Vivências literárias
Em: 03/02/2009, às 21H16
Por Antonio Carlos Rocha*
Para quem quer se iniciar na arte de ler bem e escrever bem, sugiro um pequeno grande livro de bolso: Como Se Faz Literatura, de Affonso Romano de Sant’Anna. Apenas 58 páginas, publicadas pela Editora Vozes, em 1985.
O bom desta obra, é que o autor conta alguns detalhes da vida de consagrados autores nacionais e internacionais. Affonso Romano de Sant’Anna dispensa maiores apresentações, registre-se apenas que foi professor da UFMG e quando eu era aluno de graduação, no Rio, ele veio somar com o excelente time de professores que aportavam ali, na Faculdade de Letras da UFRJ, na antiga Avenida Chile.
Vejamos alguns trechos das páginas 39, 40 e 41:
“Jorge Amado publicou No País do Carnaval aos 19 anos e começou já aí a fazer sucesso. Pôde viver de literatura bem cedo. É evidente que ter pertencido ostensivamente ao partido comunista ajudou na divulgação de sua obra no exterior, o que, por outro lado, dificultou a sua circulação aqui dentro, pois vários de seus livros foram recolhidos e queimados pela polícia de Getúlio Vargas.
“Graciliano (também membro do antigo PCB) se tornou conhecido porque, como prefeito de Palmeira dos Índios, AL, fez um relatório que foi lido por Augusto Frederico Schmidt, que suspeitou ali um escritor. Mas Graciliano quando publicou Caetés, já tinha 41 anos. A primeira edição de Macunaíma, de Mário de Andrade, em 1928, foi de 800 exemplares e o primeiro livro de Drummond, Alguma Poesia (1930), quando ele tinha 28 anos, foi de 500 exemplares e numa edição particular”.
“(...) José Mauro de Vasconcelos (até hoje ainda mal interpretado pela crítica) há um fenômeno que mereceria mais atenção. No caso de José Mauro de Vasconcelos, há inclusive um dado complicador. Eu vi seus livros em diversas livrarias nos Estados Unidos, Alemanha, Argentina, França e Itália. Quer dizer: fazia sucesso em diversas línguas e culturas. Logo, deve ter ali algum tipo de mensagem que encontra eco num tipo específico de público, que é universal. No mínimo, isto significa que ele conseguiu sintonizar seus sentimentos escritos com uma faixa de sensibilidade determinada. Não me consta que tivesse atrás de si um agente literário tão eficiente como os best-sellers americanos”.
José Mauro de Vasconcelos não era badalado pelos intelectuais, pela mídia da época; morava em Bangu, subúrbio do Rio de Janeiro. Aliás, dos 4 aos 11 anos residi ali perto, primeiro no Barata, depois em Realengo, até que mudei para a cidade satélite do Gama, DF. Saudosos tempos...
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.