(Despe)d(ida)

Por Dílson Lages Monteiro - editor de Entre-textos

Para Manuel do Rêgo Lages

“No centro do quarto, o corpo se despe das réstias de espírito. Mas não é apenas um corpo – é um coração des(colo)rindo nas faces o anúncio da ausência. No centro do quarto, jaz um corpo. E, para sempre, a lembrança.

Pesam as horas nas palmas da rede
E o olhar que pede o último abraço
Para braços de mais um corpo apenas

Desgarrando-se das garras do ar.

O quarto levita a tristeza
De rosto em rosto o ritmo da despedida
Da ida sem volta na voltagem da vida

Ou da morte do tempo finito.

O suspiro suspenso na breve passagem
De incertezas-paisagens como o corpo
Preso aos restos da carne.

A visão de vertigem procura a cura

Procura o filho-irmão-neto-esposa
O pai- a mãe – o avô procura
Os espíritos no pouso de depois se em(contra)r.

No centro do quanto o corpo do “coronel”
Vai (des)erdando e ardendo
Nos olhos-chaminés da tarde acesa.

Ás cinco horas certas do amém
E das mãos (re)colhidas
Nos olhos que se encerram além

da luz veloz do último adeus

Além
de onde Deus se esconde
deitado na grama das nuvens.