As crises econômicas geram as guerras. Uma guerra foi sempre a resposta dada às crises, às hiperinflações.
Ainda há o perigo da guerra? Nada sei, mas muito desconfio.
Foi uma crise que levou Hitler ao poder, e lhe deu tanto poder carismático.
A individuação na sociedade primitiva era fundada na fusão provocada pela festa. Neste sentido, a guerra participava da mesma natureza que tinha a festa. A guerra produzia a
unidade do grupo, com a característica de dirigir a violência destrutiva para fora.
A festa provocava a dissolução da violência “para dentro”. Um retorno à intimidade perdida.
A família, como concepção burguesa de organização da sociedade em núcleos familiares, mantinha viva a “biologia” da vida, presa à propriedade privada, mas o Estado moderno dissolveu os núcleos familiares.
O resultado da guerra antiga, para o vitorioso, era o consumo do escravo, como propriedade e coisa. O princípio do militarismo é a reversibilidade metódica da violência social para fora. E todo Estado considera seu vizinho um inimigo em potencial.
Chama-se Estado ao princípio da ordem racional que organiza um todo com a finalidade de sua própria sobrevivência.
O Estado moderno, apesar da globalização, como empresa, sempre vê o seu vizinho como um perigoso concorrente. Todo Estado sempre se prepara para a guerra. A guerra é a mãe do Estado. A idéia de dissolução das nacionalidades e do nacionalismo nasceu nas internacionais socialistas, que viram isto desde 1848. Mas o projeto de dissolução dos Estados nacionais, e do nacionalismo, hoje, ameaça com sinais de um Império Universal que está em crise.
O impasse do militarismo moderno reside na organização de um império que se tem de consolidar, econômica e universalmente. Se o problema do Estado é a existência de outro Estado nas suas fronteiras, o problema do Império é a existência de outro Império.
Os exércitos da Rússia e da China ainda são uma "ameaça".
(Esse texto pertence a "A RECONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DO GRANDE SERTÃO", tese de doutoramento de Rogel Samuel, 1983, inédita).