PROBLEMA DE GERAÇÃO

     Preta Gil, Wesley Safadão, Gustavo Lima e mais algumas dezenas de cantores que fazem sucesso no Brasil atualmente são, por mim, conhecidos apenas pelo nome. Não conheço nenhuma música dessa turma, embora façam grande sucesso no país. Não tenho condição de julgar as músicas que eles cantam, pois, além de não conhecê-las, nada entendo de teoria musical. Até que sobre as letras de suas canções eu poderia externar uma opinião, mas não é prudente falar sobre aquilo que não se conhece.

     Mas será que eu conheço algumas músicas desses artistas e não saiba quem está cantando o quê? Talvez, pois são muitos os canais de comunicação que tocam música. Mas por que nenhuma dessas canções veiculadas não têm me tocado? É tão gratificante quando, despretensiosamente, uma música me toca. Tenho lembranças de ter gostado de belas canções que ouvi ocasionalmente andando na rua e depois fui procurar saber seu título e seu autor e continuei gostando.

     Atribuo tudo isso a problema de geração. Esses artistas cantam para as novas gerações, e não para a minha. Não que eles, deliberadamente, tenham decidido fazer músicas para agradar somente a juventude de hoje. Não, não é isso. É outra coisa que não sei como exatamente se processa. Porém é algo como o caso de um grupo de jovens que resolve fazer uma festinha na casa de um deles com o consentimento de seus pais. Mas a festa talvez não tenha muita graça se algum pai ou mãe decidirem participar. Ou até mesmo se um tio ou primo mais idoso resolverem se integrar com a garotada. Pode até ser que se enturmem com os jovens, contudo o mais provável é que sejam sutilmente rejeitados. Ou seja, é uma coisa típica de geração. Parece que cada geração tem atributos próprios, uma maneira própria de ser e que, em maior ou menor intensidade, se afasta da geração anterior, muitas vezes gerando conflitos. Em contraste com isso, no entanto, há vários casos de jovens que se identificam muito com os mais velhos e com estes gostam de conversar bastante. É o caso, por exemplo, do grande geógrafo e climatologista brasileiro Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, nascido em Teresina, que apreciava dialogar com sua mãe, tios e avós.

     Todavia é curioso, para mim, o caso da cantora Preta Gil, recentemente falecida (meus pêsames à família enlutada e que Deus conforte o coração de todos por essa perda irreparável). Ela é filha de Gilberto Gil, um dos melhores compositores e cantores de minha geração e que ainda hoje faz sucesso no Brasil e até mesmo em outros países. Como é, então, que não conheço nenhuma música dessa artista, mas conheço e gosto de dezenas de canções de seu pai? A resposta a essa pergunta deve envolver muitos fatores, e um deles é, com certeza, problema de geração.