Van Helsing do futuro

(Miguel Carqueija)

Um encontro de Bram Stoker com Isaac Asimov:

VAN HELSING DO FUTURO



    Seguiam velozes pela estrada, quando um cupê preto aproximou-se na maior velocidade e, após uma das curvas, os alcançou e abalroou, apesar dos esforços do motorista para escapar.
    Van Helsing e Otto saltaram de seu carro, depois de jogados para o acostamento. Helsing portava uma escopeta, embora realista quanto às possibilidades da mesma:
    — Isto não vai adiantar, Otto; é ele mesmo.
    O mordomo-motorista de Val Helsing era, até, menos corpulento que o caçador de vampiros. Conservou-se, porém, junto ao patrão, sem demonstrar medo.
    Drácula saltou de seu automóvel e veio vindo.
    — Então, finalmente o peguei, Helsing. Não conhecia este seu criado; ele parece ser bem fiel. Não que isso faça diferença, é claro.
    Helsing remexia em tudo quanto era bolso do sobretudo, inutilmente.
    — Não adianta — zombou o vampiro. — Aproveitando uma ausência de vocês, um escravo meu, humano, penetrou no quarto que ambos ocupavam, na estalagem, e removeu todos os truques do seu traje. Nada de crucifixos, rosários, alho ou estaca. Você está indefeso, Helsing. Agora finalmente eu o matarei.
     — Não se eu puder evitar — interveio Otto, surpreendentemente, pondo-se à frente do patrão.
    — Que bela fidelidade — escarneceu o nosferatu. — Mas, que adianta? Um vampiro tem a força de vinte homens, não esqueça. Aconselho-o a fugir; você não tem nada com isso.
    O conde avançou; Otto, porém, não se afastou e atracou-se com o vampiro, agarrando-lhe o pescoço. Então, espantosamente, Drácula foi subjugado e derrubado no chão.
    — Não pode ser... essa força...
    — Sim — esclareceu Val Helsing, com frieza. — Otto é um robô de forma humana, um andróide, e portanto a sua força é cem vezes maior que a de um ser humano; isso ainda o deixa com cinco vezes mais força que você.
     Desesperadamente, Drácula dirigiu-se ao autômato:
    — Você não pode me matar... as leis da Robótica...
    — Elas só se aplicam a seres humanos, não a vampiros — concluiu Otto, e terminou de quebrar o pescoço de Drácula.