OVIDIO: METAMORFOSES
 
TRAD. LIVRE DE ROGEL SAMUEL
 
A MINHA ALMA CANTA
AS FORMAS TRANSFORMADAS EM OUTRAS FORMAS.
Ó DEUSES, INSPIRAI-ME!
POIS NÃO FOSTES VÓS, POR CERTO,
QUEM AS TRANSFORMOU?
MINHA OBRA E MEU CANTO
CONDUZI, ININTERRUPTO,
DESDE AS PRIMEIRAS ORIGENS
DESTE MUNDO
ATÉ A NOSSA ÉPOCA ATUAL.
 
Antes do mar, antes da terra e do céu
que tudo cobre
um só era o todo desta natureza
a que chamamos Caos,
massa rudimentar massa informe.
Nada senão seu próprio peso
sim, as coisas semeadas em discordes
montes, amontoadas sem nenhum ajuntamento.
 
Pois nenhum filho do Céu e da Terra
dava luz ao mundo. Nem Febo no horizonte
no nascente
reconstruía seus chifres,
nem a terra pendia do ar
que a envolvia em sustentáculo
vazio, em seu próprio peso,
nem mesmo a querida Anfitrite
(a virgem) estendia
seus braços pelos limites
daquelas terras.
 
Onde quer que houvesse o piso da terra
ali também havia o mar, havia o ar.
A terra instável, a onda inábil, o ar
privado daquela luminosidade.
Nada ali permanecia como era,
em sua forma própria, e uma coisa
se chocava às outras porque
num só corpo o frio lutava contra
o quente, o úmido com o seco,
o mole com o duro, o pesado
contra o sem peso algum.


Tenho saudade de Ovídio, da Faculdade de Letras, a FNFi, quando nós nos debatíamos com o dificílimo texto para traduzir. Lembro-me com saudade do livro na edição da “Les Belles Lettres”. Tudo passou, tudo morreu. Tudo se modificou, na metamorfose na impermanência de todas as coisas. Passaram os anos de faculdade, passou a juventude, mas o poeta continua imortal (Rogel Samuel).