POEMA "A PATÉTICA DOS POETAS", DE DIEGO MENDES SOUSA - UM ESTUDO DE ANA MARIA BERNARDELLI
Por Diego Mendes Sousa Em: 27/09/2024, às 19H25
A PATÉTICA DOS POETAS
Não olhes para os profetas
Eles recamam a profecia
Os poetas te revelam
os adornos da vida
Chama para ti
os tálamos da noite
o amor se faz em relva
nas membranas dos sexos
lamosos
quando as aves são cálamos
que escrevem plumagens
nas soturnas aragens
Os profetas lançam perfumes
em miragens
Os poetas calam
Olha para os poetas
eles são sábios
Poema de Diego Mendes Sousa
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Um olhar encantado para mais um poema de Diego Mendes Sousa
Por Ana Maria Bernardelli
O poema “A Patética dos Poetas”, de Diego Mendes Sousa, explora o contraste entre profetas e poetas, utilizando metáforas e imagens para aprofundar a discussão sobre o papel de ambos.
Na teoria poética, há uma busca pelo transcendente e pela revelação da verdade através da linguagem. Os poetas, segundo o poema, revelam “os adornos da vida”, o que sugere que eles têm um papel de revelar a beleza, a complexidade e a sutileza do mundo. O termo "patética" no título remete à ideia de pathos, ou seja, à capacidade dos poetas de provocar emoção profunda, em contraste com a suposta racionalidade dos profetas.
Emocionalmente, o poema convida o leitor a valorizar a sensibilidade dos poetas, que, ao contrário dos profetas, não se limitam a previsões ou mensagens dogmáticas. Os poetas são descritos como aqueles que se conectam com a intimidade e a realidade tangível, como sugerido nas imagens de "tálamos da noite" e "amor que se faz em relva". Há uma fusão de erotismo e natureza, representando a união primordial entre os seres humanos e o mundo. O uso de palavras como "cálamos", "membranas" e "plumagens" cria um ambiente sensual e sutilmente tenso, onde o amor e a criação são sublimes e terrenos.
As metáforas no poema são poderosas e carregadas de significado. A metáfora de “aves são cálamos que escrevem plumagens” sugere que os poetas, como as aves, escrevem suas próprias existências com palavras que têm a leveza e a beleza das penas. As "soturnas aragens" trazem uma sensação de mistério e escuridão, enquanto os "profetas lançam perfumes em miragens", uma metáfora para a ilusão ou a superficialidade das profecias que, embora perfumadas, não são tangíveis.
A linguagem usada por Diego Mendes Sousa é rica em lirismo e musicalidade, refletindo a tradição poética da língua portuguesa, que valoriza o som, o ritmo e a imagem. Os versos curtos e a escolha cuidadosa de palavras criam uma cadência que reforça o contraste entre a superficialidade dos profetas e a profundidade dos poetas.
Em síntese, o poema exalta o papel dos poetas como guardiões da verdade emocional e sensorial, em oposição aos profetas, que oferecem apenas visões fugazes e ilusórias. Os poetas, com sua sabedoria e capacidade de calar, permitem que a verdade seja sentida, vivida e compreendida de forma mais profunda e significativa.
Leitura de Ana Maria Bernardelli
*Ana Maria Carneiro Bernardelli é poeta, ensaísta, crítica literária e palestrante. Graduada em Letras, é professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, atuando por mais de 40 anos como professora de Literatura e Produção Textual e exercendo magistério desde o ensino básico até a Universidade. Também é Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. É Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.