Escreveu Holderlin este “Por de sol”, que leio na sempre bela tradução de Manuel Bandeira:
Onde estás? A alma anoitece-me bêbeda
De tôdas as tuas delícias; um momento
Escutei o sol, amorável adolescente,
Tirar da lira celeste as notas de ouro do seu canto da noite.
Ecoavam ao redor os bosques e as colinas;
Êle no entanto já ia longe, levando a luz
As gentes mais devotas.
Que o honram ainda.
O poeta se refere a Apolo, ao sol, ao deus da luz e do sol (“Êle no entanto já ia longe, levando a luz”), da verdade, da profecia, do pastoreio, da beleza, da medicina, da cura, da música (“Tirar da lira celeste as notas de ouro do seu canto da noite”), da poesia e das artes. Apolo é o deus dos adolescentes (“amorável adolescente”), ajudando na transição para a idade adulta. Assim, ele é sempre representado como um jovem que simboliza a pureza e a perfeição. O poeta está bêbado das delícias de Apolo, da beleza, da música, da poesia. Ao redor, os bosques e as colinas escurecem. O sol já vai longe, levado pelo deus da luz. Com ele iam também “As gentes mais devotas / Que o honram ainda”.
É Holderlin. Daí se vê porque Heidegger dizia que em Holderlin encontrou a essência da poesia, a linguagem poética como a linguagem autêntica do ser, e para ele a essência da poesia contém o ser. “A poesia é o fundamento que suporta a História”, disse Heidegger. “Na poesia os homens se reúnem sobre a base de sua existência”, escreveu o filósofo.