Mateus, sua filha e sua esposa Raíssa
Mateus, sua filha e sua esposa Raíssa

Um bom, simpático e empático médico (*)

 

Elmar Carvalho

 

Não tive o prazer de conhecer o jovem médico Mateus Nunes Carvalho.

Soube de sua morte, vítima de acidente automobilístico, através da Fátima, que tomara conhecimento da infausta notícia pela TV. Por intermédio da Remédios, residente em Várzea do Simão, localidade que recebia os seus cuidados médicos, soube de outras informações que revelam seu caráter e personalidade. Devo dizer que aqui a palavra cuidado foi muito bem empregada, pois ele era um verdadeiro cuidador, como abaixo se verá.

Depois, soube pela internet e pela televisão, que ele viajava na companhia de seu pai, Flaviano, que sofreu apenas leves escoriações. Segundo essas informações, tinha apenas 28 anos e era casado com um médica, Raíssa, filha de uma médica. Não lhe conhecia os pais e não sei maiores detalhes de sua curta e benéfica vida. Mas desejo dizer algumas coisas sobre ele, que, julgo, valerão mais do que uma extensa biografia e um rico currículo vitae.

A Remédios relatou para minha mulher que uns quinze dias antes de seu falecimento o Dr. Mateus estivera na Várzea do Simão, onde temos uma pequena gleba de terra e um sítio. Ele disse que estava se despedindo, pois iria se mudar de Parnaíba para Teresina, onde faria uma especialização médica.

A minha cunhada contou que ele era de uma simpatia contagiante e que tratava muito bem seus pacientes. Era zeloso e devotado em seu serviço. As suas pacientes idosas gostavam muito dele, quase como se ele fosse uma pessoa da família ou um velho conhecido. Após consultar a Remédios, que além de idosa é cadeirante, em sua casa, disse que iria visitar mais outras duas ou três idosas. Fez as consultas na igrejinha de N. S. Aparecida, que minha mulher e outras pessoas abnegadas da comunidade vêm tentando construir, uma vez que não há um espaço próprio para atendimento médico.

Soube, pela mesma fonte, que ele parecia exultar com a beleza natural da Várzea. Contemplava as árvores e os pássaros, como se estivesse encantado. De tudo que a Remédios narrou, fico com a convicção de que o médico Mateus Nunes Carvalho, além de sua alegria e simpatia contagiantes, amava a sua profissão e os seus pacientes, e cultivava o dom da empatia para com todas as pessoas. Parecia não ser deste mundo de hoje, tão apressado e tão cheio de problemas e dificuldades.

Após encerrar as consultas, retornou para se despedir da Remédios; a abraçou e lhe beijou afetuosamente a cabeça, quase de forma filial.

Em magnífico poema elegíaco o poeta Augusto Frederico Schmidt disse que “os que se vão, vão depressa”. O Dr. Mateus se foi depressa demais. Curta demais foi a sua bondosa existência em nosso planeta. Talvez Deus tenha precisado dele numa de suas outras dimensões.

Fico com a leve impressão de que ao se despedir, porque iria morar em Teresina, estava se despedindo, na verdade, porque iria fazer uma viagem mais longa e sem retorno, para um lugar mais feliz, onde não existem nem lágrimas e nem sofrimento.   

(*) Após a publicação internética desta crônica, tomei conhecimento de que o médico Mateus Nunes Carvalho é filho dos engenheiros Flávia e Flaviano Carvalho. Tocava vários instrumentos musicais, entre os quais piano, violão e sanfona. Cursou engenharia antes de se formar em medicina. Amava a música por causa da matemática (ou vice-versa). Escreveu vários artigos científicos na área médica, publicados em importantes revistas do Brasil e do exterior. Se tornou professor da faculdade pela qual se formou, sendo considerado por seus alunos um excelente mestre. Seu pai me afirmou que captei de forma fidedigna o perfil espiritual do Dr. Mateus.