tanztheater Wuppertal, ela também se afastava dos rituais da Rússia antiga. No lugar da representação do rito na natureza, concentrou-se no terror do homem diante da morte. "Pina aborda esta fábula do ritual para trabalhar as relações humanas, tema investigado em toda a sua trajetória", diz Cássia Navas, pesquisadora de dança da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultora do Teatro de Dança. Em cena, os movimentos são violentos, evocando a força da chegada da primavera. A criação explora os sentimentos que a partitura da Sagração provocaram em Stravinsky, "uma convulsão imensa, como se toda a terra fosse sacudida em determinado momento".

A batalha entre vida e morte concebida por Pina Bausch acontece sobre um palco coberto de lama, representando uma arena arcaica. Aos poucos, a lama se aloja nos pés descalços, nas calças pretas e nos peitos nus dos bailarinos, nas camisolas transparentes, cor da pele, das mulheres. Em cena, um casal se destaca dos demais - fisicamente e pela diferenciação do figurino: a mulher veste camisola vermelha. Após uma dança frenética do coro, em movimentos que trabalham braços e pernas semiflexionados e buscam a terra ao mesmo tempo em que expressam grande tormenta, o casal em destaque se divide. O homem junta-se aos demais, deixando sua companheira solitária, entorpecida pelo medo.

"A Sagração da Primavera foi um divisor de águas não só para a dança, mas para a história da arte", diz a pesquisadora Cássia Navas. Para Luis Arrieta, coreógrafo e bailarino argentino radicado no Brasil que encenou sua própria versão da obra em 1985, a música de Stravinsky é "dotada de força e essencialidade incomuns". Segundo ambos, de Nijinsky a Pina Bausch, a ênfase na sexualidade sempre foi uma constante, com movimentos pélvicos, violentos e curvados, dotados de extrema intensidade. "Cada coreógrafo abordou a força os gestos primeiros de Nijinsky", diz Arrieta.primordial da vida na sua criação, situando-a na sua cultura, na sua história, no seu tempo. E todos endossaram

Maurice Béjart, Martha Graham e Pina Bausch foram, cada um a seu modo, inovadores na arte da dança. A alemã chegou a promover uma verdadeira revolução na linguagem ao aproximá-la da arte teatral. Nos primeiros anos de sua carreira, muitos bailarinos se recusaram a trabalhar com ela, e, em suas primeiras peças, pessoas saíam do teatro batendo as portas. Aos poucos, no entanto, a arte inovadora desses três criadores foi entendida e absorvida ao longo de um século - o 20 - em que a vanguarda se tornou o mainstream. No dia 29 de maio de 1913, a vaia mostrou que Stravinsky e Nijinsky estavam no caminho certo - o da contestação. Estabelecido o mito inaugural da vanguarda, vários artistas certamente sonharam com uma vaia assim. Já há algum tempo, no entanto, ela não é mais possível - e o fato de Martha Graham, Maurice Béjart e Pina Bausch nunca terem sido apupados por suas Sagrações é uma prova disso.

Gabriela Mellão é jornalista e dramaturga, autora da peça Minha Loucura É o Amor da Humanidade.

 

ONDE E QUANDO
Café Müller e A Sagração da Primavera. Coreografia de Pina Bausch. Com Pina Bausch Tanztheater Wuppertal. Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, São Paulo (tel. 0++/11/5693-4000). Quando: 5a e sáb., às 21h, e sex., às 21h30. De 24 a 26/9. De R$ 40 a R$ 200".

(http://bravonline.abril.com.br/conteudo/teatroedanca/vaia-inaugural-495861.shtml)

 

A COLUNA "Recontando..." AVISA QUE O FORMIDÁVEL BALÉ ACIMA REFERIDO INFELIZMENTE NÃO ESTÁ MAIS EM CARTAZ NO TEATRO ALFA, EM SANTO AMARO, tendo a indicação acima reproduzida um valor histórico, tão importante é o trabalho de Pina Bausch e dos bailarinos envolvidos no mencionado processo.

"2 de janeiro de 2010

 

Ibrahim Sued - único - original - autêntico

 
Ibrahim Sued, morto em 1995, escreveu mais de 15 mil colunas ao longo de 45 anos: uma seleção delas foi reunida no livro "Em sociedade tudo se sabe". Ele nasceu sem sobrenome e sem fortuna, mas acabou circulando ao lado de gente como o presidente Getúlio Vargas, a rainha Elizabeth e o presidente americano John Kennedy. Cometia erros crassos de português, mas, por competência, se tornou um dos jornalistas mais importantes da sua geração. (...)"
 

http://www.hblog.com.br/2010/01/ibrahim-sued-unico-original-autentico.html

 

 

 

 

JOÃO DE DEUS NETTO SOFRE DE SAUDADE -

ele e uma legião de pessoas de sua estirpe -,

COMO LOGO SE PERCEBE, ANTES MESMO

DE CONSUMADA A LEITURA DE SEU TEXTO,

AO SE VER A MONTAGEM, que ele fez, DAS

TERNAS IMAGENS LOGO A SEGUIR EXIBIDAS

 

ERA UMA BRASA, MORA!
 
"A década de 1960 foi única. Alguns estilos musicais nasceram e outros se consolidaram. O mundo passou a pensar de modo diferente, a discutir questões e debater tabus. Foi a época da revolução sexual, da minissaia e de um período conturbado na política sul-americana.
No Brasil também tivemos a Jovem Guarda. Dezenas de bandas, duplas e ídolos deixavam a juventude em polvorosa. Os carros também faziam parte do agito da época com o estranho nome de “carango”.
 
Não havia internet, Google, cable tv, Ipod, Orkut e muito menos fax. Tínhamos que ir à biblioteca para fazermos pesquisas de colégio. Os discos, que eram chamados de "long-plays", tinham que ser virados para tocar as faixas do lado B. Não havia controle remoto e nem telefone sem fio. As camisas pólos eram chamadas de Ban-lon. As calças eram de Tergal e não amassavam e nem perdiam o vinco. Os carros só possuíam rádios AM (!) e eram Fuscas, Dauphines, Gordinis, Dkvs e Aero Willis. E o elegante Simca Chambord, com mini rabo de peixe e sem ar-condicionado. Sol não causava câncer, e camada de ozônio... era o que mesmo?
Camisinha era camisa de Vênus numa época onde porra, pentelho e “dá nos gostos” eram palavrões.
Não havia refrigerantes Diet. Havia o refrigerante Crush, Guaraná champagne, as Colas e um tal de "Grapette, que quem bebe repete" cuja principal característica era a de deixar a língua roxa.
Brincava-se de pêra, uva ou maçã com as meninas. Pêra era aperto de mão, uva, abraço, maçã, beijo. Nunca comi a maçã. Maçã e uva só na cartilha do ” Ivo viu a uva da vovó”... O que é uva, mamãe?
Sexo para nós, meninos, só com aquelas revistinhas do Carlos Zéfiro, preto e branca, sem capa, sambada e amarrotada de tanto ser amada.
A música desses caras aí embaixo fazia parte do repertório das festas e "tertúlias do Campo Maior Clube.
Até a próxima!
João de Deus Netto - Designer gráfico, chargista, caricaturista e Editor dos Blogs Bitorocara, Jenipapoirado e Pena Picinês que têm Links aqui ao lado".
 

 

 
 

 

VOLTAIRE SCHILLING ESCREVE SOBRE O ASSASSINATO DOS ROMANOV

 

"O assassinato dos Romanov

Em menos de um ano a dinastia Romanov, que governava há três séculos o Império Russo, foi posta abaixo e seus os derradeiros herdeiros fuzilados por um comando revolucionário. De março de 1917 a julho de 1918, todo o fantástico poder que Nicolau II possuía esboroou-se, desabando como se fora um castelo de cartas. O czar e sua família, aprisionados na cidade de Ekaterinburg, foram então sumariamente executados por ordem de Lenin.


 

"Assim o quero, logo assim deve ser! Esta fórmula manifestava-se em todos os atos daquele débil soberano que fez, unicamente por fraqueza, tudo o que caracterizou seu reinado: o derramamento constante de sangue mais ou menos inocente e, na maioria das vezes, absolutamente desnecessário."
Conde Witte, ministro do Czar de 1892 a 1906


Mane, Mane, Tecel, Persin! Estas antigas e enigmáticas palavras, dizem, estavam rabiscadas na parede dum quarto da casa Ipatiev, em Ekaterinburg, onde a família Romanov inteira fora fuzilada. Presumiu-se ser a letra da czarina Alexandra, mulher devota e conhecedora da Bíblia que, um pouco antes de tombar, lembrou-se delas.

Pertencem ao Livro de Daniel ( Daniel 5.4) e dizem respeito a maldição que atingiu o Rei Baltazar da Babilônia; “Deus mediu teu reino e deu-lhe fim; tu foste pesado na balança e fosse julgado deficiente; teu reino foi divido e entregue aos medos e persas” Alexandra morreu acreditando que a Revolução de 1917 era uma rebelião da criadagem ingrata e que aqueles tipos mal encarados que prenderam o casal e seus filhos, quatro belas meninas e um garoto, deviam ser “os medos e persas”. Para Nicolau II, seu marido, eram “os judeus”.

Verdadeiro isso, se esta inscrição de fato existiu , é mais um testemunho de como a Rússia Czarista era governada: os monarcas tinham a cabeça na Idade Média. Não se deve pois estranhar que o monge benzedeiro Gregory Rasputin, uma figura dostoievskiana, beberrão, devasso e semi-analfabeto, tornou-se, desde 1905 até 1916, o primeiro-ministro informal do imenso Império Russo.

 

Um governante repressor

 

A execução dos Romanov (17 de julho de 1918)
Jorge Luís Borges disse certa vez que “os inteligentes são bons”. Nicolau II era parvo e perverso. Quando soube da passeata pacifica (seu líder, o padre Gapon era um agente da polícia secreta) que os trabalhadores da capital fariam no dia 22 de janeiro de 1905 , ausentou-se do Palácio determinando que a Guarda Cossaca os dissolvesse à metralha. Esse episódio, que redundou em matança - 100 mortos e centenas de feridos - foi o célebre “Domingo Sangrento”, estopim daquela primeira revolução que Lenin chamaria de “ensaio geral”.

León Poliakov atribui a ele, a Nicolau II, a paternidade do moderno terrorismo de extrema direita, com seu entusiasmo pela Tchernaia Sotnia, a Centúria Negra, um agrupamento protofascista a quem protegia e financiava, especializado em pogroms e na morte seletiva de oposicionistas. “Os protocolos dos Sábios do Sião”, um panfleto anti-semita encomendado por um espião seu, Ratchkóvski, foi seu mais duradouro “legado intelectual”.

 

O sumiço dos corpos 

Desde a execução dos Romanov (o czar Nicolau, a czarina Alexandra, as quatro filhas, a Grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia, e o czarevich Alexei) pelo comando do bolchevique Yakov Yurovski (1878-1938), chefe da Tchéca local, assassinados em 17 de julho de 1918, seus esqueletos haviam se extraviado nos bosques da região de Ekaterinburg.(*). Em 1928, um destacamento da Tchéca recolhera os cadáveres e os incinerara. Descobertos os restos pelos pesquisadores Alexander Avdonin e Gely Riabov em 1979 , foram finalmente inumados na cripta da família na Catedral de Pedro e Paulo, em São Petersburgo, após um cerimônia discreta. Os russos em geral mantiveram-se ausentes, indiferentes ao sepultamento. Por mais que hoje maldigam o regime comunista eles não querem voltar a reunir-se ao redor dos ossos dos Romanov.

(*) a intenção original dos bolcheviques era seguir a tradição das revoluções populares, como a inglesa em 1649 e a francesa em 1793, de levar o soberano caído às barras de um tribunal revolucionário e depois de submetê-lo a uma execução publica. Trótski confessou que desejava ser atuar como o principal acusador. Todavia a possibilidade dos brancos, os contra-revolucionário, virem a resgatar Nicolau II e sua família, fez com que os bolcheviques mudassem de plano."  (VOLTAIRE SCHILLING,

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2003/12/11/000.htm)