Um marco histórico da Ficção Científica em animação: "Metrópolis", de Ozamu Tezuka
Por Miguel Carqueija Em: 18/01/2012, às 15H49
(Miguel Carqueija)
UM MARCO HISTÓRICO DA FICÇÃO CIENTÍFICA EM ANIMAÇÃO:
METRÓPOLIS, DE OZAMU TEZUKA
Muitos dos maiores filmes de todos os tempos são animações japonesas.
“Osamu Tezuka’s Metrópolis” (Japão, 2001) é um dos mais requintados e primorosos exemplos de ficção científica em cinema de animação. Cores, detalhes, perspectivas e um enredo fascinante e envolvente compõem uma obra-prima que poucos ousariam emular e que deixa marca indelével em nossa lembrança.
Baseado num mangá do mestre Osamu Tezuka, o desenho é a continuação do grande clássico do cinema mudo germânico, “Metrópolis”, de Fritz Lang (1926), universalmente reconhecido como um dos maiores filmes de ficção científica de todos os tempos. Na animação de Tezuka reencontramos aquele insólito cenário futurista: a cidade gigantesca e desumana, com arranha-céus incomensuráveis perdendo-se nas alturas, aeronaves circulando entre os prédios, funiculares, separações classistas e, mais uma vez, uma elite vivendo nas alturas e a ralé nas partes inferiores; só que a situação evoluiu em relação aos acontecimentos narrados por Lang e sua esposa-roteirista Thea Von Harbou, que se passariam no ano de 2026. Foi dado um salto talvez de séculos e nesta Metrópolis mais futurista existe agora a ralé da ralé: os robôs, desprezados pelo povo, que os considera como usurpadores de empregos, e cerceados de toda maneira, implacavelmente caçados pelos fanáticos “Mardukes”, partido político ligado ao Duque Red, um sinistro narigudo que ambiciona o poder completo naquela cidade-estado. Red coordena um plano megalomaníaco, a construção da torre conhecida como “Zigurate”, sobre a qual, num trono, deverá sentar uma andróide que está sendo construída pelo cientista fora-da-lei Dr. Laughton, planejada para ser a criatura perfeita. Enquanto isso, o Prefeito Boon planeja se livrar do Duque Red. No jogo do poder, porém, surge um elemento perturbador: Rock. O jovem filho adotivo de Red, membro dos Mardukes e que odeia os robôs. Disposto a destruir a andróide Tima, que tem o aspecto de uma doce e meiga adolescente, Rock dá início a uma desastrosa perseguição pela intrincada geografia urbana de Metrópolis.
Para complicar ainda mais a trama, Shensaku Ban, um detetive japonês, com seu jovem sobrinho Kenichi, está em Metrópolis com a missão de capturar o Dr. Laughton, acusado pelo tráfico de órgãos de animais. A polícia local cede-lhe um agente robô, 803DPR, DM, 497-3C, para auxiliar na busca.
Não se esclarece em que país fica Metrópolis. Ela é, porém, um monumento à cupidez humana, à sede pelo poder, à ambição dos bens materiais. É a própria monstruosidade urbana, e o trabalho do diretor de arte, Shuichi Hirata, pode ser considerado primoroso. O esmero da equipe de produção tornou realidade o grandioso projeto de Osamu Tezuka, falecido em 1989 e autor do quadrinho original. Criador de séries famosas como as de “Kimba”, “Astroboy” e “A princesa e o cavaleiro”, Tezuka conseguiu realizar uma nobre seqüência da obra de Fritz Lang e o resultado final, pleno de emotividade e com um clímax de arrepiar os cabelos ao som de I can’t stop loving you na voz de Ray Charles, deverá ser inscrito no livro de ouro da ficção científica universal.
OSAMU TEZUKA’S METROPOLIS — Japão, 2001
Direção: Rintaro
Roteiro: Katsuhiro Otomo
Produção: Masao Maruyama e Iwao Yamaki
Direção de Arte: Shuichi Hirata
Música: Toshiyuki Honda
Argumento e projeto: Osamu Tezuka