Os fracos não têm vez
Por Bráulio Tavares Em: 22/04/2012, às 09H52
[Bráulio Tavares]
O romance de Cormac MacCarthy e o filme dos irmãos Coen têm o mesmo título, No Country for Old Men, que foi traduzido aqui como Onde os Fracos Não Têm Vez. É uma citação ao poema “Sailing to Byzantium”, de William Butler Yeats. O poema do irlandês conta a ânsia de viagem de um homem maduro para longe do país em que vive, um país voltado para os jovens e os deleites da vida. O homem quer ir para Bizâncio e entregar-se a atividades de natureza mais espiritual. No filme e no livro os indivíduos mais velhos estão diante de atos de violência de uma proporção que lhes parece espantosa, e se queixam (principalmente nas sequências em que aparece o xerife Bell, interpretado por Tommy Lee Jones) de que “os jovens hoje fazem o que bem entendem, e o mundo está perdido”.
Na verdade a culpa nem é dos jovens, a menos que vejamos neles um mercado significativo para as drogas que desencadeiam a verdadeira matança que ocorre ao longo da narrativa. O enredo é uma variante do argumento “Sujeito Descolado Põe as Mãos Sem Querer Numa Fortuna Que Pertence a Gente Braba”. Daí em diante, a narrativa vai se transformar num jogo de gato e rato onde os gatos são muitos e o rato é um só. Llewellyn Moss (Josh Brolin) é um ex-veterano do Vietnam cheio de pequenos truques e que sabe usar uma arma, mas além da polícia e dos traficantes ele está sendo caçado por Anton Chigurh (Javier Bardem), um dos vilões mais imprevisíveis e filosóficos que a literatura e o cinema nos deram nos últimos tempos. Chigurh mata por crueldade, mas mata também por algum tipo de missão cósmica que não entendemos bem, mas que parece guiar suas decisões muitas vezes surpreendentes.
Há um diálogo emblemático no filme, quando um xerife idoso diz: “Alguém iria imaginar que um dia, nas ruas do Texas, passariam rapazes com cabelo verde e um osso enfiado no nariz? E alguém iria imaginar que seriam nossos filhos?”. Os tempos estão mudando. O livro de MacCarthy é uma reflexão sobre a enorme importância da droga dentro de nossa sociedade. A droga que leva homens a se fuzilarem uns aos outros, a sangue frio, numa chacina progressiva que dura semanas e atravessa várias cidades. Alguém dirá que estão se matando por dinheiro; mas a droga é um dos meios mais baratos para produzir dinheiro fácil. É um dos negócios mais lucrativos, em termos do quanto se investe. A droga significa Prazer para uns e Dinheiro para outros. Enquanto o Prazer e o Dinheiro forem o objetivo de tudo que fazemos, a sociedade não se livrará da droga. E daqui a algumas décadas em nenhum país existirão pessoas velhas. Todo mundo morrerá cedo – por causa da droga, do prazer e do dinheiro.