Sentimentos e diminutivos plurais. Locução "quando de"
Por M. T. Piacentini Em: 21/12/2018, às 07H08
Por Maria Teresa Piacentini
Aprendi com meu professor de português, na época de preparação para o vestibular, que nunca deveríamos usar as palavras "saudade" e "ciúme" no plural. Como é bastante comum o uso do plural e não encontro bibliografia que possa me esclarecer esta dúvida, gostaria que me ajudassem. Suely D’Alessandro, Florianópolis/SC
Há plural para sentimento? Ester Venturin, São Paulo/SP
Sentimentos e disposições de espírito têm plural, sim: saudades, ciúmes, alegrias, felicidades, desgostos. Palavras como pêsames, parabéns e felicitações, por exemplo, eram originalmente usadas no singular (Meu pêsame. Parabém! Receba nossa felicitação.) mas foram sendo substituídas pela forma plural.
Isso não quer dizer que o singular não exista e não seja usado. Com efeito, os substantivos que exprimem noções abstratas, vícios e virtudes em geral têm seu emprego no singular: Quanta bondade! Queremos paz e harmonia. Tenho-lhe afeição. Sinto muita saudade. A felicidade é tudo na vida. Sua alegria é contagiante.
Contudo, é usual dizermos “Desejo-lhe felicidades” ou “Que as alegrias da juventude continuem por toda a vida”, assim com a flexão numérica, exatamente pela ideia de plural, de “momentos de alegria” e de “felicidade em muitas dimensões”.
Plural do substantivo diminutivo
A formação do diminutivo se faz por meio de sufixos, entre os quais (z)inho é o que tem mais vitalidade: pão – pãozinho; pá – pazinha; mãe – mãezinha; coração – coraçãozinho; pastel – pastelzinho; colher – colherinha ou colherzinha; devagar – devagarzinho ou devagarinho ; igual – igualzinho e assim por diante.
O plural dos diminutivos em zinho é formado acrescentando-se zinhos ao plural do substantivo primitivo menos o S:
– pá – pás – pa(s)zinhas - pazinhas
– igual – iguais – iguai(s)zinhos - iguaizinhos
– caracol – caracóis – caracoi(s)zinhos - caracoizinhos
– carretel – carretéis – carretei(s)zinhos - carreteizinhos
– pão – pães – pãe(s)zinhos - pãezinhos
– mãe – mães – mãe(s)zinhas - mãezinhas
– coração – corações – coraçõe(s)zinhos - coraçõezinhos
– colher – colheres – colhere(s)zinhas - colherezinhas
Contudo, com os substantivos terminados em R ou Z pode-se fugir à regra, eliminando-se o e intermediário. É mais comum falar e escrever assim:
As colherzinhas são de plástico.
O buquê foi feito com botões de rosa e outras florzinhas brancas.
Instalaram uma porção de barzinhos à beira da praia.
Que rapazinhos educados!
Essas palavras também podem ter a formação usual, naturalmente: dorzinhas ou dorezinhas; amorzinhos ou amorezinhos; mulherzinhas ou mulherezinhas.
Quando de = Durante, na ocasião de
Sandra R. Martins, de Florianópolis/SC, quer saber se é lícito usar “O chefe pediu que todos os funcionários estivessem presentes quando da apresentação do relatório final”.
É válida a locução, embora se considere um galicismo. Os estudiosos acreditam que seja uma má adaptação do francês “lors de”, que quer dizer “no tempo de, quando”, e sua origem remonta ao século XVIII. Então, em vez de “quando foi a invasão francesa” começou-se a dizer “quando foi da invasão francesa” e depois, abreviadamente, “quando da invasão francesa”.
Mesmo que os puristas possam considerá-la “construção incorreta”, ela tem tradição na língua. O uso da preposição (junto com "foi") encontra-se nos clássicos: “Aristóteles mal teria a barba russa quando foi daquele seu último namoro” (A. Garret); “[...] quando foi do terremoto” (Camilo).