Toscanini e Furtwängler







Bernstein gemia e gritava ao reger. Como se estivesse morrendo. Com a sensibilidade das gravações de hoje se pode ouvir isso, um certo suspiro desesperado. A época dos grandes maestros acabou. E Bernstein foi um extraordinário músico, claro
e intenso. Como Toscanini: fale-se o que quiser, mas a regência de Toscanini era
precisa e clara, e ele era um homem desprovido de vaidade, pura música.
Recebeu críticas mordazes de Furtwängler: "faltam as pequenas nuances",
disse Furtwangler, a propósito da "Leonora" de Beethoven. Chega a chamar
Toscanini de "ignorante naïve". Diz que a música de Toscanini não é
"orgânica" - e ele estava tratando da "Eroica". Diz Furtwängler que
Toscanini só conhece duas coisas: "tutti e aria" - e o pior é que ele tem
razão. "É uma maneira de agir verdadeiramente primitiva". Argumenta que
ele é "exagerado, sentimental e homófono" e que "faz de seus defeitos
uma virtude". "Ao inverso de Nikisch, ele não tem talento manual inato,
mas sabe fazer uma consumação gigantesca do espaço, do que resulta que
seus tutti são todos parecidos". Diz que ele é "um grosseiro
mal-entendido", é só "um culto da personalidade", e seu sucesso deriva
da sua personalidade. Mas "seu sucesso é funesto, pois atinge até os
alemães" etc. Leio isto em "L'órchestre: des rites et des dieux" (Mutations. Paris,
Mai 1988].