Poemas de Indran Amirthanayagam (1960 – , Sri Lanka/EUA)
Por Marcos Freitas Em: 24/08/2022, às 21H36
Poemas de Indran Amirthanayagam (1960 – , Sri Lanka/EUA)
Indran Amirthanayagam é poeta, músico, ensaísta e blogueiro. Escreve em inglês, espanhol, francês, português e crioulo haitiano. Nasceu, em 1960, em Colombo, Ceilão (atual Sri Lanka). Aos oito anos mudou-se com a família para Londres, Inglaterra, e aos 14 anos mudou-se novamente para Honolulu, Havaí, onde começou a escrever poesia. Bacharel em Artes (Literatura Inglesa) pelo Haverford College e Mestre em Jornalismo, pela Columbia University. Editor-chefe da revista The Beltway Poetry Quarterly, apresentador do Poetry at the Port (Haiti), e co-dirigente da DC-ALT (Washington D.C.´s Association of Literary Translators). Curador da plataforma literária Ablucionistas (México). Publicou 22 livros de poesia, incluindo Sur l’île nostalgique (L’Harmattan, 2020), The Migrant States (Hanging Loose Press, 2020) e Lírica a tiempo (Mesa Redonda, 2020). O livro The Elephants of Reckoning ganhou o Prêmio Paterson de 1994, nos Estados Unidos. Na música, produziu o álbum Rankont Dout. Publicou no The New York Times, The Hindu, Reforma, El Norte, entre outros. Bolsista da The Foundation for the Contemporary Arts (2020), da New York Foundation for the Arts, do U.S/Mexico Fund for Culture e da Macdowell Colony. Ganhou os Juegos Florales de Guayamas, Sonora (México), em 2006, com o poema “Juárez”. Dirige e cria conteúdo para o site The Poetry Channel, no Youtube. Em 2021, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.
TERRITÓRIO
Como um cão
que urina
o muro para marcar
seu território,
o diplomata assiste
ao coquetel e começa
a falar aos demais
convidados
da gripe aviária,
da revolução francesa,
do concerto da
filarmônica de Viena
pela primeira vez
em terras régias,
um acontecimento
para contar aos bisnetos.
Ouça, não houve acordeões
nem botes, homens puros
vestidos de smoking
tocando fagotes e trompas
para anunciar o amanhecer,
o primeiro dia, o ano novo.
CODA
O diplomata regressa a casa,
sintoniza seu rádio
em uma emissão postergada
do concerto da noite,
dá de comer a seu cão.
JUÁREZ
i.
Nem moscas, nem borrachudos: asas
nascidas no pó, mitocôndria,
se entrelaçam dando voltas
no ar perante a mesa
aonde os poetas falam
de escrever sobre cadáveres.
ii.
Não se pode cair
nestes barrancos passar
uma noite tranquila, levantar-se
ao amanhecer e caminhar
para buscar água doce
do riacho próximo que flui
através dos terrenos baldios
e sua escova de plástico,
sapatos, tangas, dentes.
VOAR
Quando amanhece o dia,
quando a luz se vai
e a noite começa;
quando nossos filhos
principiam a caminhar
e a ir à escola,
e se despedem
de nós
nas portas
da universidade,
e viajam de país
em país
para enviar-nos
postais
de sua maturidade
as fotos
de seus próprios filhos
aí encontraremos
a poesia escrita
para capturar
o voo
da borboleta
justo quando se vai
para conciliarmos
com a perda
dos entes queridos,
de nossos pais
ainda com os gatos
e cães, a poesia
nos acompanha
quando ganhamos
um emprego e
quando perdemos,
é amiga, consolo,
ponte até Deus,
Mulher, o mistério,
o irracional, nos
assegura que não estamos
sós, que habitamos
uma comunidade
feita de metáforas,
ritmos, cadências,
de linguagem, pois,
e seus bailes
e cantos.
[tradução do espanhol por Marcos Freitas]
Publicado na Revista da Academia de Letras do Brasil, Ano 2, Número 3, jan./jun., 2020, ISSN 2674-8495.