O violino
Por Rogel Samuel Em: 21/08/2020, às 21H00
Rogel Samuel
Havia em Manaus um senhor, parente meu, educado na Inglaterra (era advogado), conhecido na nossa família somente como Dr. F..., que possuía dois títulos da Coroa Portuguesa, o de Barão e o de Visconde de Vila Gião, concedido pelo Rei de Portugal, D. Carlos.
Assem consta nos arquivos TT, Registo Geral de Mercês, D. Carlos I, Livro 7, fol. 179-180, hoje na Internet:
“Dom Carlos, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves etc Faço saber aos que esta Minha Carta virem, que Querendo Dar ao Barão de Villa Gião, J. A de F., um novo testemunho de consideração e apreço em que tenho a sua pessôa Hei por bem Fazer lhe Mercê do titulo, de Visconde de Villa Gião / [fol. 179v.º] em sua vida, Pelo que, Mandando Eu passar ao agraciado a presente Carta, a fim de poder chamar-se Visconde de Villa Gião, e gozar d’este Titulo com as honras, prerogativas, preeminencias e obrigações que pelas Leis e Regulamentos se acharem estabelecidos, Ordeno ás Auctoridades e mais pessoas, a quem o conhecimento d’esta mesma Carta pertencer, que, indo assignada por Mim, e referendada pelo Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios do Reino, a cumpram e guardem como n’ella se contém, depois de authenticada com o Sello pendente das Armas Reaes, o de verba, e com a nota do registro nos livros das repartições competentes. Etc. etc. Em 9 de Fevereiro de 1894. [http://geneall.net/de/forum/152597/visconde-de-vila-giao/#a224005]
Quando recebeu o título de Visconde já possuía o título de Barão, como é dito assim: Visconde de Vila Gião – Manaus [TT, Registo Geral de Mercês, D. Carlos I, Livro 5, fol. 79-79v.º]: “Dom Carlos, por Graça de Deus, Rei de Portugal, e dos Algarves, etc. Faço saber aos que esta Minha Carta virem, que Attendendo aos Merecimentos e qualidades que concorrem na pessoa de ..., negociante em Manaus; e Querendo Dar lhe um publico testemunho da Minha Real Consideração: Hei por bem Fazer lhe mercê do Titulo de Barão de Villa Gião, em sua vida. Pelo que Mandando Eu passar ao agraciado a presente Carta a fim de poder chamar se Barão de Villa Gião, e gozar d’este Titulo com as honras, prerogativas, preeminencias e obrigações, que, pelas Leis e Regulamentos se acharem estabelecidos, Ordeno ás Auctoridades e mais pessoas, a quem o conhecimento desta mesma Carta pertencer, que, indo assignada por Mim e referendada, pelo Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios do Reino, a cumpram e guardem como n’ella se contem, depois de authenticada com o sello pendente das Armas Reaes, o de verba, e com a nota do registro nos livros das Repartições competentes. Etc, etc. Dada no Paço das Necessidades em dois de Março de mil oitocentos noventa e três”.
Isso é o que consta na:
“Carta pela qual Vossa Magestade Ha por bem Fazer mercê a ..., negociante em Manáus, do Titulo de Barão de Villa Gião, em sua vida, pela forma acima declarada. Por Decreto de 21 de Maio de 1892. Etc.”
Omito o seu nome em respeito aos descendentes, que estão vivos.
Pois bem.
Este senhor foi casado em 2ª núpcias com a irmã de minha avó materna, que morava na rua Barroso, etc,
Ela em vida era minha protetora com uma mesada para eu comprar os livros de literatura e assim fiz uma bela biblioteca que depois perdi. Herdei também alguns livros do Visconde.
O Visconde, que aparece no meu romance “Teatro Amazonas”, deve ter sido muito rico.
Gostava de música, era patrocinador de artistas de sua época, tocava violino e possuía um Guarneri, um violino.
É esse violino Guarneri que eu conheci muitíssimo bem, pois era o violino que estava com meu pai, que viajava com ele pelos rios do Amazonas, e com que tocava as Partitas de Bach.
É o violino se descreve no “Amante das Amazonas”, nas mãos de Frei Lothar.
Esse Guarneri desapareceu, infelizmente, como tudo que pertencia ao luxo das coisas do passado amazonense.
Talvez tivesse um inestimável valor.
Não sei.