Uma pesquisa realizada pelo site Net-Mums.com – um dos maiores portais ingleses de orientação familiar – constatou que as mães são mais exigentes com as filhas e mais liberais com os filhos. Os dados são interessantes: 21% das mães admitiram serem mais duras com as meninas, contra apenas 11,5% das que disseram os mesmo em relação aos garotos. Além disso, 22% delas afirmaram fazer vista grossa a certos atos dos filhos.
Especialistas em comportamento acreditam que essa atitude, claramente machista, mas não percebida conscientemente pelas mães, é uma forma encontrada por elas para proteger e preservar as filhas. O raciocínio parece ser o seguinte: como os meninos são estimulados a serem ousados é preciso resguardar as meninas desses potenciais predadores.
Assim, as mães, ao insistirem em vestir as filhas com tiaras brilhantes e vestidos rodados, transformam-nas em virtuais princesas sempre em busca da proteção de um hipotético príncipe encantado. Do mesmo modo, ao colocar nos pés dos filhos – antes de mesmo de começarem a engatinhar – uma bola, querem com essa atitude reforçar um comportamento aparentemente viril e, como consequência, adequado ao que se espera de um menino em nossa sociedade.
É possível perceber que apesar de já termos ingressado na segunda década do século XXI, conceitos machistas que estabelecem normas de conduta para homens e mulheres, não importando a faixa etária, ainda são muito comuns. Em muitas famílias estimula-se a ousadia nos meninos, enquanto as meninas devem ser cuidadosas nas suas ações para não se tornarem troféus na eterna luta masculina por um lugar ao sol. E o extraordinário é que, como revela essa pesquisa, são as mulheres as que mais ajudam a reforçar esse tipo de modelo.
No entanto, nem tudo são clichês. Parece que as meninas estão cada vez mais críticas e questionadoras rejeitando o papel de “princesas” que ainda insistem em lhes imputar. O fenômeno, inclusive, já foi percebido pelos estúdios de cinema. Relatórios informam que a Disney diminuiu a produção de animações de princesas e está preferindo investir em personagens de videogame, pensados para ambos os sexos.
Essas são notícias interessantes e, feminismos a parte, já não era sem tempo. É preciso superar essa ideia de que a mulher necessita de proteção enquanto o homem deve estar permanentemente correndo riscos. Numa época na qual uma mulher ocupa o cargo mais importante da nação é no mínimo ridículo insistir nesse estereótipo.
Contudo, as primeiras a se conscientizarem de que esses clichês devem ser deixados para trás são justamente as mulheres. Elas precisam entender e aceitar que suas filhas não necessitam ser protegidas ou resguardadas. Na verdade, elas precisam de orientação na melhor maneira de explorar os seus potenciais, assim como acontece desde sempre com os meninos. Estimular a autonomia e a independência é o primeiro passo. Uma mulher dona do seu próprio nariz irá optar pelo papel de princesa apenas se lhe for conveniente.
De minha parte posso dizer que desde cedo fui orientada a buscar a independência e a expressar minhas opiniões. O desejo de minha mãe sempre foi o de me ver inserida nesse universo tipicamente masculino nas melhores condições possíveis de igualdade. Para ela era fundamental ver-me batalhando pelos meus sonhos e atingindo meus objetivos. No entanto, isso não significa que não tenha experimentado meus momentos de princesa. Ao contrário. Eu os tive e deles não me arrependo ou envergonho. O importante é que não me demorei nessa experiência por muito tempo, talvez por ter percebido que era melhor e mais divertido ser uma plebéia. Afinal, não é na plebe que surgem os ideais para as grandes revoluções?