ELMAR CARVALHO

Na minha palestra no I Festival Literário das Águas, em Luzilândia, ao discorrer sobre entretenimento, disse que os audiovisuais dominam os consumidores de forma avassaladora, seja através da televisão, seja através da internet, ou ainda nas salas de exibição de filme. Na TV são exibidas as novelas, que alguns entendem como sendo uma espécie de literatura, algo semelhante aos antigos folhetins, que eram romances publicados de forma seriada a cada edição do jornal. Vemos ainda nesses meios de comunicação os clipes de música e, mais raramente, os de poemas, com legendas ou sem legendas. A música faz dobradinha com imagens, sejam fotográficas (fixas) ou cinematográficas, enquanto o poema pode ser divulgado de forma escrita e/ou falada, com acompanhamento de fundo musical e imagens. Referi-me às pavorosas músicas de hoje, de letras escabrosas, de péssimo gosto, de duplos sentidos, geralmente de cunho sexual grosseiro, muitas vezes ofensivas às mulheres, que ainda vão aplaudir esses “artistas”, que antes chamaria de empulhadores e impostores da arte musical, em suas apresentações pagas.

 

Observei que na virada do milênio, em que o imaginário popular se exacerba com catastróficas previsões apocalípticas de teólogos, místicos e mistificadores, ganhou terreno a literatura de auto-ajuda e a que explora o filão do misticismo, geralmente eivada de apelativas filosofias e sabedorias de vida, em que é explorada a religiosidade das pessoas mais simples e menos instruídas, de pouca visão crítica. Também dentro desse contexto pretensamente místico, surgiram umas crônicas de caráter edificante ou moralizante, como as antigas fábulas, que tinham uma lição de vida ou fundo moral, a chamada moral da história. Geralmente, são impregnadas de sentimentalismos e apelos emocionalizantes, não raras vezes citando conhecidos escritores e filósofos, com que pretendem dar lições de caridade, generosidade, perdão e sabedoria de vida. Nesse aspecto, parecem sucessoras dos textos dos antigos moralistas. Embora como literatura possam não ser grande coisa, contudo cumprem bem a sua finalidade utilitarista de disseminar as suas pregações.

 

Entretanto, pelo que tenho lido e observado, o leitor de internet não gosta de textos longos, talvez até porque lhes falte a comodidade e mobilidade que um livro impresso permite, porquanto pode ser lido com a pessoa sentada numa cadeira ou num vaso sanitário, deitada numa rede ou numa cama, sem necessidade de fios e de liga/desliga, de conexões, plugues e outras parafernálias. Desse modo, imperam na grande rede os textos curtos, superficiais, com muitas ilustrações, sejam fotográficas ou produtos da arte plástica. De qualquer sorte, os profetas do fim do livro de papel ainda não tiveram êxito em suas predições. Mas seja no suporte impresso, de papel, seja no suporte de um monitor internético, a literatura é feita com palavras, alinhavadas em frases, e terão que ser lidas do mesmo modo como sempre foram. Engenhocas estão sendo inventadas e aperfeiçoadas para a leitura dos chamados e-books, que tentam imitar o livro, seja na opacidade e textura da tela, no tamanho, peso e formato, e na mobilidade e comodidade, que pretendem proporcionar.

 

De minha parte, sem ganância, sem açodamento e forçações de barra, tenho divulgado meus textos, ao longo de muitos anos, através de diferentes modos e suportes, como jornais, livros, revistas, cartões postais, cartazes, baners, rádio, televisão, performances, clipes, blogs, sites, projetores, aparelhos de data show, etc. Mas sempre que houvesse receptividade e eu fosse bem-vindo ou bem-ido, e jamais como uma persona non grata, que estivesse querendo empurrar seus “produtos” goela abaixo do receptor/leitor.