POEMA 'CERTEZA' DE DIEGO MENDES SOUSA - UM ESTUDO DE ANA MARIA BERNARDELLI
Por Diego Mendes Sousa Em: 30/10/2023, às 21H14
CERTEZA
Poesia
é o pássaro
afogado
no mar
o peixe alado
sobre a terra
firme
a luz fugidia
na manhã
o diáfano
no deserto
o rosto
sem tempo
a matéria
sangrenta
o vento
estático
da vida
e o segredo
Poesia
é a fé
e a febre
a dor e o amor
o olhar
no silêncio
e o degredo
a mudez do grito
a vela do incêndio
a ausência
do destino
Poesia
é o pensamento
é o sentimento
é o deslumbramento
desse canto
amargo
Antes de tudo
e depois do nada
o fim do começo
e o início do fim
Poesia
é a mãe
do mistério
e a solidão
da sombra
(a casa
íntima
da alma)
Poesia
é a agulha
de coser
o espanto
a vaga lírica
a tristeza da alegria
magra
o encanto
Poema de Diego Mendes Sousa
Entrevista com Diego Mendes Sousa:
https://www12.senado.leg.br/.../26/dia-nacional-da-poesia...
======================
CERTEZA - Diego Mendes Sousa
Um estudo de Ana Maria Bernardelli*
C. Gde. 30/10/2023
O poema "Certeza", de Diego Mendes Sousa, é uma reflexão profunda sobre a natureza da poesia, explorando diversos elementos simbólicos e metafóricos que compõem o seu entendimento do que é a poesia. Através de imagens fortes e marcantes, o poeta nos leva a uma jornada através do pensamento poético, abordando temas como a dualidade, a profundidade emocional e a complexidade da arte poética.
A estrutura do poema, com versos curtos e uma linguagem concisa, reflete a ideia de que a poesia é capaz de comunicar muito com poucas palavras. O uso de metáforas como "o pássaro afogado no mar" e "o peixe alado sobre a terra firme" nos convida a contemplar a contradição e a surpresa que a poesia pode oferecer. A luz fugidia, o diáfano no deserto e o rosto sem tempo evocam um senso de efemeridade e intangibilidade, destacando a natureza elusiva da poesia.
A segunda parte do poema aborda o aspecto emocional da poesia, associando-a à fé, à febre, à dor e ao amor. A noção de "degredo" e "mudez do grito" sugere uma experiência solitária e às vezes dolorosa na busca da expressão poética. A ausência do destino e a vela do incêndio revelam a incerteza inerente à criação poética, onde a direção e o resultado são muitas vezes desconhecidos.
O poema encerra com uma consideração sobre o mistério e a solidão da poesia, retratando-a como a "agulha de coser o espanto". Esta imagem sugere que a poesia costura as partes desconexas do mundo e da experiência humana, tornando-as um único tecido de beleza e significado. A "tristeza da alegria magra" e "o encanto" destacam a complexidade das emoções humanas e a capacidade da poesia de capturar essa complexidade.
Em termos de comparação com outros poetas, o poema de Diego Mendes Sousa ecoa em alguns aspectos versos de Fernando Pessoa, especialmente no que diz respeito à profundidade filosófica e à exploração de temas existenciais. Assim como Pessoa, Sousa mergulha nas complexidades da existência e da linguagem para expressar a essência da poesia e a experiência humana. Ambos poetas também compartilham a habilidade de criar imagens poéticas poderosas e provocativas. No entanto, é importante destacar que cada poeta tem sua voz única e singular, e "Certeza" é uma expressão autêntica da visão de mundo e da estética de Diego Mendes Sousa. Este poema é um exemplo de como a poesia moderna muitas vezes explora a “certeza” nas experiências e percepções pessoais, destacando a importância de encontrar significado na observação atenta do mundo ao nosso redor.
*Ana Maria Carneiro Bernardelli é poeta, ensaísta, crítica literária e palestrante. Graduada em Letras, é professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, atuando por mais de 40 anos como professora de Literatura e Produção Textual e exercendo magistério desde o ensino básico até a Universidade. Também é Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. É Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.