ELMAR CARVALHO

 

Neste domingo, por volta de sete horas da manhã, seguimos eu e o Reginaldo Miranda, de carona em um automóvel dirigido por Márcio Freitas, com destino à encantadora Amarante. Nós três somos formados em Direito e pertencemos à Academia de Letras do Médio Parnaíba, promotora da solenidade de posse a que iríamos assistir. Fomos tomar o café da manhã na lanchonete dos irmãos Sales, na cidade de Água Branca, à margem da BR, cujas paredes internas são cobertas por cartazes eleitorais de políticos de todas as cores partidárias, sem discriminação e preconceito por parte dos proprietários.

 

Logo na entrada da amarantina cidade encontramos o poeta Neto Sambaíba, que nos deu a notícia de que o helicóptero, que conduzira o professor Manoel Paulo Nunes, pilotado por seu filho, o comandante Raimundo Neiva, já sobrevoava a graciosa urbe. Ainda chegamos a tempo de fazer uma visita ao Museu do Divino. Olhamos suas principais peças, distribuídas em diferentes compartimentos do velho solar da Avenida Desembargador Amaral. Perguntamos pelo seu fundador e mantenedor, professor Marcelino Leal Barroso de Carvalho.

 

A moça que nos atendeu, informou-nos que ele fora à missa. Quando saímos, para irmos assistir à solenidade de posse do Dr. Olemar de Castro na Academia de Letras do Médio Parnaíba, que aconteceria no solar que pertenceu ao notável historiador Odilon Nunes, o professor Marcelino vinha chegando com o seu irmão Melquíades, intelectual e musicista de muito mérito, que me afirmou frequentar meu blog, com certa assiduidade. Por feliz coincidência eu, o Reginaldo e o Márcio fomos alunos de Marcelino, no curso de Direito da Universidade Federal do Piauí.

 

O mestre, além de haver criado o Museu do Divino – que foi feliz inspiração para o poeta Olavo Brás Nunes instalar em Oeiras, sua terra natal, outro Museu do Divino, dentro do qual existe a Galeria dos Anjos Poetas e dos Poetas Anjos, na qual tenho a elevada honra de ter o meu poema Noturno de Oeiras estampado em bela placa de vidro – também reativou a Festa do Divino, com as ricas indumentárias do imperador e da rainha, as belas flâmulas e estandartes, cujas procissões percorrem as ruas, os becos e as ladeiras amarantinas.

 

Além do aspecto religioso e devocional, Marcelino insere na festa eventos culturais, mormente serenatas à moda antiga, tendo à frente seu irmão Melquíades, mestre da música e de uma boa conversa. Meu livro Lira dos Cinqüentanos foi lançado, alguns anos atrás, através da programação cultural da Festa do Divino, num dos históricos casarões da Avenida Des. Amaral. Fui honrado pela presença de bons amigos, entre os quais os irmãos Cutrim, os amarantinos Raimundo Luís e Álvaro.

 

Na solenidade de posse do Dr. Olemar de Castro, encontramos importantes figuras do mundo cultural e literário piauiense. Entre outras personalidades emblemáticas dessa seara, lá encontramos a escritora e empresária Nileide Soares, o escritor e ex-deputado Homero Castelo Branco, o menestrel Neto Sambaíba, que na qualidade de presidente da ALMP dirigiu o evento, o poeta e escritor Herculano Moraes, o poeta e agitador cultural Virgílio Queiroz, meu amigo de várias décadas, a professora Clara Leonor, esposa do escritor e conferencista Paulo Nunes, o médico Francisco Almeida (Dr. Tatá) etc., além do prefeito Luís Neto, que garantiu construir o monumento do último desejo do poeta Da Costa e Silva e um memorial em sua honra, que certamente será da maior relevância para a cultura piauiense.

 

Antes do início da solenidade, a amiga Nileide Soares teve a gentileza de apor em minhas costas um manto acadêmico, dizendo-me, em amável brincadeira, que não poderia deixar a descoberto o seu juiz. Pensei tratar-se de uma veste sobressalente. No final da solenidade, ao constar que ela me ornara com a sua própria insígnia acadêmica, disse-lhe, retribuindo-lhe a lhaneza e devolvendo-lhe a capa:

Se eu soubesse que o manto era seu, não teria deixado que ele fosse cobrir um pecador, deixando a descoberto uma santa!

 

Tive a satisfação de ouvir duas brilhantes peças de oratória; uma da lavra do professor Paulo Nunes, e outra, do novel acadêmico Olemar de Castro. Nelas desfilaram figuras exponenciais da Academia de Letras do Médio Parnaíba, que também ornaram a política e a literatura do Piauí. Afrânio Nunes, antecessor de Olemar, foi deputado estadual por várias legislaturas e dirigiu o Ríver durante vários anos, além de haver ocupado outros cargos públicos de relevo.

 

Luís Mendes Ribeiro Gonçalves, o patrono da cadeira a ser preenchida na solenidade, foi, por muitos anos, uma espécie de super secretário, porquanto a sua pasta tinha atribuições que hoje estão delegadas a várias secretárias, órgãos estatais e empresas de economia mista. Na qualidade de engenheiro, projetou estradas importantes e os magníficos prédios do Liceu Piauiense e da Escola Normal, que é hoje o Palácio da Cidade de Teresina. Esse impoluto homem público, conhecido carinhosamente como Dr. Lulu, foi ainda senador da República e escritor de muito mérito. Exerceu também importantes cargos da administração pública federal, entre os quais o de secretário geral do Departamento Nacional de Correios e Telégrafos – DCT e diretor geral do Departamento Nacional de Obras contra a Seca – DNOCS.

 

Escrevia esse notável membro da Academia Piauiense de Letras de forma escorreita, clara e elegante, e detinha um alto poder de argumentação e convencimento, em que a razão dominava. Suas interpretações, fossem de caráter sociológico, histórico ou técnico, eram sempre coerentes e pautadas por um raciocínio lógico e diamantino, talvez adquirido em sua longa experiência de administrador público e de engenheiro, mas também de intelectual amante das artes e da literatura.

 

Os dois discursos acadêmicos, de Paulo Nunes e de Olemar de Castro, cujo pai, Olegário de Castro, na época em que foi prefeito de Amarante, construiu a elegante escadaria do Morro do Pontal, que eu chamo de Morro da Saudade, foram arrematados por um brilhante pronunciamento do médico e acadêmico Tatá Almeida, em que foi enaltecido o nunca assaz celebrado poeta Da Costa e Silva. Um opíparo almoço, patrocinado pelo prefeito Luís Neto, em sua residência, coroou a magnífica festa de cultura e de letras.