Cunha e Silva Filho


                        Ninguém estaria a favor do irresponsável que covardemente ceifou a vida de um competente e respeitado cinegrafista da Rede Bandeirante, o ainda moço jornalista Santiago Andrade, que, como tantos outros jornalistas brasileiros ou estrangeiros, estão cumprindo com o seu dever de informar o público com as imagens que acompanham o trabalho das reportagens. Vi o depoimento entrecortado de dor da esposa do cinegrafista diante das câmeras da TV. É mais um crime entre milhares que estão ocorrendo de um certo tempo para cá na vida social brasileira.
                    Quem provocou a tragédia seguramente não é o único culpado. Há culpados, inclusive o tipo de política de segurança que temos no país e, de forma mais violenta, no eixo Rio-São Paulo.
                     Este crime já há tempo era previsível. Poderia acontecer em manifestações a qualquer momento e tendo como culpado ou um arruaceiro matando um policial ou um policial matando um arruaceiro.                                Era de se esperar esta tragédia anunciada que poderia ser evitada se nossas autoridades dos governos estadual e municipal nos seus setores de segurança, da polícia militar, polícia civil tivessem tido competência e respeito público diante da população carioca clamando por seus direitos.. Por isso, o assassino não é o único culpado. Culpados somos todos nós que elegemos políticos que, nos seus mandatos, deixam muito a desejar. São, por isso, autoritários e péssimos gestores em suas funções. Veja-se no estado do Rio de Janeiro. Temos um governador que, em geral, é repudiado pelos cariocas. O prefeito, da mesma forma, não é bem visto pelo eleitorado.
                  Quando um secretário de segurança quer submeter ao Congresso Nacional um projeto de lei com dispositivos legais que enquadrem arruaceiros e grupos mascarados conhecidos como black blocs em crimes hediondos ou ações de natureza terrorista, faltou ao secretário estender esta tipificação de crimes aos assassinos e monstros da sociedade que há muito tempo acabaram com a paz do Rio de Janeiro, tanto quanto a de São Paulo e resto do país.
               Numa terra de ninguém, como é a situação de violência brasileira, uma das mais altas do mundo, ele, ao contrário, poderia encaminhar um projeto de lei bem mais eficiente, o de prisão perpétua para crimes hediondos e prisão real, não esta contrafação e este arremedo de punição protegida pelas brechas da lei e de diminuição de penas por bom comportamento, uma hipocrisia forjada pela nossa estrutura jurídico-prisional.
          A mídia estrangeira dos países adiantados e com liberdade de imprensa, a quem sabe ler nas entrelinhas, se solidarizou com a imprensa brasileira indignada com a morte cruel de Santiago Andrade, mas deu um recado certo para o governo brasileiro atual: o de que o governo petista tem-se omitido na proteção devida aos jornalistas do país que são vítimas também da truculência policial e de restrição à liberdade de imprensa.
              Temos vários casos de assassínios e agressões partidas dos órgãos de segurança contra jornalistas e repórteres. Urge que as associações ligadas à imprensa exijam mais proteção aos jornalistas, fazendo com que usem indumentária e equipamento adequados semelhantes àqueles usados em tempo de guerra.
             Isto seria um grande passo em defesa da incolumidade física dos que mourejam na imprensa que vai para as ruas fazer a cobertura de situações de violência, crimes, protestos, manifestações sociais contra governos que são hostis à sociedade, ou corruptos com o dinheiro público, ou não estão cumprindo a as promessas de soluções de deficiências gritantes da população em áreas específicas e vitais, tais como transporte público, saúde, educação, lazer, cultura.
       É evidente que a imprensa esteja unida em defesa de um colega morto, que todos lamentamos profundamente. Contudo, há outras implicações na morte do jornalista das quais não se tem ainda a verdade mais funda.
            A resposta da polícia do Rio foi direta e eficiente ao revelar os culpados. Mas isso, não é o bastante. Só se tem a parte de um todo e é nesse todo que talvez fôssemos localizar os verdadeiros culpados. A morte de Santiago nos lembra a morte de Amarildo e de tantos outros despossuídos que sumiram da vista da sociedade e a polícia, e o secretário de segurança, e o ministério público, e o governador e a Presidente Dilma Roussef, os deputados, os senadores, os ministros, por que não foram todos eles rigorosos na apuração dos culpados por tantas matanças de cidadãos brasileiros impunes até hoje? Por que não foram eficientes e prontos a dar satisfação à sociedade.
         Os assassínios bárbaros devem ser medidos com peso igual. Enfim, onde estão a presteza e a resposta imediata da polícia civil e do poder público em geral que não mobilizaram avião e o escambau a fim de caçar assassinos que ainda aí estão livres, lépidos e fagueiros?
             Os culpados civis e de farda estão  por aí, sem acusação nem julgamento, nem processos que levem à identificação de criminosos de inocentes. Por que as forças policiais do estado do Rio de Janeiro não debelaram grupos de criminosos e matadores que ainda campeiam mandando e desmandando nas comunidades carentes cariocas?
        Lamentamos, repetimos, a morte de um jornalista operoso e estimado por seus colegas; todavia, lamentamos também e por igual as mortes de outros inocentes que não tiveram, por serem humildes e abandonados, o mesmo tratamento do pranteado cinegrafista Santiago nem o poderio da mídia escrita e falada de aglomerados das comunicações.