O relatório do Conselheiro Zacarias
Por M. T. Piacentini Em: 06/01/2010, às 08H35
M. T, Piacetini
É de 15 de julho de 1854 o “Relatório do Presidente da Província do Paraná, o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, na abertura da Assembleia Legislativa Provincial”. Zacarias (Valença/BA, 1815-1877), que já governara as províncias de Piauí e Sergipe, tinha 38 anos de idade quando veio instalar e presidir a província do Paraná, em 1853. Foi várias vezes deputado pela Bahia, professor de Direito Administrativo no Recife e presidente do Conselho de Ministros do Imperador D. Pedro II em 1862, em 1864 e novamente de 1866 a 1868. Ou seja, estamos falando de um membro da elite intelectual do País no século XIX.
Das seis páginas desse relatório extraí todas as frases que contêm um pronome átono, de modo que possamos observar sua colocação em relação ao verbo. Elas foram atualizadas ortograficamente para melhor compreensão do leitor.
A primeira questão que salta à vista é que na época havia uma predominância da ênclise:
1) Cumpria-me, senhores, ver-vos reunidos o mais cedo possível para ter, nos representantes da província, o apoio de que tanto necessitava; mas ocorreram razões que impeliram-me a usar da faculdade, concedida pelo art. 24 § 2 do ato adicional, de adiar a assembleia. Essas razões, eu substanciei-as na portaria de adiamento de 4 de maio último.
2) Grande júbilo toca-vos pela distinta honra de serdes os primeiros representantes da nova província.
3) Celebraram-se eleições de senador, deputado geral, e membros da assembleia legislativa provincial.
4) [...] foram votados, e têm assento nesta assembleia, muitos cidadãos distintos do lado luzia, e quando, depois, teve-se de proceder à eleição do senador, achando-se [...] os luzias com mais alguns eleitores que seus adversários, compôs-se a lista tríplice.
5) [...] os tristes acontecimentos de S. José dos Pinhais em 7 de setembro de 1852, pensarem que os partidos aqui medem-se ordinariamente pela força física.
6) A segurança individual, se não é qual convém e deseja-se, pode-se afirmar que é superior ao que permitem os escassos recursos.
7) Tendo assaltado a fazenda do alferes D. F. Machado, matou-o e a oito de sua família.
8) Em fevereiro, pois, pensando que ia repetir-se uma dessas cenas [...] apenas advertido da aproximação dos índios, saiu-lhes ao encontro sem cautela alguma a recebê-los; mas logo ferido mortalmente achou na deslealdade deles, e no próprio descuido, como acabei de dizer-vos, o seu prematuro fim e o de sua família.
9) Agitam-se frequentes questões de posses e limites [...].
10) O chefe de polícia teve, conseguintemente, ordem de passar-se àquele município para tomar as precisas providências.
Os 17 casos assinalados nos mostram o pronome depois do verbo (a ênclise), mesmo quando antes do verbo aparece uma palavra que atualmente consideramos “atrativa”, como o relativo que (frase 1) e o advérbio aqui (frase 5). Sempre é o verbo que inicia a frase, não o pronome (3 e 9). Há uma preferência pela ênclise depois da vírgula, mas não fatal. Poderemos observar isso na próxima semana, quando discutiremos igualmente o caso da atratividade do QUE.