Poemas de Indran Amirthanayagam (1960 – , Sri Lanka/EUA)

 

Indran Amirthanayagam é poeta, músico, ensaísta e blogueiro. Escreve em inglês, espanhol, francês, português e crioulo haitiano. Nasceu, em 1960, em Colombo, Ceilão (atual Sri Lanka). Aos oito anos mudou-se com a família para Londres, Inglaterra, e aos 14 anos mudou-se novamente para Honolulu, Havaí, onde começou a escrever poesia. Bacharel em Artes (Literatura Inglesa) pelo Haverford College e Mestre em Jornalismo, pela Columbia University. Editor-chefe da revista The Beltway Poetry Quarterly, apresentador do Poetry at the Port (Haiti), e co-dirigente da DC-ALT (Washington D.C.´s Association of Literary Translators). Curador da plataforma literária Ablucionistas (México). Publicou 22 livros de poesia, incluindo Sur l’île nostalgique (L’Harmattan, 2020), The Migrant States (Hanging Loose Press, 2020) e Lírica a tiempo (Mesa Redonda, 2020). O livro The Elephants of Reckoning ganhou o Prêmio Paterson de 1994, nos Estados Unidos. Na música, produziu o álbum Rankont Dout. Publicou no The New York Times, The Hindu, Reforma, El Norte, entre outros. Bolsista da The Foundation for the Contemporary Arts (2020), da New York Foundation for the Arts, do U.S/Mexico Fund for Culture e da Macdowell Colony. Ganhou os Juegos Florales de Guayamas, Sonora (México), em 2006, com o poema “Juárez”. Dirige e cria conteúdo para o site The Poetry Channel, no Youtube. Em 2021, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.

 

TERRITÓRIO

 

Como um cão

que urina

o muro para marcar

seu território,

 

o diplomata assiste

ao coquetel e começa

a falar aos demais

convidados

 

da gripe aviária,

da revolução francesa,

do concerto da

filarmônica de Viena

 

pela primeira vez

em terras régias,

um acontecimento

para contar aos bisnetos.

 

Ouça, não houve acordeões

nem botes, homens puros

vestidos de smoking

tocando fagotes e trompas

 

para anunciar o amanhecer,

o primeiro dia, o ano novo.

 

 

CODA

 

O diplomata regressa a casa,

sintoniza seu rádio

em uma emissão postergada

do concerto da noite,

 

dá de comer a seu cão.

 

 

JUÁREZ

 

i.

Nem moscas, nem borrachudos: asas

nascidas no pó, mitocôndria,

se entrelaçam dando voltas

no ar perante a mesa

aonde os poetas falam

de escrever sobre cadáveres.

 

ii.

Não se pode cair

nestes barrancos passar

uma noite tranquila, levantar-se

ao amanhecer e caminhar

para buscar água doce

do riacho próximo que flui

 

através dos terrenos baldios

e sua escova de plástico,

sapatos, tangas, dentes.

 

 

VOAR

 

Quando amanhece o dia,

quando a luz se vai

e a noite começa;

 

quando nossos filhos

principiam a caminhar

e a ir à escola,

 

e se despedem

de nós

nas portas

 

da universidade,

e viajam de país

em país

 

para enviar-nos

postais

de sua maturidade

 

as fotos

de seus próprios filhos

aí encontraremos

a poesia escrita

para capturar

o voo

 

da borboleta

justo quando se vai

para conciliarmos

 

com a perda

dos entes queridos,

de nossos pais

 

ainda com os gatos

e cães, a poesia

nos acompanha

 

quando ganhamos

um emprego e

quando perdemos,

 

é amiga, consolo,

ponte até Deus,

Mulher, o mistério,

 

o irracional, nos

assegura que não estamos

sós, que habitamos

 

uma comunidade

feita de metáforas,

ritmos, cadências,

 

de linguagem, pois,

e seus bailes

e cantos.

 

[tradução do espanhol por Marcos Freitas]

 

Publicado na Revista da Academia de Letras do Brasil, Ano 2, Número 3, jan./jun., 2020, ISSN 2674-8495.