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Minha vida, a política

 

Rogel Samuel

 

Cresci politicamente na Democracia de Jango, sobrevivi à Ditadura, assisti ao incêndio da UNE, estava no prédio da Faculdade cercada por tropas federais e estaduais. Sou filho da política. Por isso, lastimo que não tenha assistido ao comício de ontem por causa da chuva,  do frio, da idade. Minha participação política hoje é de blogueiro, de internauta.

Nenhum canal de TV mostrou o comício, é claro (com Lula e Dilma?). E é pena que nem a Internet tenha transmitido. Isto é algo que em breve se dará.

Naquela época, não assisti ao comício das Diretas-já porque a diretora da escola, mulher de extrema direita, disse que daria falta aos professores do dia. Aproveitei para fazer um comício em sala de aula, descrevendo a importância da Democracia na nossa vida, e quase apanhei, os alunos se rebelaram, alunos pobres, curso noturno do Colégio Amaro Cavalcante, no Catete, disseram que eu era professor de português, não de política, enfim, um sufoco. Seria curioso, o grande comício lá fora, clamando pelas Diretas, e eu apanhando dos alunos por defender a Democracia.

Mas Democracia é isso mesmo, você sofre na luta, mas depois a História avança, o salário mínimo aumenta, as pessoas melhoram de vida, saem da miséria.

Mas eu sofro, até hoje, quando minha amiga V. diz que não vai votar porque passou dos 70 anos, e “não precisa mais”. As mulheres lutaram séculos pelo sagrado direito ao voto, e minha amiga diz com agressividade que “não votaria em ninguém!”.

É triste. É trágico.

Eu sofro quando o taxista me fica dizendo que tem saudades da época da Ditadura Militar, que só a Ditadura poderia tirar o país deste “mar de corrupção”!

- Mas os corruptos hoje podem ir para a cadeia, não naquela época, respondo.

Eu sofro, muito.

Sofro quando até professores universitários me dizem que não compreendem as alianças “espúrias”, que os políticos são “todos” corruptos, etc.

- Eles estão todos ricos! – há quem me diga. E eu continuo no atoleiro!

- Veja a situação da Saúde! – me acusam.

- Mas quem acabou com a CPMF? – pergunto eu.

- Aquele dinheiro não ia para a Saúde, gritam.

- Porque parte ia para as causas sociais, como bolsa alimentação, água e esgoto, e tudo aquilo que tem a ver com a Saúde da população.

- Isso é compra de voto! É uso do dinheiro público para eleger-se!

Aí eu me calo.