[Washington Ramos]

     Em 19-06-2020, foram anunciados os dois vencedores do Prêmio Sesc de Literatura nas categorias romance e conto. Do universo de 692 romances, saiu vitorioso “Encontro Você no oitavo round”, da autoria de Caê Guimarães, escritor carioca que vive no Espírito Santo. Já de um total de 666 livros de contos, o vencedor foi “Terra nos cabelos”, de Tônio Caetano, escritor gaúcho, de Porto Alegre, que admite ter sido muito influenciado por “Diana Caçadora”, reunião de estórias curtas de Márcia Denser, de 1986, da qual li duas narrativas, e nenhuma delas me tocou (Essa autora foi elogiada por Rubem Fonseca e Ignácio de Loyola Brandão, mas louvor de literato famoso nada significa e às vezes mais estraga do que melhora um talento), pois as duas têm muito exibicionismo em primeira pessoa e pouca criatividade.

     É bastante salutar saber que há tanta gente escrevendo ficção no Brasil atualmente. 1358 livros! Isso em um concurso apenas. Há vários outros, e escritores que, com medo de resultados dirigidos por panelinhas, não participam de concursos e publicam por conta própria. 1358 livros! É contraditoriamente um número baixíssimo num país de 210 milhões de habitantes com aproximadamente 7% de analfabetos totais e inumeráveis analfabetos funcionais. Mas, se considerarmos que somos um país de poucos leitores de obras poéticas e ficcionais, é um número muito alto. Se alguém for fazer uma pesquisa, talvez encontre, proporcionalmente, mais escritores do que leitores. Porém isso é bom. Tem um lado positivo muito interessante, pois, quando autores estão escrevendo, ficam quietinhos, sem perturbar a ninguém. Agora imaginem aí essa turma em casa tocando bateria ou saxofone, por exemplo. Coitada da vizinhança!

     Como todo mundo sabe que grande quantidade, muitas vezes, implica baixa qualidade, esse número alto de livros coloca este problema: a enorme diluição do talento. Ou seja, este tem que ser repartido com milhares de escritores, chegando à casa de dezenas de milhares de livros de poesia e ficção, pois, segundo a página Bibliomundi, na web,  em 2018 houve aproximadamente 200 concursos literários no Brasil. Consequentemente, é muito pouco provável que, de tantos concursos, saia algum monstro literário a ser consagrado, algum extraordinariamente talentoso. Todos são mais ou menos igualmente talentosos.  Já que o talento está tão diluído, isso faz lembrar a famosa frase de Andy Warhol, segundo a qual no futuro todos terão 15 minutos de fama. Ser o primeiro numa disputa literária glorifica o vencedor durante alguns momentos. Como quase todo escritor sonha com a celebridade, haja concursos!

     Essa igualdade literária é fruto da educação, da democracia, da liberdade de expressão. É ótimo que isso ocorra e continue ocorrendo. Torna-se um desafio para que surja um gênio que quebre essa igualdade, o que dificilmente ocorrerá. Mas é muito agradável notar ainda a surpresa que a vida nos apresenta nessa questão. Ora, durante o século XX, foram muitas as tentativas em vários países para igualar as pessoas socioecomicamente. Matou-se tanta gente na tentativa de implementar isso, e não deu certo. Agora, ironicamente, vem a igualdade na literatura, onde muitos se consideram revolucionários e diferentes, abominam os autores clássicos e recursos como métrica e rima. Alguns até ainda admiram Lênin, Stalin, Fidel... Nas universidades públicas , vegetam o PSTU ( Partido que Só Tem na Universidade ), no qual atuam alguns poetas, e uma tal de Liga Bolchevique Internacional. É para rir, não é para chorar.

     Portanto jovens e velhos escritores que vivem sonhando com um estrondoso sucesso literário podem perder essa tola ilusão e se conformar com o sucesso altamente compartilhado.