Obrigado, Rey

Camila Piacesi - especial para o Portal Entretextos

Não poderei, como gostaria de tentar fazer, pedir uma entrevista ao grandioso escritor e poeta Reynaldo Jardim, 84 anos. Morreu na noite desta segunda-feira, em decorrência de complicações causadas por aneurisma na artéria aorta abdominal, o jornalista Rey. Ele estava internado no Hospital do Coração de Brasília.

Nasceu em São Paulo, no dia 13 de dezembro de 1926, veio para Brasília no ano de 83, onde casou e teve três filhos, Rafael, Gabriel e Micael.

No início da carreira, foi redator das revistas "O Cruzeiro" e "Manchete", além de ter trabalhado em diversas rádios. Após sair do "Jornal do Brasil", em 1964, ocupou cargos como o de diretor da revista Senhor e o de diretor de telejornalismo da TV Globo.

Rey, um protagonista da reforma gráfica de jornais do país inteiro. Criou um estilo mais simples, e, com editorias mais divididas, trouxe uma praticidade maior ao leitor.

Não pude faltar ao enterro, ocorrido ontem, 2 de fevereiro de 2011, em Brasília, de um dos maiores escritores e jornalistas brasileiros. Apesar de ter apenas 21 anos, reconheci grandes profissionais que estavam ao meu lado e me senti lisonjeada por estar ali, prestando uma última homenagem ao grande poeta.

Vi coroas de rosas vermelhas, brancas e amarelas, com dizeres que expressavam antigas amizades. Uma canção foi entoada em sua homenagem, pela amiga que depois abraçou a mulher do autor de "Sangradas Escrituras". Falaram amigos, um dos filhos e Elaina Daher, sua companheira de mais de duas décadas. Uma senhora, que transmitia o sentimento de profunda amizade por Reynaldo, leu um versículo da Bíblia.

Quando Elaina e Reynaldo se conheceram, ela, com 22 anos, estudava jornalismo. Foi entrevistar Rey e com ele se casou. A fala de Elaina, no enterro de seu marido, foi de saudade, mas não de tristeza. Afinal, como ele mesmo dizia, “quando eu morrer não quero nada de choro, só samba”!

Dentre várias pessoas que estavam presentes, reconheci o jornalista Jairo Viana, respeitado ex-colunista do Jornal de Brasília. O veterano militante político e pesquisador da história de Brasília e do Brasil Jarbas Marques, que foi preso e barbaramente torturado durante o regime militar, proferiu uma fala de amigo que muito me emocionou. Quando seu filho falou, eu estava um pouco afastada, para tirar uma foto do grupo de amigos, parentes e admiradores do Reynaldo que estavam presentes, mas no dia seguinte, agora há pouco, li no jornal a carta que Micael escreveu a seu pai, depois do falecimento. Algumas dessas fotos ilustram a presente crônica. 

De táxi, fomos ao Cemitério Campo da Esperança eu, Adrino Aragão, escritor amazonense que reside há muitos anos em Brasília, e Flávio Bittencourt, funcionário do Iphan e colaborador do Portal Entretextos, que me chamou para fotografar a despedida. Como minha máquina fotográfica estava emprestada e, por celular, não consegui falar com a amiga que está com ela, peguei outra câmera com uma parente, não podendo comparecer ao velório do corpo de meu colega, quando ainda estava sendo velado no Teatro Nacional. Além de fazer algumas fotos, resolvi escrever estas linhas, em forma de crônica, porque é difícil fazer um texto com isenção afetiva quando a personalidade enfocada é Reynaldo Jardim.

Reynaldo Jardim, seus feitos são tantos que se forem descritos, não caberiam aqui.

O mundo literário, midiático e da poesia foi totalmente mudado e reformado pela contribuição de Rey. Fiquei emocionada em seu sepultamento, mas, mesmo assim, consegui tirar as fotos.

Confesso que, ao chegar no Campo da Esperança, estava um pouco nervosa, porque eu tinha a missão jornalística a realizar, mas, me lembrando de quem foi Reynaldo Jardim, pude realizar a tarefa, acho que a contento, se houver benevolência de quem vê o seu resultado.

Imagino que se eu pedisse uma entrevista a Reynaldo, ele não se negaria a falar comigo. Afinal, o jornal que fundou, "O Sol", que deveria ser um jornal-escola - mas não um jornal-laboratório de faculdade, pois ele foi inventado para ser vendido nas bancas, como qualquer veículo de mídia impressa comum -, não permitiram que existisse, no tempo da falta de democracia no Brasil que foi o pós-64. Seria uma experiência crítica e criativa, para alunos de jornalismo, letras, artes, teatro, cinema, rádio & tv e editoração. Para os alunos e para os leitores! Como Reynaldo Jardim afirmava que hoje falta o ponto de exclamação no jornalismo brasileiro, aí foi um, como gesto de carinho ao colega que partiu.

O legado de Reynaldo Jardim jamais será esquecido. Obrigado, Rey.