100 anos do Poeta Rogaciano Leite (1920-1969)
Por Diego Mendes Sousa Em: 23/06/2020, às 08H30
PARNAÍBA
Rogaciano Leite
Você chega a Parnaíba e a cidade inteira abre-se num sorriso para abraçá-lo. Seus olhos, a princípio, não acreditam que, numa região árida como o Nordeste, possa haver jardins profusos, árvores frondosas e cheiro bom de água no esguicho das mangueiras. Mas ali existe tudo isso.
Parnaíba (sem melindrar as demais cidades nordestinas) é exemplo admirável em matéria de limpeza e administração. Rigorosamente asseada, com uma crescente dotação de residências modernas e casas comerciais de grande porte, a cidade que incha de progresso às margens do rio que canta “cantigas de águas claras soluçando”, é, sem qualquer contestação, a mais limpa de todo o Nordeste do Brasil. Limpa em todos os sentidos.
No centro, ruas e praças amplas, arborizadas, sem chagas de congestionamento social e com a presença de vários edifícios funcionais moldados ao gosto da arquitetura moderna; na faixa intermediária, estabelecimentos de ensino e residências de estilo antigo, porém sempre conservando harmoniosa e simpática visão de conjunto.
Lá fora, nas areias que se estendem num branco e uniforme lençol de planura, os casebres de palha, bem-feitinhos, pitorescos e higienizados. Mesmo na sua categoria de habitações humildes, não fornecem ingresso ao lixo ou à podridão. As crianças que ali habitam não tem placas de grude no rosto nem feridas nos pés.
Predomina em Parnaíba um elevado princípio de solidariedade humana. A sua população é uma família só. Os que têm mãos estendem-nas àqueles que não as têm e estes sabem dar o beijo de reconhecimento a quantos os ajudam. É a cidade de menor custo de vida em todo o Nordeste, com vários Bancos, um excelente hotel, magníficos educandários, sociedade requintada e amante da cultura. Seu comércio é sólido e espera, há muitos anos, pela construção do Posto de Amarração, que será o maior presente que o Governo Federal poderá oferecer não só àquela cidade, mas a todo o Estado do Piauí.
Nesta crônica sincera, quero soltar 60 milhões de foguetes à administração do Prefeito de Parnaíba, Engenheiro Alberto Silva, que sabe, sobretudo, conservar sempre limpa e florida a formosa e progressiva cidade que dirige.
Fonte: Gazeta de Notícias (CE), 09 de janeiro de 1957, página 3.
Crônica de Rogaciano Leite (1920-1969), poeta e jornalista pernambucano. Autor do livro de poemas Carne e Alma (com prefácio de Câmara Cascudo).
Parnaíba está localizada no norte do Piauí, região litorânea do Estado.
Tinteiros por Diego Mendes Sousa