Páginas atrás, afirmei que não considero a apropriação das libras esterlinas de Ifigênia Vellarde, por parte de Maria Caxinauá, como roubo. Reflito conscientemente que tal fortuna pertencia aos índios caxinauás e aos trabalhadores seringueiros (os quais eram escravizados pelo dono do Seringal), portanto, os verdadeiros fraudulentos que se apoderaram do alheio foram os invasores seringalistas, no princípio, filiados ao iniciante “capitalismo selvagem” de base familiar. Bem enlevada na extremidade de minha binária consciência reflexiva - refletindo os “juízos afirmativos” e os “juízos negativos” de minha própria realidade social, a realidade social deste início de século XXI, e propensa a “juízos de descoberta”, sejam eles vitais ou ficcionais (cf. Gaston Bachelard) -, entendo o “roubo” de Maria Caxinauá, assinalado ficcionalmente, pelo prisma do antigo descamisado e escravizado perdedor e atual ganhador.

 

 

Contudo, retomando a questão de difícil explicação - sobre a fortuna do personagem -, graças à sua inteligência comercial e ao casamento com a neta abastada de Maria Caxinauá, o ex-retirante Ribamar de Souza, torna-se uma personalidade no cenário político manauara, extensivo ao cenário político do Brasil, um momento, certamente e extratexto, de pós-Ditadura Militar (se me aproprio convenientemente das informações sublineares, referentes à passagem do tempo vital, decalcadas no romance). Nas páginas finais, o plenipotenciário da terceira fase da narrativa, aquele que centraliza poderosamente o relato, filia-se a um partido político da região e consegue elevar-se ao cargo de Senador da República, e de modo inclusivo “apontado como uma das figuras mais sólidas de Manaus e inimigo político do Comendador Gabriel e de seu ex-genro”.

O fogo da labareda da serpente

Sobre O AMANTE DAS AMAZONAS, de Rogel Samuel