ELMAR CARVALHO

O livro Noturno de Oeiras e outras evocações já estava editado fazia alguns meses. Por motivos que não quero declinar, alheios à minha vontade, ainda não fora lançado. Mas tudo tem seu tempo, como diz a Bíblia. Certo dia de sábado, uma comitiva do Instituto Barros de Ensino – IBENS, procedente da velha capital, veio visitar a Academia Piauiense de Letras. Tive a oportunidade de contar para as diretoras do educandário essa situação. Elas me disseram, sem que eu nada pedisse, que fariam o lançamento da obra; que oportunamente me comunicariam a data.

 

Em poucos dias, para minha grata surpresa, a direção do IBENS me contactou e disse que o evento poderia ser feito no dia 3 de dezembro. Combinamos que o apresentador seria o autor do prefácio, o escritor e advogado Moisés Reis, que aceitou a incumbência. No dia marcado, cheguei a Oeiras, na companhia de meu pai e do Zé Francisco Marques. Fomos hóspedes do empresário Miguel Machado, campomaiorense, mas radicado na velhacap, e de sua mulher Lindalva Elisa, oeirense. O evento foi incluído dentro do Projeto “De Poeta, de Músico e de Louco em Oeiras todos têm um pouco”, que este ano homenageou o médico e escritor Dagoberto Carvalho Jr., um dos mais proeminentes ecianos, sobre o qual já escrevi mais de um texto e de quem tive a honra de prefaciar a mais recente edição da obra prima Passeio a Oeiras. A solenidade aconteceu na Praça da Inocência, na frente do IBENS, à boca da noite, como se dizia outrora. Compareceu um público expressivo e seleto. Quando cheguei, Moisés Reis foi logo me dizendo estar satisfeito com a quantidade de pessoas e com o fato de que havia muitos jovens na plateia.

 

Fui recebido pelos dirigentes do Instituto Barros de Ensino, entre os quais se encontrava o patriarca Geraldo Barros, genitor dessa bela estirpe de educadores, entusiastas da causa da cultura e da educação em sentido integral, e não apenas meros repassadores de conteúdo. A diretora Magda Barros fez a apresentação, seguindo um belo e elucidativo script, com roteiro pertinente e bem planejado. Um grupo de alunos do IBENS recitou poemas e fez uma excelente performance do poema Noturno do Cemitério Velho de Oeiras, com todos os intérpretes trajando vestes negras. Francisco Barroso o musicou, e de forma tão feliz que o público acompanhou a música com palmas vibrantes e sincronizadas. A simpática e amável garota Juliana Barros nos encantou com a virtuosidade de sua dança, quase levitação artística. Moisés Reis estava “impossível”, inspirado como sempre, e excedendo-se a si mesmo fez um notável improviso, em que analisou, com argutos olhos de Argos, os textos e teceu comentários percucientes sobre o autor. Apenas cometeu o compreensível pecado de enaltecer meu livro além do que ele merecia, por força de sua lhaneza e generosidade. Quando fui chamado ao palco monumental, disse que pouco tinha a dizer, após o que Moisés falara; que o que deveria falar estava consignado no meu livro; que apenas tinha muito a agradecer. E agradeci ao IBENS pela promoção da festa literária, à comitiva que viera de Regeneração, composta por Alfredo Nunes, Tiago Junqueira e Nileide Soares, e à comitiva campomaiorense, integrada por meu pai, por Zé Francisco Marques e pelo empresário Miguel Machado, pela consideração da presença. A sessão de autógrafo foi deveras concorrida, mas minha caneta não regateou tinta. O promotor de Justiça Carlos Rubem, sempre prestativo e dinâmico, sobretudo no que se refere à arte e à cultura, fez uma verdadeira reportagem fotográfica; por isso mesmo, no autógrafo, o rotulei de promotor de Justiça e de Cultura. Em suma, foi uma magnífica noite de arte, música e literatura.

 

Não pude deixar de comemorá-la, degustando uma cerveja, no emblemático e simpático Café Oeiras; estavam presentes Miguel Machado, sua esposa Lindalva Elisa, Zé Francisco e meu pai. Eis que de repente, fui abordado por Zé Carlos, que sem pruridos de falsa modéstia disse ser o maior goleiro de Oeiras, e ter barrado os maiores goleadores do futebol nacional, inclusive o nosso Simão Teles Bacelar, o legendário Sima, o maior artilheiro do Piauí. Por isso, pediu-me para lhe escrever a biografia. Disse-lhe ser um colega menor, conquanto nunca tenha engolido “frangos” escandalosos. Tive o cuidado de perguntar ao Carlos Rubem se Zé Carlos, realmente, fora o maior golquíper da velhacap. Reservo-me, todavia, o direito de não revelar o teor da resposta. Autografei-lhe um exemplar. E dei por encerrada na madrugada oeirense – em que a brisa me afagava a pele, muito macia e muito levemente, como carícia de pávido fantasma de mulher – o meu périplo e peripécia cultural no encantado sertão dos confins do Mocha.