HISTÓRIAS DE ÉVORA - Capítulo XXI
Por Elmar Carvalho Em: 15/09/2016, às 10H30
HISTÓRIAS DE ÉVORA
Este romance será publicado neste sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem sendo escritos.
Capítulo XXI
Idílio
Elmar Carvalho
Marcos, conforme convite e recomendação feitos por Gracinha, após alguns dias, foi ao cabaré Montevidéu. Encontrou-a na sala, a conversar com a mãe. Pachola arranjara uma amigação como uma das mulheres que frequentavam o ambiente, e fora morar numa casinha, distante vários quarteirões, de modo que só aparecia à tarde, para resolver algum problema ou ajudar na arrumação de mesas e cadeiras.
O rapaz se manteve de forma discreta, a certa distância da madame, que se encontrava bem vestida e com vestígio de haver saído do banho há pouco tempo. Morena clara, de finos e lustrosos cabelos, que lhe desciam ondulados até o ombro, sua pele era fresca, macia, sem manchas, denotando muita limpeza. De seu corpo evolava suave perfume. Seu rosto era bonito, porém de feições regulares, sem nenhum traço de exotismo. De boa estatura, era ainda bonita, mas já começando a dar sinais de que tinha tendência a engordar.
Gracinha e Marcos entretiveram breve conversa. A mulher lhe perguntou acerca de algumas coisas do bairro e de como iam seus estudos. Como se não tivesse muito interesse, simulando certo descaso, indagou-lhe sobre suas paqueras e namoradas. Marcos respondeu que no momento não tinha nenhuma, ao que ela, sorrindo, retrucou:
– Mas não é possível... Um rapaz tão jovem e bonito, e com tantas garotas por aí, esperando por um namorado.
O rapaz, que não era nada bobo, tinha o seu tanto de ator, e se fez de encabulado. Baixou um pouco a cabeça, e fingindo hesitação:
– Pois é, para você ver, uns com tantas e outros sem nenhuma.
O jovem, alegando que tinha um problema a resolver no centro da cidade, disse que tinha que ir. Gracinha o acompanhou até o alpendre, quando lhe tomou as mãos, como se o toque fosse casual. Marcos, ante essa iniciativa, se voltou, e se curvou um pouco, como se lhe fosse dar um beijo convencional de despedida, mas, em premeditado erro de cálculo, lhe tocou os lábios.
Ela correspondeu e o abraçou, mas logo se afastou. O rapaz não insistiu, renovando apenas o tchau de despida. Ela, com um simpático sorriso, reiterou o seu convite de dias atrás:
– Não se acanhe; volte sempre. De preferência, pela manhã. Você será sempre bem-vindo.
Marcos, para se valorizar, resolveu retornar apenas na semana seguinte, no mesmo horário. Gracinha ficou muito alegre em revê-lo, e disso deu demonstrações com acolhedoras palavras e sorrisos, e com um delicioso suco de bacuri. Dona Lurdinha, não se sabe se por recomendação da filha ou se captando mensagem em troca de olhar, tratou de deixar a sala, e seguiu para o interior da antiga chácara.
A madame, sentada no sofá, começou a afagar a mão direita de Marcos. Às vezes, a beijava e lhe roçava os lábios carnudos e macios em seu dorso e dedos; outras vezes, a colocava entre as suas ou sobre o coração. O rapaz se levantou, tomou-lhe as mãos e a fez se levantar. Abraçou-a e a beijou com intensidade. Após breve intervalo, Gracinha se afastou de seu corpo, contudo sem lhe soltar as mãos. Marcos quis conduzi-la para o quarto que sabia ser o dela, mas sob o pretexto de que sua mãe poderia retornar, simulando recato de casta donzela, a madame o puxou em direção ao quintal, que era cheio de frondosas árvores.
Subiu ao galho baixo de um velho cajueiro, recostando-se no grosso tronco. Marcos subiu até onde ela estava, e começou a acariciá-la com ternura. Voltou a beijá-la com volúpia. Notou, porém, que a mulher, novamente fingindo pruridos de arisca virgem, não deixava que ele lhe encostasse o sexo, vibrante, vivo e intumescido, negaceando o corpo, aceitando-lhe apenas os afagos no rosto e os beijos.
Sequer permitiu que ele lhe explorasse os empinados, rijos e volumosos seios. Marcos se sentiu um poeta árcade, em cenário bucólico, a cortejar sua virginal “pastora”, ninfa dos bosques, musa de seus idílios e de suas odes líricas e castas. Próximo, ouvia-se o canto rascante e melancólico de uma cigarra, e, ao longe, um sabiá soltava seus melodiosos gorjeios.