Poemas de Jesús Maroto (1958 – , Espanha)
Por Marcos Freitas Em: 11/09/2023, às 21H02
Poemas de Jesús Maroto (1958 – , Espanha)
O poeta não se aposenta
Olho, com uma sensação estranha,
meus ternos executivos
ainda no armário.
Chegará o dia, e será em breve,
que me livrarei deles.
Bem dobrados, vou depositá-los
em um desses recipientes
que agora existem para roupas usadas.
E com eles irá
muito de minha vida.
Para o que me resta viver
quero uma roupa simples
não um disfarce triste e duvidoso.
Começo promissor
Essas são as manhãs
que começam o dia
com o pé direito: sossegado
tomo o café da manhã na cozinha
enquanto a casa se enche
de todos os tons
de azul.
A chuva boa
Chove devagar
e as plantas do meu terraço
se regozijam.
O que dizer da cidade
sedenta e dos campos rachados.
Não pare de cair chuva boa.
Fique assim o dia todo.
Veja, de imediato pego o guarda-chuva
e saio para passear, e a pensar
em alguns versos para lhe agradecer
por ter vindo, tão serena,
nos visitar.
Ao menos hoje
Ao menos hoje
me abstenho.
Não vou ler jornais.
Nem vou assistir ao noticiário da TV.
Nem vou ouvir meu programa de rádio
favorito.
Ao menos hoje
quero um dia,
com direito
a presunção de inocência,
que me permita sair à rua
e procurar sem desagrado
o poema.
[Traduções do espanhol]
Publicado originalmente na Revista da Academia de Letras do Brasil, Ano 5, Número 9, jan./jun., 2023 Brasília - DF, ISSN 2674-8495.