ANA MARIA BERNARDELLI
ANA MARIA BERNARDELLI

EU ME PROCURO

 

 

 

Eu me procuro no ventre da vida

nas águas insones, na minha cidade,

Eu me procuro na sorte parida,

na floração do amor de verdade.

 

Eu me procuro no redemoinho,

no sol da manhã, na alvorada,

Eu me procuro no berço, no ninho,

na boca da noite, na madrugada.

 

Eu me procuro no trem da história

que parte de mim rumo ao além,

Eu me procuro nos vagões da memória,

Paisagens que são estações do bem.

 

Eu me procuro na casa invadida,

nas recordações da minha infância,

Eu me procuro na alma escondida,

no medo, no espelho, na distância.

 

Eu me procuro no silêncio do grito,

no pesadelo, no sonho sonhado,

Eu me procuro esperança e conflito,

no tempo de Deus, perdido e achado.

 

Poema de Diego Mendes Sousa

 

 

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Penso que todos nós passamos por momentos de busca interior. Daí o senso poético coletivo dos versos de Diego Mendes Sousa.

O poema "Eu me procuro", de Diego Mendes Sousa, apresenta uma reflexão profunda sobre a busca interior e a jornada pessoal de autoconhecimento. Através de imagens poéticas e simbolismo, o poeta explora os diferentes aspectos da vida e da experiência humana, expressando a complexidade e a ambiguidade inerentes à busca pela identidade e pelo sentido da existência.

A estrutura do poema é marcada pela repetição do verso "eu me procuro", que serve como um refrão que ecoa ao longo do texto, reforçando o tema central da busca interior. Essa repetição cria um ritmo hipnótico e uma sensação de movimento contínuo, sugerindo que a busca por si mesmo é uma jornada interminável e multifacetada.

Ao longo do poema, o eu lírico explora diferentes aspectos da vida e da experiência humana, desde a infância até a maturidade, desde os momentos de alegria até os de dor e de conflito. O poeta utiliza uma linguagem sensorial e evocativa para descrever esses momentos, convidando o leitor a se conectar emocionalmente com a jornada do eu lírico.

As imagens poéticas utilizadas pelo poeta são ricas em simbolismo e significado, como o "ventre da vida", as "águas insones" e o "sol da manhã", que evocam uma sensação de renascimento, transformação e renovação. Esses elementos simbólicos contribuem para a profundidade e a universalidade da mensagem do poema, que ressoa com experiências e emoções compartilhadas por todos nós.

No entanto, apesar da busca constante e das múltiplas experiências vivenciadas pelo eu lírico, a sensação de autoconhecimento e completude permanece elusiva. O poema sugere que a busca pela identidade e pelo sentido da existência é uma jornada complexa e muitas vezes paradoxal, marcada por esperança e conflito, silêncio e grito, medo e alma escondida.

"Eu me procuro" é um poema que convida o leitor a refletir sobre sua própria jornada de autoconhecimento e busca interior. É uma ode à complexidade da experiência humana e à beleza da busca incessante pela verdadeira essência de quem somos.

 

 

 

*Ana Maria Carneiro Bernardelli é poeta, ensaísta, crítica literária e palestrante. Graduada em Letras, é professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, atuando por mais de 40 anos como professora de Literatura e Produção Textual e exercendo magistério desde o ensino básico até a Universidade. Também é Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. É Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.