Poemas de Jesús Maroto (1958 – , Espanha)

 

O poeta não se aposenta

 

Olho, com uma sensação estranha,

meus ternos executivos

ainda no armário.

Chegará o dia, e será em breve,

que me livrarei deles.

Bem dobrados, vou depositá-los

em um desses recipientes

que agora existem para roupas usadas.

E com eles irá

muito de minha vida.

Para o que me resta viver

quero uma roupa simples

não um disfarce triste e duvidoso.

 

 

Começo promissor

 

Essas são as manhãs

que começam o dia

com o pé direito: sossegado

tomo o café da manhã na cozinha

enquanto a casa se enche

de todos os tons

de azul.

 

 

A chuva boa

 

Chove devagar

e as plantas do meu terraço

se regozijam.

O que dizer da cidade

sedenta e dos campos rachados.

Não pare de cair chuva boa.

Fique assim o dia todo.

Veja, de imediato pego o guarda-chuva

e saio para passear, e a pensar

em alguns versos para lhe agradecer

por ter vindo, tão serena,

nos visitar.

 

 

Ao menos hoje

 

Ao menos hoje

me abstenho.

Não vou ler jornais.

Nem vou assistir ao noticiário da TV.

Nem vou ouvir meu programa de rádio

favorito.

 

Ao menos hoje

quero um dia,

com direito

a presunção de inocência,

que me permita sair à rua

e procurar sem desagrado

o poema.

 

[Traduções do espanhol]

 

Publicado originalmente na Revista da Academia de Letras do Brasil, Ano 5, Número 9, jan./jun., 2023 Brasília - DF, ISSN 2674-8495.