Um dos líderes do movimento Mau-Mau tornou-se o primeiro presidente do Quênia

Mzee Jomo Kenyatta foi o presidente queniano até sua morte, em 22 de agosto de 1978, como nos contam Samwel Kamau Githiru e Henrique Ferraz, na Revista Eletrônica de Ciências, da USP.

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Acima, o monte Kilimanjaro, o maior pico da África fica na divisa entre o Quênia e a Tanzânia. (...) assim como os alpinistas, escoteiros (...) sempre valorizaram as belezas naturais, cenários comuns no continente africano. (...) [O] criador do escotismo, o inglês Baden Powell escolheu o Quênia para viver seus últimos dias e falecer em 1941"

(http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_27/africa.html

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O PRESIDENTE MZEE JOMO KENYATTA

(1894 - 1978)

(http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_27/africa.html

 

 

 

 

(http://www.martinfrost.ws/htmlfiles/oct2008/kikuyu.html,

onde se pode ler:

"(...) The Mau-Mau Revolt was fought from 1952-1957, initiated and led by the Kikuyus, one of Kenya's largest and most powerful ethnic groups.  Words are powerful weapons in war. "Freedom fighter" poses a different picture than "guerrilla solider" or "terrorist," for example.

The term "Mau-Mau" damned the movement before it began, striking fear in the hearts of westerners. "Land and Freedom Army," on the other hand, aptly describes what the movement was about, what Kenyans were fighting for, according to Tabitha Kanogo, a historian who argues that Mau-Mau was initiated by squatters whose conflict with white settlers led to the war. Kenyans wanted land, and as long as the British ruled Kenya, they would never get it.

Yet class structures were equal to land as one of the grievances leading to the revolt:

Europeans, who made up less than 1 % of the total population, constituted a "high caste." They monopolized the local government, with a color bar that led to apartheid policies similar to those in South Africa. Because of their political power, they held the majority of land rights. This class system was complicated by the fact that white settlers wanted a government free of British interference, a complaint similar to Rhodesia, who ultimately declared themselves independent of British rule.

Indians and Asians were staggered in the caste system, lower than Europeans but higher than Africans. Though they shared economic grievances with Africans, they feared Afriacn rule.

Africans were at the bottom of the caste system. The Kikuyu, who played a leading role in the move for Independence, were upset by the unavailability of land, high taxes, the restrictions on Africans cultivating coffee (the settlers ensured their own livelihood growing coffee by restricting Africans from growing it), and the kipande (or labor registration system).

But was Mau-Mau a movement largely against the British, and for independence - thus, making it available and accessible for all "Kenyans" and not just for the "Kikuyus" who led the revolt -- or was it splintered by internal concerns?

Some historians argue that a broad African identity emerged out of World War II, thus making Mau-Mau a nationalist movement for independence. Historians John Londsdale and Bruce Berman argue instead that Mau Mau was not a nationalist movement (Unhappy Valley).

Rather, it was a Kikuyu ethnic movement, one coalesced and splintered by the conflict in defining the "tribe" of the Kikuyu. The concept of tribe -- a concept just as imagined as the concept of nation (see Benedict Anderson) -- emerged as traditional forms of power were broken by colonialism. Politics developed at a local level, smaller even than ethnicity. This contrasts with the theory that politics would encompass all ethnicities within a territorial boundary (a territorial boundary set up by the British).
(...)")

 

 

 

 

"(...) ele [o presidente Mzee Jomo Kenyatta] conseguiu a admissão do Quênia nas Nações Unidas e concluiu acordos comerciais com o governo de Milton Obote em Uganda e de Julius Nyerere na Tanzânia. Ele seguiu uma política externa pró-ocidente e anti-comunista. A estabilidade atraiu investimentos estrangeiros e ele tornou-se uma figura influente em toda África. (...)"

(VERBETE 'JOMO KENYATTA' DA WIKIPÉDIA,

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jomo_Kenyatta

 

 

 

(http://newsimg.bbc.co.uk/media/images/44296000/jpg/_44296131_kenya_ap416b.jpg)

 

 

 

 

 

 

 

                                                    À memória do presidente Mzee Jomo Kenyatta,                                               

                                                    agradecendo a Samwel Kamau Githiru e a

                                                    Henrique Ferraz por seu interesse em

                                                    não nos deixar desinformados sobre a

                                                    história queniana e

                                                    ao povo do Quênia 

  

  

 

 

8.6.2010 - O vermelho na bandeira do Quênia representa o sangue dos antepassados - A luta pela libertação no Quênia foi heróica, mas os ingleses desejaram transmitir a idéia de que o movimento Mau-Mau era constituído por fanáticos seres sanguinários. Não conseguiram lograr sucesso nessa construção ideológica contaminada pelo pensamento colonialista e racista, uma vez que, cada vez mais, consideram-se absolutamente legítimas as lutas pelas libertações nacionais. E um chefe Mau-Mau foi o presidente do Quênia até seu falecimento, em 22.8.1978. Refiro-me a Mzee Jomo Kenyatta, um dos líderes da independência queniana, que, aliás, não permitiu que seu país entrasse na esfera de influência da ex-URSS, o que permitiu que a atração de capitais estrangeiros contribuísse para o maior desenvolvimento de seu nobre e ecológico país africano. F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

Revista Eletrônica de Ciências - Número 27 - Junho/Julho/Agosto de 2004

[A R.E.C. é órgão do CDCC - Centro de Divulgação Científica e Cultural da Universidade de São Paulo]

 

"Quênia: Entre Tradições e a Globalização

Samwel Kamau Githiru
Aluno de Engenharia Civil da Escola de Engenharia de São Carlos - USP e participante do projeto de intercâmbio de estudantes com a Jomo Kenyatta University
Henrique Ferraz (assessoria com a língua portuguesa)
Aluno de Arquitetura e Urbanismo da
Escola de Engenharia de São Carlos - USP

 

Introdução

Este artigo vem de encontro à minha vontade de expressar algumas idéias sobre meu país natal, pois por todos os locais por onde passei (seja no Brasil ou mesmo em outros países africanos) pouco se sabe sobre o Quênia. Pode-se perceber isto claramente ao fazer uma pesquisa na Internet e constatar a falta de informações (quando não erros banais, como dizer que a África é um belo “país”...). Espero que este texto seja bem elucidativo e esclarecedor sobre questões de suma importância para que a proposta de globalizar as informações pela rede não caia no equívoco de acreditar que o mundo é composto apenas de Estados Unidos, Europa, Japão e o “resto”.

Geografia Física e Política do Quênia

O Quênia é um país do leste africano, cujas fronteiras limítrofes são: Ao norte a Etiópia; Ao nordeste a Somália; Ao leste o oceano Índico; Ao sul a Tanzânia; À oeste a Uganda e o lago Victória (lago este de grande importância por fazer fronteira com três países – Quênia, Tanzânia e Uganda); E ao noroeste o Sudão. Sua latitude fica entre 5º ao norte e 5º ao sul do Equador e sua longitude entre 30º e 45º a leste do meridiano de Greenwich.
 


Mapa político do Quênia.

 

Sua capital é Nairóbi (ao centro do país), mas a cidade queniana mais importante é Mombasa (devido ao turismo), localizada no litoral sul. O Quênia possui uma população de trinta e cinco milhões de habitantes. Sua área é de 582650 quilômetros quadrados e, no entanto, sua população não se distribui uniformemente, mas se concentra entre o sul e o centro do país, sendo o norte a região menos povoada.

Sua geografia física é bem variada, sendo sua divisão muito marcada pela linha do Equador. O relevo acima da linha do Equador tem planícies enquanto que ao sul temos montanhas, com seu maior pico no monte Kilimanjaro, com 5895 metros (inclusive este é o pico mais alto da África. O Kilimanjaro faz fronteira entre o Quênia e a Tanzânia), e o segundo é o monte Quênia, com 5199 metros. O clima ao norte, o interior do país, é árido (quente e seco), enquanto que ao sul, região litorânea, é tropical (quente e úmido no verão, frio e úmido nas demais estações do ano).
 


Mapa físico do Quênia.
 

Sua flora ao norte é de savana (vegetação africana parecida com a caatinga brasileira composta de gramíneas e arbustivas associadas a poucas árvores pequenas, retorcidas e de folhas caducas e cascas grossas), onde se abrigam elefantes, rinocerontes, hipopótamos, girafas, búfalos, antílopes e gazelas (grandes mamíferos herbívoros), assim como leões, leopardos, hienas e chacais (carnívoros). Ao sul temos uma selva equatorial, densa, frondosa e exuberante (conhecida como Taita Taveta), que é habitat de inúmeras espécies de aves, símios (chimpanzés e gorilas), répteis, anfíbios e insetos.
 


Para efeito de comparação, acima fotos da savana africana e abaixo da caatinga brasileira.


 

História sucinta do Quênia


Na bandeira queniana, o preto representa nossa cor, o vermelho é o sangue de nossos antepassados, o verde representa nossa terra, as listras brancas significam a esperança na paz e as armas tradicionais ao centro as ferramentas de combate ao domínio britânico.
 

O Quênia, enquanto país, é uma construção política decorrente de sua colonização britânica (iniciada durante o século XIX e somente terminada em 1963), responsáveis pelas fronteiras que hoje conhecemos, com o intuito de dividir etnias aliadas e unir rivais. Assim, sua população se enfraqueceria entre disputas internas e os colonizadores teriam maior facilidade em explorar suas riquezas naturais. Porém, os primeiros homens brancos a chegar às terras quenianas foram os expedicionários alemães (em 1885), mas não tiveram interesses coloniais, o que deu oportunidade à Inglaterra de iniciar sua colonização de exploração em 1890.

Devemos nos lembrar que os mais recentes estudos apontam para a África como o berço de todas as civilizações, onde surgiram os primeiros Homo sapiens, sendo que os fósseis mais antigos de Homo habilis e Homo erectus, datados de dois milhões e seissentos mil anos, foram descobertos na região do lago Turkana, ao norte do Quênia. Logo, cada etnia africana (o que inclui as quenianas) tem uma história milenar, muito mais antiga do que as dos colonizadores europeus, que pouco se importavam para a cultura africana e só estavam interessados na exploração econômica destes povos.
 


A humanidade tem suas raízes mais profundas na África, o berço de toda a civilização.
 

Anterior à colonização branca, as tribos eram agrupamentos populacionais de cultura muito rica, onde os anciãos eram seus líderes naturais, escolhidos por serem os portadores de uma grande sabedoria (inclusive porque a cultura de suas tribos é predominantemente oral, ou seja, como sua história não constava em livros, são os idosos os verdadeiros portadores da história de seu povo), de uma maneira próxima ao que conhecemos das tribos indígenas brasileiras. A natureza era tratada com respeito e o homem se enxergava como parte de um todo, não como um ser superior com o direito de explorar o que quisesse sem a menor responsabilidade. São mais de cinqüenta tribos presentes no Quênia, divididas entre sete etnias distintas. Nestas tribos, a divisão do trabalho destinava às mulheres a agricultura e a pecuária (apenas para própria subsistência), os afazeres domésticos, o abastecimento de água (juntamente com as crianças) e a culinária. Aos homens cabia unicamente à caça, enquanto que a educação das crianças era responsabilidade dos idosos.
 


A tribo Kikuyu...
 
... a tribo Maasai...

... a tribo Turkana...

... e a tribo Samburu são exemplos de tradições mantidas em tempos globalizados.
 

A colonização inglesa iniciou-se, como já dito anteriormente, em 1890, onde os britânicos obtiveram minerais preciosos (inclusive quase esgotando todas as reservas de ouro), recursos naturais (madeiras e especiarias) e escravizaram nossa população. Isto perdurou até o início da década de 1950, quando surgiram movimentos de libertação do povo queniano, sendo o principal um movimento da tribo Gikuyu (de etnia Kikuyu) denominado Mau Mau (Burning Spears). Inúmeras vidas foram dedicadas pela liberdade de um povo que muito sofreu com a exploração branca, e a conseqüência destes atos heróicos foi que, em 1963, os britânicos foram expulsos das terras quenianas. No dia 12 de dezembro de 1963, a Inglaterra reconheceu a independência do Quênia.
 

 
Acima, imagens do movimento Mau Mau de libertação do Quênia. Abaixo, alguns líderes Mau Mau: Dedan Kimathi, Mzee Kenyatta, Tom Mboya, respectivamente da esquerda para a direita.

Um dos principais líderes do movimento Mau Mau, Mzee Jomo Kenyatta, se tornou símbolo da luta libertária de seu povo (assim como Nelson Mandela e Steve Biko foram para a África do Sul) por ter sido preso e torturado durante sua jornada em busca de igualdade e respeito à sua população. Em 1964, Mzee Kenyatta foi nomeado o primeiro presidente do Quênia pelo partido KANU (Kenya African National Union, ou União Nacional do Quênia africano).

Política contemporânea do Quênia

Mzee Kenyatta foi presidente até sua morte, em 22 de agosto de 1978. Seu vice, Daniel arap Moi, da tribo Turgen (etnia Kalenjin), assumiu o cargo após pouco após a morte de Mzee Kenyatta, no dia 14 de outubro de 1978 e manteve o posto com mãos de ferro até 2002 (pelo partido KANU). Nesse tempo, crises afetaram o país devido à postura ditatorial de Moi, tendo seu ápice no final da década de 1980, com lutas sangrentas entre as tribos Gikuyu e Turgen. Tais conflitos tomaram proporções gigantescas, principalmente quando as etnias uniram diversas tribos, Kikuyu contra Kalenjin, colocando mais de setenta porcento da população em conflito. Em 7 de Julho de 1991 aconteceu uma assembléia que reuniu os descontentes com o governo Moi, onde o povo clamava por democracia. Moi mandou impedir tal assembléia utilizando-se da força policial, o que gerou o massacre mais sangrento da história do país. Os policiais reprimiram o movimento usando de força bruta, o que causou milhares de mortes e inúmeros feridos.

Após todas estas mobilizações, Moi aceitou fazer eleições diretas em 1992. No entanto, seja pela oposição ao governo estar dividida em onze partidos (o que enfraqueceu seus resultados nas urnas), seja pelo controle do processo eleitoral ser feito pelo próprio Moi (com abuso de fraudes), foi assim garantida sua continuidade no governo até 1997, quando Moi repetiu seu processo maquiavélico de fraude, somado ao agravante da oposição de dividir agora em vinte e seis partidos (o que a enfraqueceu mais ainda). Assim, mais uma vez houve continuidade de sua ditadura não oficializada até 2002.

Neste ano, a constituição impediu o presidente Moi de ser candidato novamente. Ele indicou Uhuru Kenyatta (filho do primeiro presidente, Mzee Kenyatta) como novo candidato do partido KANU. Os 10 maiores partidos de oposição se uniram em uma única legenda, denominada NRC (National Rainbow Coalition, ou Coalizão Nacional do Arco-íris). Seu candidato, Mwai Kibaki (da etnia Kikuyu) enfrentou o candidato Uhuru Kenyatta. Mwai Kibaki, que já era um dos vices-presidentes na época do Moi, foi eleito e hoje é o presidente do Quênia, após 24 anos de ditadura Moi.
 


Os três únicos presidentes do Quênia desde a libertação do domínio britânico (da esquerda para a direita): Mzee Jomo Kenyatta (de 1963 a 1978), Daniel arap Moi (de 1978 a 2002) e Mwai Kibaki (de 2002 até os dias atuais).
 

É claro que Moi não manteve o poder sozinho, mas graças ao apoio de milionários estrangeiros, que colaboravam para sua permanência no governo com o financiamento de suas falcatruas, tendo visibilidade no escândalo de Goldenberg, onde foi descoberto que o governo vendeu ouro nacional a estrangeiros, numa soma equivalente a bilhões de dólares, para uso pessoal dos governantes. Tal escândalo não se resolveu até hoje e o caso ainda circula pelos tribunais.

Economia do Quênia

A moeda oficial do Quênia é o Shilling (nome de origem inglesa). Para se ter uma noção de valor, um dólar equivale a aproximadamente setenta e cinco shillings (isto é, um real equivale a aproximadamente vinte e cinco shillings).
 


Nota de cem shillings, com a foto de Mzee Kenyatta.
 

Os principais produtos agrícolas quenianos são chá, café, milho, trigo, laranja, banana, abacaxi, abacate, girassol, soja, sisal, algodão, coco, cana de açúcar, batata, tomate, cebola, arroz, feijão, mandioca e caju. Nossa pecuária tem como predominante a cultura de bovinos, suínos e caprinos, além de piscicultura e avicultura (ou seja, vacas, porcos, cabras, peixes, galinhas, perus, patos, gansos e pavões). Nossos minerais extraídos são a pedra calcária, soda cáustica, ouro, sal e flúor.

A indústria queniana produz plásticos, refino de petróleo, artefatos de madeira, tecidos, cigarros, couro, cimento, metalurgia e comida enlatada. O turismo também rende bons lucros, principalmente em Mombasa (litoral) e na savana queniana (interior). A exportação é forte em chá e café, enquanto que importamos maquinários, alimentos, equipamentos de transporte e petróleo (e seus derivados).
 


O lago Nakuru, habitat natural de flamingos, é um dos pontos turísticos mais importantes, próximo a capital Nairóbi.
 

O principal problema econômico do Quênia hoje é o alto índice de desemprego, sendo que metade da população economicamente ativa se encontra desempregada, enquanto que mais da metade dos quenianos empregados recebe salários baixíssimos (de oitenta a cem dólares, ou quase duzentos e setenta reais). Como o custo de vida é equivalente ao brasileiro, pode se ter noção da dificuldade que passa meu povo (esta comparação é em termos: enquanto nossa alimentação é mais barata, por outro lado, nossos eletrodomésticos são bem mais caros). Outro problema sério que enfrentamos é alta corrupção, sonegação de impostos pela classe economicamente alta (enquanto que os verdadeiros encargos pesam no bolso dos mais pobres, isto é, a maioria do país) e desvio de verbas públicas, principalmente nos investimentos ligados ao transporte e infra-estrutura viária.

Cultura do Quênia


Acima, o monte Kilimanjaro, o maior pico da África fica na divisa entre o Quênia e a Tanzânia. Abaixo, assim como os alpinistas, escoteiros (à direita e ao centro) sempre valorizaram as belezas naturais, cenários comuns no continente africano. Abaixo e à direita, criador do escotismo, o inglês Baden Powell escolheu o Quênia para viver seus últimos dias e falecer em 1941.

A língua oficial do Quênia é o inglês, mas fora das salas de aula, o idioma dominante é o Swahili, uma junção do árabe com a língua dos bantus. O Swahili é tão importante que é utilizado em vários países do leste africano, como Uganda, Tanzânia, norte do Moçambique e sul da Somália (o que facilita inclusive os negócios entre tais países). Por esta abrangência de domínio da língua Swahili, dá para se perceber o quanto que a língua inglesa é uma imposição da cultura branca. Cada tribo tem seu próprio dialeto como característica de sua cultura regional, o que faz do Quênia uma nação com mais de cinqüenta dialetos.
 

Em nosso país, os jovens do sexo masculino passam por um ritual de aceitação para a fase adulta. Este processo varia de tribo para tribo, mas acredito que o caso mais interessante é o da tribo Maasai (de etnia Kalenjin), uma das mais tradicionais que ainda mantém suas raízes fortemente: o jovem maasai para ser aceito como adulto deve combater um leão até a morte utilizando apenas uma espada, sem qualquer tipo de escudo, muito menos armas de fogo. Já a maioria das tribos, como os Kikuyus, por exemplo, utiliza-se de rituais mais simples, como a circuncisão. As garotas também tinham seu processo de iniciação da fase adulta, que consistia na amputação do clítoris para restringir a vontade e o prazer sexual após o casamento, mas hoje em dia esta prática está em desuso, devido aos princípios de direitos humanos em questões de gênero serem mais discutidos, mesmo nas tribos mais isoladas.
 

A religião é tão variada e rica como no Brasil: Nas tribos mais tradicionais, ainda se tem a religião politeísta relacionada com a natureza, isto é, deuses da chuva, da seca, do Sol, da terra, da água, etc; Por outro lado, a colonização trouxe o cristianismo presente no catolicismo, protestantismo e até o satanismo. O casamento, tanto nas cidades grandes como nas tribos mais remotas, funciona da mesma maneira: é tradicional a poligamia, isto é, um homem pode ter várias esposas, assim como uma mulher pode ter vários maridos, diferente do Brasil monogâmico. Outra diferença entre o Quênia e o Brasil é que enquanto no Brasil tem-se o costume do noivo receber um dote do seu sogro, no Quênia, ao se acertar o casamento, o chefe de família - aquele (ou aquela) que terá vários cônjugues - é quem oferece o dote ao sogro.
 

Em cada região do interior, cada tribo ensina a suas crianças seu folclore, suas lendas e tradições, logo, pela grande quantidade de tribos, torna-se impossível listar aqui cada um dos folclores tradicionais. Nas escolas das grandes cidades quenianas, como são presentes várias tribos e etnias, não se ensina as peculiaridades de cada uma, mas a cultura do branco britânico (que ficou como herança da colonização). Como cresci em Nakuru (cidade pouco acima da capital Nairóbi), tive este tipo de educação das grandes cidades, o que vejo como desvantagem, pois assim a cultura tradicional vai se perdendo e as futuras gerações vão pouco se importar para a verdadeira história de seu povo.

A culinária é tão rica quanto o folclore, tendo sua variação tão numerosa quanto nossas tribos. Dependendo dos produtos alimentícios mais representativos de cada região, a alimentação será mais influente neste aspecto. Por exemplo, ao norte do país, por causa da região árida, a caça é muito praticada, assim sua alimentação é rica em carne. Ao sul, por existir uma grande produção de caju, a castanha deste fruto é a base de muitos alimentos. Em grandes cidades, come-se de acordo com o dinheiro que se possui. Como a carne de frango é muito cara, a alimentação mais barata tem por base carne bovina e arroz.
 


Exemplos de maratonistas que se destacaram no esporte mundial: Acima Paul Tergat, abaixo à esquerda Kipchoge Keino, ao centro Susan Chepkemei e à direita John Ngugi. Com exceção de John Ngugi (de etnia Kikuyu), todos os demais são Kalenjins, o que demonstra a representatividade desta etnia no atletismo.

No esporte, com exceção do basquete (praticado não profissionalmente) não temos a tradição de esportes coletivos (como o futebol brasileiro): O Quênia mostra sua força através dos esportes individuais, como o atletismo, onde os Kalenjins são grandes representantes, principalmente entre os velocistas. Outros esportes muito praticados são o rugby e o cricket. Os jogos mais tradicionais são o xadrez, o scrabble (jogo de palavras cruzadas), jogos de dados e o monopoly (tipo de “jogo da vida”).

Na arte queniana, não se tem o costume de valorizar um artista em particular: a produção fica, assim, coletiva. E, da mesma maneira que a culinária e os dialetos, cada tribo tem sua cultura característica, o que faz do Quênia uma nação artisticamente muito variada. Nas cidades grandes, a globalização altera a arte, de maneira que os expoentes estrangeiros são muito mais influentes que os quenianos. Antigamente a maior tendência era a britânica, mas hoje surge um surto de influências japonesas de grande importância.
 


Na arte queniana, é notável a característica coletiva acima de nomes individuais de artistas.
 

 

Desta maneira, como eu disse no início do artigo, quero ressaltar o valor de meu país, pois se não acharmos uma identidade forte que dê orgulho ao nosso povo, podemos sofrer um etnocídio perante uma globalização tida como positiva, mas que realmente não é neutra, muito menos boa – ou se tem cuidado ao se inserir no processo global, ou perderemos nossas raízes em pouquíssimo tempo.
 

Fontes de Pesquisa:

Livros:

  • ORTIZ, Airton. Aventura no topo da África: treeking no Kilimanjaro. Rio de Janeiro: Record, 1999.
  • ANDRADE, Marcelo. Um Desafio no Kilimanjaro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1996.
  • DIAS, Arcelina Helena Públio. Perdão, África, perdão!. Goiás Velho: Editora Rede, 2003".