[Flávio Bittencourt]

Cognitivismo, psicologia, educação, inteligência: a doutrina piagetiana

Luciana Maria Caetano escreve sobre a teoria da epistemologia genética de Jean Piaget.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Tudo está fluindo. O homem está em permanente reconstrução; por isto é livre: liberdade é o direito de transformar-se."
(Lauro de Oliveira Lima)
 

(http://frases.netsaber.com.br/busca_up.php?l=&buscapor=Lauro%20de%20Oliveira%20Lima)

 

 

 

 

 

"O PEDADOGO BRASILEIRO LAURO DE OLIVEIRA LIMA,

UM DOS PRIMEIROS A APLICAR PRÁTICAS PIAGETIANAS

NO BRASIL, COMPLETARÁ 90 ANOS DE IDADE EM

12 DE ABRIL DE 2011: SAÚDE E VIDA ainda mais LONGA

AO PROF. DR. LAURO DE OLIVEIRA LIMA!"

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público",

observando-se que, ao final, está transcrita uma

entrevista concedida por esse notável educador

nascido em Limoeiro do Norte, Estado do Ceará, Brasil)

 

 

 

 

 

"(...) Piaget defende a teoria segundo a qual a nossa capacidade de conhecer o mundo e de aprender se desenvolve gradualmente, por etapas ou estádios. No estádio operatório-concreto, é suposto que a criança já seja capaz de compreender a conservação da matéria, percebendo que, por exemplo, a quantidade de líquido é a mesma, independentemente do recipiente em que está ou ter a noção de objecto permanente, percebendo que, mesmo escondido, um objecto não desaparece ou deixa de existir. Estas pequenas conquistas cognitivas, que para nós são banais, são fundamentais para o desenvolvimento da inteligência adulta. (...)".

(http://anotaki.blogspot.com/2008/11/cognitivismo-de-piaget.html)

 

 

 

 

 

"A criançada da pré-escola pode escolher: jogos, desenhos, pintura... e computador








 

 

 

 

 

INTEGRAÇÃO As máquinas disponíveis na sala são usadas para escrever e pesquisar. Foto: Andréa Cebukin"


(http://bisbilhotecarias.blogspot.com/2010/05/computadores-na-pre-escola.html)

 

 

 

 

el malentendido(http://blog.pucp.edu.pe/blog/SusanaFrisancho/catid/460/tag/Piaget)

 

 

 

 

Piaget

 

 

 

 

 

 

 

 

JEAN PIAGET

(http://blog.pucp.edu.pe/blog/SusanaFrisancho/catid/460/tag/Piaget)

 

 

 

Dibujito de Piaget

 

 

  

 

 

 

 

"(...) La teoría de Piaget es una teoría estructural que ofrece una descripción formal del conocimiento de los organismos humanos en diferentes momentos del desarrollo. Para Piaget, la esencia de la inteligencia se encuentra en las capacidades de razonamiento de los individuos. Estas capacidades son definidas en términos de las operaciones mentales, las que en general tienen las propiedades del grupo algebraico, y en particular, la propiedad de la reversibilidad. (...)"

(http://blog.pucp.edu.pe/blog/SusanaFrisancho/catid/460/tag/Piaget)

 

 

 

 

 

25.1.2011 - Gerações de jovens formados desde a pré-escola sob princípios piagetianos estão conquistando sucesso em sua vida profissional e pessoal - Mas há décadas já se percebia que crianças (antes do início da vida profissional, por conseguinte) JÁ VIVIAM MAIS FELIZES - e estamos falando agora de infantes que cursavam - e cursam, hoje - escolas piagetianas.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])



 

"A epistemologia genética de Jean Piaget

Por Luciana Maria Caetano

Jean Piaget nasceu na Suíça, na cidade de Neuchâtel, em 1896. Considerado uma criança precoce, desde cedo demonstrou interesse pela observação da natureza e pela organização sistematizada dos dados coletados, tanto que aos onze anos publicou um pequeno artigo científico a respeito de suas observações de um pássaro albino. Durante sua adolescência, trabalhou como assistente do diretor do Museu de História Natural de Neuchâtel, onde se interessou e estudou malacologia, chegando a publicar vários artigos sobre o tema, os quais tiveram notório reconhecimento pela comunidade científica.

Ainda na adolescência, influenciado pelo padrinho, que era professor de filosofia, iniciou os estudos, especialmente interessado pelas questões epistemológicas, que o acompanhariam por todo o seu trabalho como pesquisador. Entretanto, precisou escolher entre a biologia e a filosofia aos 18 anos, para definir a sua profissão. Optou pela formação universitária em biologia e aos 20 anos doutorou-se em malacologia. Piaget, desde a adolescência, desejou criar uma teoria biológica do conhecimento, e, perseguindo esse ideal, acabou buscando na psicologia da inteligência o meio termo para os seus interesses biológicos e epistemológicos. A psicologia é a ciência que investiga o comportamento humano e, portanto, investiga como o ser humano aprende e se apropria do conhecimento. Especialmente, admite o método experimental de pesquisa, fato que chamou a atenção de Piaget.

Piaget recebeu um convite para trabalhar no laboratório de Binet (já falecido), tendo como chefe Simon, que também não permanecia no laboratório. Através do trabalho de padronização dos resultados de testes de inteligência, Piaget encontrou um espaço de trabalho privilegiado, no qual pôde analisar não os resultados dos testes, mas a regularidade das respostas das crianças e a análise verbal do raciocínio delas. O encontro com a criança levou Piaget a retornar à Suíça (1921) trazendo consigo esses dados interessantes que dão início à construção da Teoria da Epistemologia Genética. Piaget elaborou um método próprio de pesquisa, o método clínico, e iniciou sistematicamente as investigações sobre o desenvolvimento infantil e a construção da inteligência.

O autor produziu uma vasta obra, com mais de 50 livros e 300 artigos. O seu trabalho teve rápida repercussão mundial, o que aconteceu quando Piaget ainda era jovem e publicava os seus primeiros livros, que representavam, na verdade, um esboço da Teoria Epistemológica Genética. Ele recebeu mais de 30 doutoramentos honoris causa, foi diretor do Instituto Jean Jacques Rousseau, na década de 1920, sub-diretor geral da Unesco na década de 1940, encarregado do Departamento de Educação da Suíça, professor universitário. Depois de mais de 60 anos dedicados à pesquisa, Piaget faleceu em Genebra em 1980. Os seus estudos foram replicados em um número significativo de países e a sua teoria ainda é utilizada como fundamentação teórica de pesquisas contemporâneas em psicologia em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. Mas quais as principais ideias da Teoria Epistemológica Genética de Jean Piaget?

Epistemologia Genética

Inicialmente, é importante explicar o nome da teoria de Jean Piaget. As questões epistemológicas interessaram a Piaget desde sua juventude. A epistemologia é utilizada comumente para designar o que chamamos a teoria do conhecimento. O objetivo da pesquisa de Piaget foi definir, a partir da perspectiva da biologia, como o sujeito passaria de um conhecimento menor anterior para um nível de maior conhecimento. O problema que buscou solucionar durante toda a sua vida de pesquisador e que fez dele um teórico e autor conhecido e respeitado mundialmente, foi o da construção do conhecimento pelo sujeito, o que o fez, partindo da biologia, estudar filosofia, epistemologia, lógica, matemática, física, psicologia, entre outras ciências.

A formação inicial de Piaget na biologia influenciou todo o desenvolvimento da sua teoria, primeiramente, na perspectiva dos instrumentos científicos utilizados por ele como comprovadores empíricos, sempre baseados em métodos científicos rigorosos, isto é, possíveis de serem replicados. A outra influência da biologia na teoria piagetiana diz respeito à concepção de inteligência enquanto algo ligado à ação e à adaptação ao meio. A principal obra do autor que expõe esse assunto é o livro intitulado Biologia e conhecimento.

Tal modelo teórico explica o desenvolvimento da inteligência, tendo como conteúdo básico a ação do sujeito que interage com os objetos, construindo, a partir dessas ações, formas e/ou estruturas de inteligência que lhe permitem, cada vez mais, adaptar-se ao mundo em que vive. Os trabalhos do autor, na psicologia, conduziram-no à ideia da utilização do modelo lógico-matemático como meio de análise e instrumento de descrição do funcionamento e do desenvolvimento da inteligência.

Essa é uma das questões principais que fazem da sua teoria uma das referências para a compreensão do homem moderno. Não houve nenhum cientista depois de Piaget que elaborasse como ele um modelo formalizado, utilizando a linguagem lógico-matemática (o agrupamento e o grupo INRC) para explicar o desenvolvimento e a organização das estruturas cognitivas do ser humano. Trata-se de um modelo universal, refutável, hipotético-dedutivo, para explicar o funcionamento das estruturas mentais orgânicas (não passíveis de serem observadas), responsáveis pela inteligência e pela construção do conhecimento pelo ser humano.

Assim, compreende-se o motivo de Piaget ter pesquisado o desenvolvimento humano a partir do estudo e observação de bebês, crianças e adolescentes; por conceber esse estudo como o mais apropriado para as suas investigações a respeito da gênese do conhecimento e para demonstrar empiricamente e explicar o seu modelo teórico de construção da inteligência. Essa é, portanto, a explicação do título da sua teoria: Epistemologia Genética.

Para o autor, o conhecimento não pode ser simplesmente imposto pelo meio ao sujeito, como um reflexo das propriedades do ambiente (empirismo), tampouco estaria inteiramente pré-formado no sujeito, apenas aguardando a maturação (apriorismo). A outra novidade da sua teoria é a abordagem empirista que explica que a construção do conhecimento pelo ser humano é fruto das interações do sujeito com o seu meio. Nas palavras da professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Zélia Ramozzi Chiarotino, responsável por introduzir, do ponto de vista da Teoria do Conhecimento e da Epistemologia, as ideias de Jean Piaget no Brasil: “Resumindo: de um lado, temos o organismo com suas possibilidades; de outro, o meio que o solicita”.

Segundo a Teoria Epistemológica Genética, conforme surgem solicitações do meio, as estruturas da inteligência vão se construindo e, a partir de novas solicitações, o sujeito tem a possibilidade de reorganizá-las, vivenciando constantes mecanismos de assimilação de novos objetos a esquemas já existentes e mecanismos de ampliação do conhecimento denominados acomodação. O resultado das sucessivas assimilações e acomodações é chamado por Piaget de equilibração (conceito central da sua teoria construtivista do conhecimento). Assim, quando as estruturas que o sujeito já construiu não lhe permitem assimilar um novo objeto de conhecimento, isto é, determinado objeto é resistente, provoca uma perturbação no sujeito, o desequilíbrio é desencadeado.

Para o autor, o recém-nascido traz consigo condições de vir a se tornar inteligente e, conforme age sobre o mundo, constrói estruturas que lhe permite cada vez mais se adaptar às novas situações, de maneira a construir estágios sucessivos de desenvolvimento. Uma das principais tarefas da Teoria da Epistemologia Genética foi exatamente estabelecer o caminho da inteligência, desde o nascimento até a possibilidade do raciocínio abstrato do adulto.

Os estágios do desenvolvimento da inteligência apresentados pela teoria psicogenética são assim denominados: o sensório-motor (da inteligência prática), o operatório concreto (que se constitui inicialmente de uma inteligência intuitiva e depois operatória, baseada na reciprocidade do pensamento) e o estágio formal (quando se pode agir e pensar sob hipóteses e abstrações). Esses estágios talvez sejam o aspecto mais conhecido da sua teoria. Infelizmente, também são fonte de algumas críticas mal fundamentadas ao seu trabalho, como, por exemplo, o fato de que Piaget teria investigado apenas os seus filhos, no caso do estágio sensório-motor, ou que “as crianças de Piaget” eram “meio atrasadas”, uma vez que algumas pesquisas encontram respostas relativas a determinado estágio em crianças com menos idade do que aquelas apontadas por sua teoria.

As provas piagetianas de diagnóstico do nível operatório – instrumentos de pesquisa elaborados pelo autor como método para investigar o nível de desenvolvimento cognitivo da criança – foram replicadas em muitos países e em diferentes estudos, e os resultados dessas investigações são exatamente similares àqueles apontados por Piaget, especialmente no que diz respeito ao caráter sucessivo (e não cronológico) e integrativo dos estágios, porque cada um deles é necessário para a formação do seguinte.

Infelizmente, os estudos de Piaget são tão complexos e influenciaram tanto os conhecimentos na área da psicologia, especialmente a psicologia de desenvolvimento humano e a psicologia da criança, que qualquer tentativa de resumir ou explanar a sua teoria acaba muito aquém da genialidade da proposta do autor. Talvez seja interessante e de grande importância, então, citar o título de três obras do autor: Seis estudos de psicologia (1964), Psicologia da criança (1970) e Epistemologia genética (1970). Tais livros foram uma resposta de Piaget a solicitações que lhe foram feitas para que escrevesse um resumo de sua teoria, a fim de que ela pudesse se tornar mais acessível a um número maior de pessoas. Essa é mais uma prova da notoriedade de sua teoria e do reconhecimento de suas ideias pela comunidade científica e uma grande dica para o leitor que quiser aprender um pouco mais sobre a Teoria Epistemológica Genética.

Piaget e a educação

O objetivo, aqui, é também apresentar ao leitor um Piaget bem mais desconhecido, mas cujas contribuições não podem ser de maneira alguma negligenciadas, num texto que se propõe a apontar a sua teoria como de importância significativa para a compreensão do mundo moderno. Que essas últimas linhas descrevam um pouco do Piaget educador.

Desde a adolescência, Piaget guardava uma preocupação com os valores éticos e acreditava que somente pela educação se poderia regenerar a sociedade. Esse seu empenho humanista pode ser observado nas suas atividades de ensino e em sua atuação em órgãos como a Unesco. Para compreender a evolução do pensamento da criança com relação a valores universais, como respeito e justiça, e suas relações com as regras e a autoridade, Piaget também elaborou estudos de notável importância.

Embora Piaget tenha uma produção menos expressiva nessa área, uma vez que a vasta obra do autor tenha se direcionado para os estudos epistemológicos e cognitivos, também no campo da moralidade, Piaget foi “um poderoso pensador”, pois embora tenha produzido apenas uma obra, O juízo moral na criança (1932), tal livro prestou-se como fundamentação teórica para a maior parte das pesquisas posteriores, como, por exemplo, as pesquisas de Lawrence Kohlberg nos Estados Unidos. Segundo Yves de La Taille, professor da Universidade de São Paulo e prefaciador da edição brasileira do livro, essa obra isolada do autor a respeito da moralidade traz três características ilustrativas do “poder” dos conceitos de Piaget: “a originalidade das pesquisas, a abrangência das análises e a articulação da moralidade com os demais aspectos do universo psicológico”.

Para Piaget, a criança, ao se relacionar com outras crianças e com os adultos, constrói o conhecimento das regras que organizam a convivência com o outro e consigo mesma. O autor explica que a educação moral é fruto das relações que os adultos estabelecem com as crianças, uma vez que os pequenos nascem sem qualquer conhecimento sobre o certo e o errado. Todo ser humano, até os seus 2 ou 3 anos, desconhece as regras morais e, por isso, o autor chamou essa fase do desenvolvimento infantil, em relação ao desenvolvimento moral, de anomia. Entretanto, ele explica que o processo da gênese da moral se inicia com o sentimento de obrigação que a criança desenvolve em relação aos mais velhos, especialmente aos seus pais e professores, pois as crianças pequenas nutrem pelos mais velhos, pais e professores, uma mistura de sentimentos: afeto e temor, a que o autor chama de respeito e que para ele é o sentimento de ingresso da criança no mundo da moralidade.

Portanto, a partir do sentimento de respeito (amor e temor) que a criança pequena sente pelo adulto, ela inicia um processo de imitação das regras recebidas dos outros e utilização individual desses exemplos recebidos, sendo que a fase da anomia é substituída pela moral, que o autor denominou heterônoma, porque dependente das regras e dos modelos dos mais velhos que convivem com a criança. Esse momento se constitui na gênese da moral na criança e pode ser também denominado de moral da obediência. O respeito que a criança sente em relação ao adulto é exatamente o sentimento de obrigação que a leva a obedecer às regras propostas pelos mais velhos, devido à relação assimétrica que estabelece com eles, por isso, esse respeito é chamado unilateral.

É preciso lembrar que o conteúdo básico da teoria psicogenética de Piaget é a ação do sujeito que interage com os objetos, construindo, a partir dessas ações, formas e/ou estruturas de inteligência que lhe permitem, cada vez mais, adaptar-se ao mundo em que vive; o objeto do conhecimento, no que diz respeito à educação e ao desenvolvimento moral, são as regras ou limites. Mas, por se tratar de um conhecimento social, ou seja, aprendido a partir dos exemplos e da orientação recebida dos mais velhos, pressupõe, então, o trabalho educativo.

A questão é que esse trabalho nem sempre é bem realizado pelos adultos. Por um lado, porque a maioria dos adultos nada conhece a respeito do desenvolvimento moral infantil e, por outro lado, porque a maioria dos adultos também é considerada heterônoma, ou seja, embora adultos, ainda dependentes de estereótipos ou outros tipos de motivações externas para agir de forma adequada. O sujeito obediente não é livre para pensar por si mesmo. Não é autônomo.

Dessa forma, a grande novidade que a teoria piagetiana apresenta para os estudos de educação moral diz respeito à moral autônoma. Para o autor, os adultos, reconhecendo o seu papel na formação de personalidades autônomas, deveriam preocupar-se em estabelecer com as crianças relações de respeito mútuo, ou seja, um tipo de relação social que denominou cooperação, que, em substituição às relações de coação, poderia conduzir à superação da heteronomia (moral da obediência).

O Piaget desconhecido pela maioria das pessoas é, portanto, esse homem que se interessou pela educação a partir de sua preocupação com os valores éticos, o que o conduziu a pensar em uma educação da pessoa na sua totalidade, considerando a educação da inteligência e da moral como objetivos indissolúveis e que teriam por função a formação para a autonomia e para a cidadania. O autor pensava que através das relações de cooperação, poder-se-ia educar os povos para viverem em harmonia, compreendendo-se mutuamente e resolvendo seus conflitos através da negação do absolutismo. Em suas palavras:

A ideia que defendemos é bem mais concreta: trata-se apenas de criar em cada pessoa um método de compreensão e de reciprocidade. Que cada um, sem abandonar seu ponto de vista, e sem procurar suprimir suas crenças e seus sentimentos, que fazem dele um homem de carne e osso, vinculado a uma porção bem delimitada e bem viva do universo, aprenda a se situar no conjunto dos outros homens. (Piaget, 1934, em “É possível uma educação para a paz?”)¹

Essas são as palavras do próprio autor, escolhidas para finalizar este texto. Porque a ideia é que, se a expectativa de que este texto cumpra o seu papel de apresentar a importância da Teoria Epistemológica Genética para a compreensão do homem moderno não for atingida, ao menos, que as palavras de Piaget provoquem a perplexidade. Que o convite do autor para a defesa de uma educação que priorize compreensão e reciprocidade, fatores alcançáveis levando-se em consideração a condição necessária mas não suficiente do raciocínio desperto, portanto, do desenvolvimento da inteligência, faça o leitor querer conhecer mais sobre a Teoria da Epistemologia Genética de Jean Piaget.

Luciana Maria Caetano é doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP, autora de O conceito de obediência na relação pais e filhos e professora do curso de pedagogia da Universidade São Francisco.
 

1 - Parrat, S. e Tryphon, A. (1998). Piaget sobre a pedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo".

(http://www.oei.es/divulgacioncientifica/noticias_428.htm)

 

 

 

 

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"Lauro de Oliveira Lima

'Sempre fui um educador'

A sabedoria dos 88 anos. Nesta entrevista, o educador Lauro de Oliveira Lima conta o que aprendeu na escola de mestre Zé Afonso, no seminário, nos livros de Piaget, na vida. E, caminhando para os 90 anos, permanece incansável, levando a bandeira de uma educação renovada

Ana Mary C. Cavalcante
da Redação

11 Mai 2009 - 00h50min

 
A biografia do professor Lauro de Oliveira Lima, como ele próprio gosta de contar-se, tem início no ano de 1921, quando o paulista Lourenço Filho vem ao Ceará para instalar o Instituto de Educação. Ou quando, na Suíça, o filósofo Jean Piaget escreve suas primeiras teorias pedagógicas. O menino de Limoeiro do Norte, terra de mestre Zé Afonso, já nasceu grande. “Sempre fui um educador”, resume, nesta entrevista.

Aos 88 anos, ele não tem lembrança de outro destino na vida. Do bê-á-bá com mestre Zé, pulou para o seminário e inventou uma escola. Pousou ali. “Quando sai do seminário, fui ser professor do colégio da cidade. E a Elisabeth foi aluna desse colégio. Começamos a namorar, ela, aluna da escola e eu, professor”, enlaça.

Lauro se casou com a neta do educador Agapito dos Santos, moça prendada e inteligente. E deu origem a uma família de pedagogos. São sete filhos, que aprenderam a gostar de ler ouvindo o pai narrar Monteiro Lobato e, hoje, mantém o Centro Educacional Jean Piaget (Rio de Janeiro) e o Colégio Oliveira Lima (Fortaleza). Mesmo quem se formou em Análise de Sistemas, como o caçula, envolveu-se com o grande amor do pai.

O professor Lauro manteve-se (mantém-se) fiel à educação. Durante o período da ditadura militar brasileira, por exemplo, foi aposentado aos 43 anos e respondeu a inquéritos que o acusavam de subversivo. Ele nunca entendeu o exílio dentro do País. “Papai era uma pessoa contundente, de brigar pelas idéias... Para ele, tinha que mudar a base: a alfabetização, o ensino fundamental”, explica Ana Elisabeth, a filha com quem divide um recanto, no Recreio dos Bandeirantes (Rio).

É Elisabeth quem faz a mediação, nesta conversa por telefone celular. “Ele não gosta de usar o aparelho (que possibilita a audição), mas, comigo, ele usa!”, prometia, dias antes. De fato, no horário marcado, o professor se colocou pronto para ser sabatinado. E respondeu, a seu tempo e modo, todas as questões. Inclusive, as do novo vestibular, proposto pelo Ministério da Educação: “Não acho que o Ministério tenha uma proposta, realmente, de importância para isso, não. Acho que é mais uma novidade, para dizer que mudou”.

No caminho para os 90 anos, o professor permanece incansável, levando a bandeira de uma educação renovada. “Falta visualizar uma equipe que lidere a educação no País”, sublinha. E vai todos os dias à escola da família, no Rio, ter com as crianças, os jornais e as revistas. Continua fiel a si. “Teimosíssimo, só faz o que quer”, delata a filha Elisabeth. Resiste tanto ao aparelho auditivo quanto à fisioterapia. E bebe sempre da fonte da juventude. “Ele gosta muito de conversar com o João, um neto dele que tem 14 anos... Do ponto de vista intelectual, papai deve ter uns 18 anos”, desenha Elisabeth.

O POVO - O senhor é menino de Limoeiro do Norte. Que retratos o senhor guarda de sua infância, de seus pais, das suas descobertas do mundo?
Lauro de Oliveira Lima - Eu fiquei em Limoeiro, desde menino até 15 anos. De maneira que a minha lembrança infantil é até os 15 anos de idade. Os meninos do sertão vivem, tremendamente, todos os momentos. De maneira que eu me lembro de toda a minha infância, até os 15 anos de idade.

OP - O senhor era um menino muito danado? Qual a melhor memória que o senhor tem do sertão?
Lauro de Oliveira Lima - O menino sertanejo, cedo, começa a participar da vida. Eu, então, fui um menino que, por exemplo, ia deixar o pasto... O que acontecia, o menino era participante.

OP - O senhor nasceu no Interior da década de 1920. Como aprendeu a ler e a escrever?
Lauro de Oliveira Lima - Os meninos da cidade aprenderam a ler com o mestre Zé Afonso - que era já bem velho, paralítico. Ele ficava sentado numa cadeira e os meninos, nos bancos, em torno dele. E a gente ia, de um por um, lendo para ele ouvir. Que eu me lembre, devia ter uns 20 meninos na classe.

OP - E existia a palmatória, nessa educação com o mestre Zé Afonso?
Lauro de Oliveira Lima - Ah, a palmatória era fundamental! Às vezes, a gente levava bolo só porque era o método... Eu, sem ter feito nada, o professor dava quatro bolos na gente (risos). De maneira que não era só um castigo, não. Era um modelo de convívio entre o mestre e os alunos.

OP - Na sua biografia, o senhor faz questão de dizer que nasceu no ano em que o paulista Lourenço Filho esteve no Ceará para reformar o ensino elementar e instalar o Instituto de Educação. Desde criança, o senhor já pensava em ser professor?
Lauro de Oliveira Lima - Não, olhe, eu fui um menino, assim, totalmente, vivendo a vida da cidade, eu era danado e tal... Então, quando completei a idade de 12 anos, fui para o seminário, em Jundiaí, São Paulo. E lá eu passei cinco, seis anos, sendo trabalhado pelos padres. Quando sai, já era rapazinho, então, na hora em que cheguei a Limoeiro, comecei a lecionar na escola que existia.

OP - Mas o senhor tinha outros planos quando era criança? Imaginava ser o quê?
Lauro de Oliveira Lima - Não me lembro... Menino sertanejo, a gente não tinha grandes aspirações. Sei que aos 12, 13, 14 anos fui para o seminário. E lá eu ia ser padre. É lógico que meu pai e minha mãe achavam importante eu estar no seminário porque eu iria ser padre. Mas, quando cheguei numa idade mais avançada, sai do seminário, voltei pra Limoeiro. Sai do seminário com quase 20 anos. Em Limoeiro, comecei logo a lecionar na escola primária da cidade. Até então, a escola era só do mestre Zé Afonso, da palmatória. E eu comecei a lecionar já numa escola, mais ou menos, avançada.

OP - O senhor era um professor exigente? Usava a palmatória?
Lauro de Oliveira Lima - Não. Quando comecei a ser professor, a palmatória já tinha sido abolida pelo MEC (Ministério da Educação). As duas: a palmatória preta, que era violenta, e a vermelha, que era mais modesta.

OP - E o que o seminário lhe ensinou? Como lhe ajudou na sua formação de professor?
Lauro de Oliveira Lima- No seminário, fui o primeiro aluno, sempre. De maneira que eu era um camarada apto a lecionar. Acho que ele me preparou para o magistério.

OP - A educação também fez parte do seu destino amoroso. O senhor se casou com a neta do educador cearense Agapito dos Santos. Como conheceu a professora Elisabeth e o que ela tinha que as outras moças da época não tinham?
Lauro de Oliveira Lima - Minha mulher era neta do Agapito dos Santos - que foi o educador mais importante da cidade, né? Ele é que lecionou as gerações todinhas. Alcides Santos (Alcides de Castro Santos nasceu em 1889 e era filho do político e professor Agapito dos Santos. Estudou na Europa e fundou o Clube Fortaleza - embrião do Fortaleza Esporte Clube) era o pai dela. De maneira que eu tive uma vida, mais ou menos, importante porque era casado com a filha do homem mais importante da cidade.

OP - E como vocês se conheceram?
Lauro de Oliveira Lima - Quando sai do seminário, fui ser professor do colégio da cidade. E a Elisabeth foi aluna desse colégio. E foi minha aluna, assim que ela entrou no colégio. Nós começamos a namorar, ela, aluna da escola e eu, professor.

OP - Ela era boa aluna?
Lauro de Oliveira Lima - Ela tinha estudado no Rio de Janeiro (onde fez o curso Ginasial no Colégio Sacre-Coeur Marie, de praxe na sociedade daquele tempo. Neste momento da entrevista, a ligação fica entrecortada. Mas o fato é que, depois do Ginasial, dona Elisabeth voltou ao Ceará e fez o Curso Normal no Colégio Farias Brito. Dali partiu para o curso de Pedagogia na Universidade Católica do Ceará e para o Curso de Especialização em Orientação Educacional). Então, comecei a namorar a ex-aluna do Sacre-Coeur Marie.

OP - O que ela tinha de tão especial que conquistou o senhor?
Lauro de Oliveira Lima - Bem, ela era filha de Alcides Santos, uma moça prendada, respeitada, querida. De maneira que namoramos porque ela foi ser minha aluna. Eu pobre e tal, e ela, a princesinha.

OP - Aí, no meio do caminho, houve o golpe militar de 1964. O que significou a ditadura para o senhor e sua família?
Lauro de Oliveira Lima - Eu fui uma das pessoas perseguidas pelo golpe militar. Não tinha explicação por que os militares me perseguiram. Hoje, não sei explicar porque fui tão perseguido durante a época militar. Eu já tinha filho, já estava casado, de maneira que foi uma coisa dolorosa, para nós, sobreviver perseguidos. Eu perdi meu emprego e lembro que minha mulher assumiu a casa, durante alguns anos. Foi um período, tremendamente, doloroso, esse período em que eu não podia trabalhar porque era perseguido pelos militares.

OP - Como o senhor vivia, com sua família grande, nessa época, já que não tinha emprego?
Lauro de Oliveira Lima - O trabalho todo foi feito pela Elisabeth. Ela se empregou na Funabem (antiga Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, criada em 1964) e numa escola particular, de maneira que ela tinha o salário de professora para poder manter a família. Manter é maneira de dizer, com a maior dificuldade. E eu vivia ocioso porque não podia ter um emprego, que os militares não deixavam.

OP - E como o senhor deu a volta por cima?
Lauro de Oliveira Lima - Então, eu inventei a dinâmica de grupo, como atividade de treinamento e comecei a aplicar em várias instituições. Foi assim que me mantive.

OP - Antes, na década de 1950, o senhor cria o Ginásio Agapito dos Santos - que lhe torna um dos reformuladores da nossa educação. Naquela época, o que precisava ser mudado, o que precisava se tornar moderno?
Lauro de Oliveira Lima - O próprio fato de ser criado o Ginásio Agapito dos Santos significava uma renovação pedagógica. Não tem, assim, “adotou um método e tal”... Eu, sendo um educador, reconhecido e respeitado, era o diretor do novo ginásio e fui logo aceito pela comunidade dos pais.

OP - O senhor poderia explicar qual era sua proposta de educação?
Lauro de Oliveira Lima - Não sei dizer, não. O fato de eu fundar um ginásio já era um avanço tremendo. Porque, até então, na cidade só tinha a escolinha do mestre Zé Afonso, velhinho, que dava aula em uma roda, os meninos sentados nos bancos. Paralítico, ele sentava em um banco, ficava arrodeado de meninos, com a palmatória e tal. Quem não sabia, ele mesmo aplicava a palmatória.

OP - E como o senhor foi reformando essa escola?
Lauro de Oliveira Lima - Quando fiquei mais adulto, inventei o método de dinâmica de grupo e comecei a dar essa atividade para várias cidades do Brasil. A dinâmica de grupo era uma novidade inventada por mim.

OP - O senhor teve a influência do filósofo Jean Piaget, que era um dos seus livros de cabeceira...
Lauro de Oliveira Lima - A uma certa altura da minha vida profissional, ganhei de presente um livro de um autor suíço que era a vida de Piaget. E, através dele, eu aprendi Piaget... E Piaget não era conhecido, eu que traduzi Piaget no Brasil.

OP - Então, para inventar seu próprio método de ensino, foram muitos anos de pesquisa...
Lauro de Oliveira Lima - Quando sai do seminário, comecei a lecionar e já comecei a falar em Piaget, pelos livros que me deram de presente, e conhecia Piaget teoricamente. De maneira que a transição entre a minha iniciação no ensino e a metodologia foi imperceptível.

OP - Qual a base do seu método de ensino?
Lauro de Oliveira Lima - Eu inventei a dinâmica de grupo, que é um trabalho que tem um grupo de alunos... Eu trabalhava com 25 alunos, em várias cidades, e esses alunos debatiam entre si. Eu era mais um supervisor - não era, propriamente, uma pessoa que desse aula. Eu fazia os grupos se reunir e conversar entre si. Daí nasceu o método dinâmica de grupo. Os grupos criavam situações que tinham que debater e resolver, eles mesmos inventavam métodos de pedagogia.

OP - Para o senhor, em que pontos a educação brasileira ainda precisa mudar, tornar-se moderna?
Lauro de Oliveira Lima - Não tem um educador, assim, como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, que ensinaram a gente, o pessoal da Escola Normal, das universidades... Falta visualizar uma equipe que lidere a educação no País.

OP - E as mudanças devem começar onde? No Ensino Fundamental, no Ensino Médio, no Ensino Superior?
Lauro de Oliveira Lima - A mudança fundamental é no primário, a maneira de lecionar. É a partir daí que se formam as equipes para o ensino superior.

OP - Agora mesmo o Ministério da Educação (MEC) discute, com as universidades federais, as mudanças no vestibular. Uma das principais justificativas dessa mudança é que ela vai repercutir no ensino médio, mudando a forma de ensinar e de aprender. Qual sua avaliação sobre o processo seletivo atual do nosso vestibular? E o senhor concorda com as mudanças propostas pelo MEC?
Lauro de Oliveira Lima - Eu estou acompanhando esse projeto de modificação do MEC. Vamos ver o que vai acontecer... eu não acho que o Ministério tenha uma proposta, realmente, de importância para isso, não.

OP - Em 1996, o senhor lançou um livro chamado Para que Servem as Escolas?. Eu gostaria de usar essa pergunta nesta entrevista: para que servem as escolas, professor?
Lauro de Oliveira Lima - A gente tem a impressão de que os livros que são postos à disposição do magistério não levantam os problemas fundamentais. Estamos em um período intermediário, que deve ser renovado por um educador que lidere o sistema escolar de maneira relevante.

OP - Por que a escola pública ainda não deu certo neste País?
Lauro de Oliveira Lima - Essa pergunta é difícil de responder... O que a escola faz, por exemplo, é que o professorado é levado a discutir problemas que não modificam a essência do ensino, a pedagogia.

OP - O senhor já caminha, incansavelmente, para os 90 anos. Qual a maior lição que a vida lhe deu?
Lauro de Oliveira Lima - (risos) A vida? Bom, eu sempre fui um educador. Quando sai do seminário, no dia seguinte, comecei a lecionar numa escola normal e daí para frente nunca deixei de ser professor. Então, eu não sei nem lhe dizer o que é bom ou ruim nos outros métodos, porque eu só tenho um método na vida.

OP - E foi feliz com essa profissão...
Lauro de Oliveira Lima - Eu fico feliz de ser um educador permanente e de estar sempre me renovando e pensando o processo pedagógico de uma maneira entusiasmada. E à medida que meus filhos foram crescendo, foram se tornando também pedagogos. De maneira que tenho uma família de pedagogos, o que me envaidece muito e me lembra que eu fui o iniciador.


PERFIL

Lauro de Oliveira Lima nasceu no dia 12 de abril de 1921, em Limoeiro do Norte (194,1 quilômetros de Fortaleza). Foi alfabetizado pelo mestre Zé Afonso, único professor por aquelas bandas. Para completar os estudos primários, migrou para um seminário em Jundiaí (São Paulo). De volta ao Estado, torna-se professor e noivo da neta de Agapito dos Santos (nessa ordem), Maria Elisabeth.

> Em 1945, o professor Lauro conquista o cargo de Inspetor Federal de Ensino, um dos braços do antigo Ministério da Educação e Cultura, passando a morar em Brasília. Exerce a função durante 20 anos. Em 1949, forma-se em Direito e, dois anos depois, em Filosofia.

> Seu trabalho como “reformador da educação” é exercido, plenamente, no Ginásio Agapito dos Santos - fundado por ele, nos anos 50. Influenciado pelos escritos do psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980), o professor Lauro idealiza o Método Psicogenético de ensino. O livro Escola Secundária Moderna (Inep, 1963) é uma das principais referências, entre as mais de 30 obras escritas por ele, dessa metodologia que considera o trabalho por equipes e a criação de situações-problema de acordo com o nível mental da criança.

> Perseguido nas décadas da ditadura militar brasileira, acusado de subversivo, muda-se para o Rio de Janeiro para responder aos inquéritos policiais. Sem mais emprego, o professor ocupa-se com seus pensamentos sobre educação. Traslada Piaget para o Brasil, em livros como Piaget para Principiantes e Uma Escola Piagetiana e, em 1972, cria o Centro Educacional Jean Piaget (Rio de Janeiro). A vida, então, recomeça.


E-Mais

> O filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) foi o professor fundamental para o educador Lauro de Oliveira Lima. Piaget, por sua vez, também cientista e psicólogo, dialogou com as teorias de Immanuel Kant, Herbert Spencer, Auguste Comte, William James, Theodore Ribot, Pierre Janet, Arnold Reymond, Sigmund Freud e Carl Gustav Jung.

> Piaget se dedicou ao estudo da inteligência e se tornou a principal referência em Epistemologia Genética. Para ele e seu método de ensino, a aprendizagem é um processo que começa no nascimento e vai até a morte do indivíduo. Ou seja, é necessário considerar as várias etapas do desenvolvimento humano.

> A teoria piagetiana sublinha: tudo o que aprendemos é influenciado por nosso repertório de conhecimentos. O ser humano não é apenas um repositório de informações; temos a capacidade (inteligência) para interagir com o saber exterior. “O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não, simplesmente, repetir o que as outras gerações fizeram”, defendia.

> As ideias de Jean Piaget também influenciaram estudiosos como o cientista social Jürgen Habermas, o pensador marxista Lucien Goldmann e a pedagoga Emília Ferreiro, por exemplo.

Tal pai, tal filho. Desde que o caçula nasceu, dá-se a confusão. Muitas entrevistas já buscaram o professor Lauro de Oliveira Lima e foram ter com herdeiro, Lauro Henrique de Oliveira Lima. Uma vez mais, foi o diretor do Colégio Oliveira Lima quem recebeu O POVO, na primeira tentativa de se entrevistar o professor Lauro. “Já sei, vocês querem falar é com meu pai, não é?”, respondeu ao desapontamento da repórter.

Mas não se deu viagem perdida ao Colégio Oliveira Lima. Lauro Henrique remexeu o baú da família e revelou histórias do tempo de infância. Contou um pouco da metodologia que o pai, educador, aplicava em casa: não havia mesada, mas cada um ganhava alguns cruzeiros se fizesse o resumo dos livros lidos. Assim, todos se tornaram leitores!

“Nossa casa é uma biblioteca, tem livro no banheiro! Somos cercados de livros e revistas”, ratifica Ana Elisabeth Santos de Oliveira, outra herdeira do professor Lauro. Ela lembra que o pai ensinava a não ser aquele aluno-primeiro-lugar. “Porque você está se adaptando ao sistema... O negócio era ler. Ele leu Monteiro Lobato para nós”, colore.

É a filha Ana Elisabeth que completa o pensamento do professor Lauro, ao fim da entrevista. “Para o papai, o computador é igual à máquina de calcular: não tem função pedagógica”, diz, sobre o ensino atual. A respeito das mudanças no vestibular das universidades federais, o professor costuma aconselhar: “O ministro (da Educação) deve estudar pedagogia”. “Para o papai, tem que treinar o professor e valorizá-lo”, destaca Elisabeth.

A ditadura militar é um longo capítulo na memória da família Oliveira Lima. No primeiro ano do golpe, recupera Ana Elisabeth, os filhos do professor Lauro foram reprovados no colégio. “Ficamos até traumatizados e recolhidos em casa”, diz. “E a escola era muito chata, ninguém podia dar opinião. E ninguém podia saber de quem éramos filhos”, completa.

Perseguido pelos militares, Lauro de Oliveira Lima perdeu o emprego no Ministério da Educação e só encontrou o rumo na década de 1970, quando desenvolveu o método educacional da dinâmica de grupo e fundou o Centro Educacional Jean Piaget. Ele não aceitou nem a ajuda do sogro, nem o exílio. 'Paulo Freire chamava, mas ele dizia que tinha muita dificuldade de sair do Brasil. E a gente ficou no Rio, mais ou menos, exilados', conta Elisabeth".