O livro “1822” mal chegou às livrarias no dia 4 de setembro e já precisou de uma tiragem maior. Inicialmente, com 100 mil cópias, a obra que conta a história da Independência do Brasil com uma linguagem mais informal dobrou para 200 mil exemplares logo nas primeiras semanas. Um dos motivos da aceitação imediata do livro é mérito do autor. Laurentino Gomes, prêmio Jabuti de 2008 em duas categorias pelo livro “1808”, utiliza as redes sociais para divulgar seu livro. O escritor considera o autor de um livro o principal garoto-propaganda da obra. Laurentino conversou com a Revista de História sobre o novo livro, considerado pelo próprio jornalista melhor que o “best seller” anterior.
Revista de História da Biblioteca Nacional – O que o leitor pode esperar de “1822”?
Laurentino Gomes – Uma boa reportagem com uma pesquisa profunda e investigação do assunto em todos os aspectos. Foi o que eu aprendi a fazer nas redações em que trabalhei. O livro tem uma linguagem acessível divida em 22 capítulos. A estrutura é a mesma do “1808”: histórias da vida de personagens importantes, críticas profundas de fatos que aconteceram depois que D. João VI deixou o Brasil, em 1821, como o Grito do Ipiranga, as cortes constituintes, as dificuldades do Primeiro Reinado, a abdicação de D. Pedro, em 1831, e sua volta a Portugal para enfrentar o irmão, D. Miguel. Misturo histórias pitorescas de personagens com análises mais profundas.
RHBN – Em quais aspectos este livro tem relação com “1808”?
LG – É como se fosse um segundo volume. A linguagem é a mesma e uma história conta a outra. Não tem como entender a Independência sem saber os precedentes como a fuga da família real portuguesa para o Brasil, em 1808. Podemos dizer que é uma única obra contada em dois volumes (1808 e 1822).
RHBN – Quais foram as fontes de pesquisa para escrever "1822"?
LG – No total, foram 170: entre livros, teses de mestrado e doutorado sobre o tema. Boa parte já tinha sido usada em “1808”. Neste livro também contei com a orientação do embaixador Alberto da Costa e Silva (historiador), a quem mandava os capítulos à medida que ficavam prontos. Mas, o principal, foi a visita aos locais dos acontecimentos. No Rio de Janeiro, refiz o caminho de D. Pedro no Rio Ipiranga; na Bahia, fui a lugares onde morreram cerca de 10 mil pessoas lutando contra os portugueses; em Portugal, visitei o porto de Lisboa. Esses locais ainda têm muitas informações importantes, até nos monumentos. E esse é o trabalho de reportagem que não fica apenas na consulta de livros e documentos, também vai a campo.
RHBN – No “1808” havia uma situação muito atraente para o enredo: uma corte ameaçada, uma fuga em alto mar, personagens com caráter forte, Napoleão... Qual é o tempero similar para “1822”?
LG – Qualquer momento da história do Brasil tem personagens pitorescos que podem ser explorados. Neste período, além de D. Pedro I, que é o principal, temos José Bonifácio de Andrada e Silva, a marquesa de Santos, a imperatriz Leopoldina. Também tem o escocês Lord Alexander Thomas Cochrane, pouco reconhecido na história dessa época, mas muito importante. Era uma espécie de “herói maldito”, pois era ambicioso, louco por dinheiro, um mercenário estrangeiro que foi contratado para fazer a guerra de independência contra os portugueses no Nordeste.
RHBN – Em “1822” há temas como corrupção?
LG – Sim, como o tráfico de informações da marquesa de Santos, amante de D. Pedro; a troca de favores entre governantes. Inclusive escrevi casos que D.Pedro teve com mulheres casadas e os maridos ao descobrirem, ficaram em silêncio em troca de cargos públicos e benefícios.
RHBN - Quais os atrativos principais para atrair o leitor e fazer com que "1822" também se torne um “best seller”?
LG – É um pacote completo. Além da reportagem bem apurada e escrita, também tem o plano de marketing. Eu usei muito as redes sociais para mostrar desde o making off de quando comecei a escrever o livro até a divulgação do lançamento no twitter e no site.
Convido os leitores para as maratonas de lançamento e faço promoções no site. Também faço questão de fazer o lançamento em vários lugares do Brasil. Eu considero essas estratégias formas de estimular a cultura. Não adianta escrever um bom livro, que mereça ser lido, e escondê-lo. O autor é o principal garoto-propaganda de divulgação do seu livro.
RHBN – Em algum momento sentiu a “síndrome do segundo livro”?
LG – No começo sim. Quando você faz um primeiro e vira “best seller”, no segundo a responsabilidade é maior. As críticas também aumentam. Eu me defendo fazendo uma boa reportagem, com pesquisa concisa. No fundo o que conta é a qualidade do conteúdo. Eu acho que o “1822” está mais redondo, mais bem acabado. Está melhor. E com isso eu estou conseguindo dormir (risos).