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Na rua Quintino Cunha

 
Rogel Samuel

 
Passei hoje pela Rua Quintino Cunha, e me lembrei do livro excelente de Leonardo Mota “Cabeças chatas” que tem um capítulo sobre o poeta. Foi-me enviado por um pesquisador da obra do poeta de “Pelo Solimões”, Jorge Brito, do Ceará.
Quintino da Cunha (Itapajé, 24 de julho de 1875 - Fortaleza, 1 de junho de 1943) foi advogado, escritor e poeta cearense. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Ceará em 1909, onde começou a exercer a profissão de advogado criminalista. Foi deputado estadual entre 1913 e 1914. Ficou famoso por seu estilo irreverente e anedotas que contava.
Quintino Cunha morou em Manaus, onde conseguiu até algum dinheiro.

 
O cearense é como passarinho
Tem de voar, para fazer o ninho...

 
Com o dinheiro ali ganho – era a época de ouro da borracha – escreveu um livro de versos e foi editá-lo na Europa.
Do Amazonas tirou as belas imagens do “Encontro das águas”, dos rios Negro e Solimões :

 
Se esses dois rios fôssemos, Maria,
Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia
De mim, de ti, de nós que nos amamos!

 
Foram esses versos que tive vontade de recitar ali da Rua Quintino Cunha, bem alto.
Se não o fiz foi porque ali em frente estava a Delegacia.
Ali naquela esquina morava um grande amigo meu já há muito falecido, o Ítalo, meu colega de faculdade. Ia ser assistente do Celso Cunha. Ítalo era um sábio. Alto, mulato, meio cego, tocava piano e sabia de tudo. Um dia me deu uma aula sobre a “Paixão segundo São Mateus”, de Bach.

 
Tempos felizes, aqueles.
Fiquei feliz em ver que o meu antigo amigo morava na esquina da poética rua Quintino Cunha.