Um pescador de Gaza resgata um Apolo de bronze de 25 séculos
Por Rogel Samuel Em: 20/02/2014, às 12H55
Um pescador de Gaza resgata um Apolo de bronze de 25 séculos
O Governo do Hamas criou um comitê para estudar a obra cujo valor oscilaria entre 15 e 30 milhões de euros
Carmen Rengel Jerusalém
Um pescador retirou das águas contaminadas e cercadas de Gaza uma estátua do deus Apolo de 1,8 metro e 500 quilos, feita em bronze entre os séculos V e I antes de Cristo, algo excepcional porque não existem precedentes de uma figura grega clássica de tamanho natural que não seja de pedra ou mármore em todo o Oriente Médio. O achado arqueológico do século na Faixa de Gaza ficou escondido entre cobertores dos Smurfs, foi mutilado – foram cortados vários dedos para levá-los a avaliadores –, posto à venda no site de leilões eBay, por 365.000 euros (1,2 milhão de reais), e finalmente confiscado pelo Governo do Hamas, que investiga sua origem e trabalha “em sua restauração e exibição”, diz o Ministério do Turismo e Antiguidades.
A história data de agosto, quando Jouda Ghurab, 26 anos, dois filhos, se lançou ao mar em busca de lulas e sardinhas. Uns cem metros mar adentro, quase tocando águas egípcias, viu o que pareceu ser um corpo queimado. Submergiu entre quatro e cinco metros e ali, sobre as rochas, encontrou o Apolo. Marcou a área com uma rede, buscou a ajuda de seis amigos e, cinco horas depois, a estátua estava em terra. Um dedo quebrou no caminho.
Um homem de bronze, cachos na testa e braços abertos foi levado à casa da família em Deir al Balah. Sua mãe tampou com determinação os órgãos genitais, contou à Bloomberg Businessweek. Começou, então, a consulta a um primo joalheiro, que acabou falando com amigos membros das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa – braço armado do Fatah – que levaram a figura em plena noite, em um caminhão puxado por um burro. Apolo ficou várias semanas em Beit Lahia, ao norte da Faixa de Gaza, escondido.
A existência da peça se tornou conhecida quando pessoas chegadas a Ghurab contataram Jawdar Khoudary, proprietário do hotel Al Mathaf (O Museu), um conhecido colecionador. “Mostraram-me um vídeo e eu percebi que era algo importante. Era preciso salvá-lo, evitar a corrosão, fazer uma limpeza de emergência. Por isso entrei em contato com as autoridades”, explica. Enquanto dava o alerta, a estátua era leiloada no e-Bay. Quem a quisesse teria de ir buscá-la em Gaza, dizia a ficha, num exemplo da loucura que acompanha essa história, já que a Faixa é um território fechado, do qual não se entra nem sai sem permissão, dificilmente conseguida.
Mohamed Khillah, subsecretário de Turismo e Antiguidades, confirma que “a investigação ainda está em andamento”, pois vários peritos locais manifestaram dúvidas sobre a permanência do Apolo na água. Pelas primeiras análises acreditam que proceda, na realidade, de uma escavação ilegal em terra. Foi criado um comitê para estudar a obra, o qual estimou seu preço entre 15 e 30 milhões de euros. Enquanto isso, está guardado no Ministério do Interior.
Khoudary ativou sua rede de amizades internacionais para que ajudem na restauração. O religioso francês Jean Baptiste Humbert já entrou oficialmente em contato com o Museu do Louvre, que demonstrou “interesse” em ajudar. O problema é que o Hamas é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia, por isso qualquer colaboração com seu governo seria alvo de sanções. Seu islamismo, além disso, levanta dúvidas sobre se um dia exporá essa peça tão única como impudica. Com 5.000 anos de história, lugar de egípcios, filisteus, romanos, bizantinos e cruzados, a terra pela qual Alexandre Magno lutou é hoje um ponto da memória sepultado pela política, guerra e pobreza
A história data de agosto, quando Jouda Ghurab, 26 anos, dois filhos, se lançou ao mar em busca de lulas e sardinhas. Uns cem metros mar adentro, quase tocando águas egípcias, viu o que pareceu ser um corpo queimado. Submergiu entre quatro e cinco metros e ali, sobre as rochas, encontrou o Apolo. Marcou a área com uma rede, buscou a ajuda de seis amigos e, cinco horas depois, a estátua estava em terra. Um dedo quebrou no caminho.
Um homem de bronze, cachos na testa e braços abertos foi levado à casa da família em Deir al Balah. Sua mãe tampou com determinação os órgãos genitais, contou à Bloomberg Businessweek. Começou, então, a consulta a um primo joalheiro, que acabou falando com amigos membros das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa – braço armado do Fatah – que levaram a figura em plena noite, em um caminhão puxado por um burro. Apolo ficou várias semanas em Beit Lahia, ao norte da Faixa de Gaza, escondido.
A existência da peça se tornou conhecida quando pessoas chegadas a Ghurab contataram Jawdar Khoudary, proprietário do hotel Al Mathaf (O Museu), um conhecido colecionador. “Mostraram-me um vídeo e eu percebi que era algo importante. Era preciso salvá-lo, evitar a corrosão, fazer uma limpeza de emergência. Por isso entrei em contato com as autoridades”, explica. Enquanto dava o alerta, a estátua era leiloada no e-Bay. Quem a quisesse teria de ir buscá-la em Gaza, dizia a ficha, num exemplo da loucura que acompanha essa história, já que a Faixa é um território fechado, do qual não se entra nem sai sem permissão, dificilmente conseguida.
Mohamed Khillah, subsecretário de Turismo e Antiguidades, confirma que “a investigação ainda está em andamento”, pois vários peritos locais manifestaram dúvidas sobre a permanência do Apolo na água. Pelas primeiras análises acreditam que proceda, na realidade, de uma escavação ilegal em terra. Foi criado um comitê para estudar a obra, o qual estimou seu preço entre 15 e 30 milhões de euros. Enquanto isso, está guardado no Ministério do Interior.
Khoudary ativou sua rede de amizades internacionais para que ajudem na restauração. O religioso francês Jean Baptiste Humbert já entrou oficialmente em contato com o Museu do Louvre, que demonstrou “interesse” em ajudar. O problema é que o Hamas é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia, por isso qualquer colaboração com seu governo seria alvo de sanções. Seu islamismo, além disso, levanta dúvidas sobre se um dia exporá essa peça tão única como impudica. Com 5.000 anos de história, lugar de egípcios, filisteus, romanos, bizantinos e cruzados, a terra pela qual Alexandre Magno lutou é hoje um ponto da memória sepultado pela política, guerra e pobreza