(Miguel Carqueija)

 

Na grande fantasia, a saga de Kagura ombreia com a de Harry Potter

O CHARME DISCRETO DA TSUCHIMIYA



    “Como fui me esquecer de alguém tão importante para mim?”
     (Tsuchimiya Kagura, no volume 9 de “Ga-Rei”, mangá de Hajime Segawa)


    A análise psicológica de Tsuchimiya Kagura, personagem dominante na saga de “Ga-Rei”, é fascinante. É um vívido exemplo de como os criadores japoneses são, em média, mais profundos que os seus colegas norte-americanos onde, afora o universo Disney, predominam os super-heróis.
     No volume 9 da novela gráfica o presente e o passado se reencontram. A invasão do sobrenatural no Japão deriva para consequências imprevisíveis. A destruição causada no volume 7, pela Raposa de Nove Caudas, produziu uma “zona fantasma”, cercada e interditada, no centro de Tóquio, onde evolui o assustador fenômeno do “Naraku” ou aglomerado de espíritos malignos (isso existe também na série “Inuyasha”) e onde surgiu uma garota de origem desconhecida, Izumi, que faz lembrar a falecida Yomi.
    Kagura, após o combate com Setsuna e a Raposa, perdeu a memória. Mas ao cair em estado comatoso após novos combates com os zumbis Naraku, a memória do passado abre caminho de seu subconsciente. Os sonhos mostram o que se passou há poucos anos: entregue pelo próprio pai à família Isayama, Kagura, então quase uma criança, é acolhida por Yomi, filha adotiva do patriarca desta família. “Era eu quem estava gripada ontem”, diz a lembrança de Kagura, “ e ela cuidou de mim, a noite inteira, sem dormir... por isso... ela pegou a minha gripe...” Entra o pensamento de Yomi: “Acho que sempre quis ter uma irmã. Eu também sempre estive só. E por isso, não vou deixar a Kagura sozinha.”
      É nesse ponto que Kagura acorda e, deparando com Izumi velando por ela, na beira da cama, murmura: “Yomi... minha irmã?” Só então fica claro, aos leitores, que de alguma forma Yomi retornou, materializou-se como Izumi, sofrendo também de amnésia. A comoção de Kagura, levada ás lágrimas pela recordação, é pungente: “Ela sempre me protegia... como se fosse minha irmã. Nós éramos como uma família de verdade... e ela me amava. Ser gentil... o meu jeito de viver... aprendi tudo com a Yomi... Foi tudo graças á Yomi. Tudo porque ela apareceu na minha vida.” E o abraço em Izumi é sincero e profundo.
    Mas Kagura ainda não se lembrou do que aconteceu depois — a perversão de Yomi, que foi tomada pelo poder maligno da pedra da morte controlada por Mitogawa, o manipulador de almas. Como Yomi se tornou uma assassina diabólica, dotada de poderes sobre-humanos e que, inclusive, matou o pai de Kagura. E como Kagura foi obrigada a matar Yomi num combate encarniçado.
    Qual será a solução desse tremendo impasse espiritual? A alma pura e abençoada de Kagura redimirá Yomi?
    NOTA: “Ga-Rei” é uma franquia baseada em elementos místicos típicos do Japão.