Cunha e Silva Filho


                                  O grande mal das pessoas são as generalizações. Há que separar o joio do trigo. Isso vale para muitas situações da vida. Saber discernir, com a razão, sem extremismos, sem prevenções, sem calúnias precipitadas. Em todas as denominações religiosas há pessoas de boa intenção, que querem o bem, que, aliás, o praticam. Quando tal ocorre, as denominações religiosas, as crenças, as correntes espirituais,  em especial  as cristãs, praticamente se aproximam, sendo  mínimas suas diferenças  básicas, as quais, ademais,  não as  impedem  de uma convivência sem  maiores atritos nem fanatismos. O grande passo a ser dado entre as diversas religiões ou correntes espirituais deverá ser o de uma coexistência pacífica, tendente a um ecumenismo.
                                 Na caça às bruxas de padres católicos acusados de pedofilia é preciso que a autoridade máxima da Igreja Católica seja firme e não transija com essa prática condenável. Religiosos que nela sejam identificados devem ser alijados do corpo da Igreja. 
                                 Recordo-me de que meu pai, que foi seminarista em Lavrinhas, no Estado de São Paulo, em conversa franca comigo, me contara que, entre colegas seus do Seminário, deles havia que eram verdadeiramente puros e dedicados ao chamamento da carreira eclesiástica. Outros, não. Não eram predestinados, jamais seriam bons padres. Meu pai comentava que aqueles padres imbuídos da Fé e da vocação à vida  clerical se tornariam, anos mais tarde, figuras proeminentes da Igreja. Ele, que não tinha inclinação à vida monástica, desistira quando prestes estava a ir cursar Filosofia em Turim, na Itália.. Tomara a decisão correta e em tempo hábil de desistir da vida religiosa. 
                                Se a Igreja persistir na vontade firme de expurgar padres indignos de seus quadros, seja em que escalão for, poderá reabilitar-se diante da sociedade e readquirir sua credibilidade e o respeito dos católicos.
                               Daí vejo como de extrema importância a formação dos novos religiosos que desejem abraçar a carreira eclesiástica. A escolha deverá ser muito criteriosa, sobretudo nos aspectos da sexualidade. Os seminários católicos devem dar o primeiro passo na direção de uma mudança efetiva para que os novos religiosos sejam pessoas que demonstrem incoercível inclinação à vida secular.
                              Sei que é questão fechada o celibato no catolicismo. Nesse terreno, porém, não me afino com o pensamento da Igreja. O celibato é uma exigência bem pesada aos ombros dos padres. A Igreja poderia renovar nesse aspecto, por exemplo, deixando a critério do religiosos, a opção pelo matrimônio. É perfeitamente factível o alcance dessa opção. Por acaso, não existe, em outras denominações religiosas respeitadas o direito ao matrimônio? Sei que a questão é de alta complexidade e envolve outros componentes que levam a Igreja a não abrir mão do celibato, como a possibilidade de um padre casado não se dar bem no casamento e querer separar-se, e bem assim a eventualidade da paternidade,  aconstituição de uma família, com todos os seus óbices. Essas duas questões são polêmicas e merecem ampla discussão no seio da Igreja. 
                             O que, contudo, não pode continuar é a permanência de uma forma de falsidade ou hipocrisia na prática do celibato que só na aparência se afirma como verdadeira, quando sabemos de longa data de exemplos de padres que geraram filhos sobretudo no passado da história eclesiástica. Essa prática só desserve o catolicismo aqui e alhures. 
                             O homem nasceu para se completar numa união com uma mulher. Um homem saudável, com todas as suas funções biológicas em pleno funcionamento, necessita de exercer sua sexualidade plena. Contrariar tendências naturais do seu organismo seria pedir sacrifício demais de sua parte, em desacordo com a Natureza e todo o seu conjunto em harmonia com o Universo. Não são suficientes o amor espiritual ou platônico, e sublimar todas essas formas naturais equivale a desrespeitar a normalidade da vida.
                            Flexibilizando mais a vida pessoal do clero, o catolicismo  daria um sopro de vitalidade e de renovação nas rígidas normas do comportamento social dos religiosos. Acredito que, com o tempo, a Igreja vai se deparar com a necessidade de acompanhar os tempos atuais, não com o sentido de perder todas as conquistas de seus valores positivos, mas com uma visão terrena compatível com a doutrina do seu rico legado de espiritualidade.