Monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes e a criação do Bispado do Piauí.
Por Reginaldo Miranda Em: 16/04/2023, às 10H21
Reginaldo Miranda[1]
Quem rememorar os fatos que ensejaram a criação do Bispado do Piauí não pode olvidar o nome do monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, principal baluarte dessa trincheira de luta. Foi “figura exponencial do clero piauiense”, na expressão de monsenhor Joaquim Chaves[2].
Nasceu esse sacerdote no termo da vila de Picos, em 24 de fevereiro de 1870, filho do casal[3] de proprietários e lavradores Francisco de Oliveira Lopes[4], natural da freguesia de Nossa Senhora da Vitória (Oeiras) e Izabel Maria de Jesus Oliveira, natural da freguesia de Nossa Senhora dos Remédios de Picos; neto paterno de Martinho de Oliveira Lopes e de Maria Maciel de Sousa, ambos naturais e moradores no termo de Oeiras; neto materno de Lourenço Pinheiro da Conceição e Luísa Maria de Jesus, naturais e moradores no termo de Picos.
Foi batizado na igreja matriz de Nossa Senhora dos Remédios de Picos, em 5 de julho de 1870, pelo vigário Francisco Ibiapina de Moura. Recebeu por padrinhos o avô materno Lourenço Pinheiro da Conceição e a tia Francisca Maria de Jesus[5].
Estudando o ensino rudimentar na vila de Picos foi, mais tarde, enviado para São Luís do Maranhão, a fim de continuar os estudos e ingressar na vida eclesiástica, na qualidade de aluno interno do Seminário de Santo Antônio.
Em 29 de junho de 1893, na igreja do Recolhimento, recebeu a ordem do diaconato. Finalmente, concluindo os estudos eclesiásticos ordena-se sacerdote em 19 de maio de 1894, cuja cerimônia acontece na igreja de Santo Antônio[6].
De retorno ao Piauí, trouxe a nomeação para vigário da freguesia de Itamaraty, hoje cidade de Pedro II, onde demorou-se por três anos. Entre março de 1897 a 1898, lecionou no seminário, em São Luiz, nesse último ano sendo nomeado vigário da freguesia de Nossa Senhora do Amparo, em Teresina. Desde então assumiu de corpo e alma a campanha pela criação do Bispado do Piauí, arrostando dificuldades e enfrentando injúrias e difamações. Nesse aspecto, reencetava denodadamente uma luta que principiara no primeiro quartel daquele século com o padre Marcos de Araújo Costa, mas esmaecera completamente nos últimos decênios do Império. Então, fez-se arauto da cristandade piauiense. Pregou na capital e percorreu as freguesias do sertão, incitando o povo que aderiu em massa. Recebeu donativos e preparou a documentação necessária, que foi repassada ao Bispo D. Antônio Xisto Albano, para informar à Nunciatura. Porque esse chefe religioso arquivou a papelada, alegando que a manutenção do Piauí era imprescindível para o sustento do bispado maranhense, o padre Lopes foi a Salvador e conseguiu a adesão do Arcebispo da Bahia, que intercedeu em seu favor.
Sobre esses lances dramáticos lembra mais tarde nosso polígrafo Higino Cunha:
“Desde o ano de 1898, quando ainda lente do Seminário de S. Luís, dedicou-se, de corpo e alma, ao seu ideal favorito, mau grado a má vontade do bispo, em cujo parecer a nova diocese viria arruinar financeiramente a do Maranhão. Voltando ao Piauí, nunca mais descansou durante oito longos anos do seu apostolado: pregou do púlpito, publicou artigos na imprensa local, deprecou no seio das famílias, nas ruas e praças públicas, viajou ao interior do Estado, percorreu outras dioceses, suplicou o concurso de todos, grandes e pequenos, insinuou-se por toda a parte, desenvolvendo uma operosidade onímoda e ubíqua, enaltecendo as vantagens do seu grandioso plano e angariando donativos para pô-lo por obra o mais breve possível. Fundou uma biblioteca, começou a construção de um edifício para nele funcionar o colégio do Sagrado Coração de Jesus, destinado ao sexo feminino, adquiriu uma tipografia com aparelhos modernos, conseguiu a elevação da igreja de N. S. das Dores à categoria de catedral, e um palácio para residência do futuro bispo, doação do cônego Raimundo Gil, seu assíduo e leal colaborador”[7].
A campanha pela criação da diocese piauiense acirrava-se no seio da sociedade, a ponto de tornar-se intolerável a permanência sob o jugo maranhense. O Bispo D. Xisto Albano, em visita à cidade de Teresina, sentiu na pele essa vontade dos piauienses, julgando-se mal recebido, segundo um jornal do Maranhão:
“Pela manhã desse mesmo dia (25 de junho de 1902) seguiu para Flores[8], chegando até Theresina, o sr. bispo diocesano. Acompanhou-o o revd. sr. padre Joaquim de Oliveira Lopes, pároco da freguesia do Amparo, daquela capital, que aqui vieira visitar s. exc. revma.
‘O prelado diocesano, que foi mal recebido pelos teresinenses, regressou a Flores no dia seguinte, e a esta cidade, no dia 27”[9].
Nesse clima receberam festivamente os teresinenses a notícia de que a diocese do Piauí, havia sido criada pela bula Supremum Catholicam Ecclasia regendi munus do papa Leão XIII, de 10 de março de 1901. O primeiro bispo nomeado foi monsenhor Fabrício Pereira, sacerdote de Pernambuco, que renunciou à alta investidura antes da sagração. A 19 de janeiro de 1905, foi assinada a bula Cunetis ubique pateat que elevou a bispo do Piauí o reitor do Seminário da Paraíba, monsenhor Joaquim Antônio de Almeida. O novo antístite aqui chegou e tomou posse do cargo em 12 de março de 1906, diante de manifestações apoteóticos da população eufórica[10].
O padre Luís Gonzaga, vigário de Amarante, relembra esses fatos, inclusive a demora de chegada da notícia, nos seguintes termos:
“No dia 2 de janeiro de 1903, recebeu o padre Joaquim de Oliveira Lopes um telegrama do Exmo. Sr. Arcebispo da Bahia, participando-lhe a chegada das Bulas, dando como definitiva e legalmente criada a diocese do Piauhi.
‘O padre Lopes que já apresentava sinais bem visíveis de uma mania religiosa sobre a criação deste bispado, cuja fisionomia macilenta exprimia os muitos sofrimentos morais e as torturantes preocupações que lhe minavam a existência, reanimou-se, quando ao anunciar a boa nova da criação do bispado do Piauhi, desapressado o peito do enorme compromisso de honra celebrado com seus coestaduanos, ouviu o alegre repicar dos sinos, o apitar das fábricas e dos vapores, o estrugir dos foguetes, o executar de belas peças musicais, o vozear do povo que num entusiasmo delirante e ensurdecedor aclamava o Santo Padre, o Piauhi e o padre Lopes.
‘O telégrafo, os boletins do ‘Piauhy’ e do ‘República’, que eram sofregamente lidos pelo povo, todos festejavam a vitória dessa santa cruzada, o progresso e a autonomia religiosa da terra de Mafrense”[11].
Segundo o referido padre Luís Gonzaga, depois dessa grata notícia não aguardou o então cônego Lopes, restabelecer as forças empobrecidas na luta titânica e formidável. Ao contrário, empreendeu excursão pelas paróquias de São João do Piauí, Paulista e Jaicós, regressando a Picos. “Somente duas paróquias, Bom Jesus e S. Raimundo Nonato, deixaram de ser conhecidas pessoalmente pelo homem de rija têmpera que não poupou sacrifícios para acelerar a propaganda da criação da diocese, a quem os pastores renderam um preito de sincera gratidão pelos relevantes e inolvidáveis serviços prestados à causa do Piauhi”[12].
Desde 11 de junho de 1901, o padre Lopes fora nomeado cônego, por reunião do Cabido. Recebeu o título de monsenhor antístite urbano[13], por Breves da Santa Sé, de 23 de setembro e 8 de outubro de 1909[14].
Consolidada a sua luta pela criação do bispado piauiense, continuou seu trabalho apostolar na freguesia do Amparo. Melhor seria se o reconhecimento tivesse vindo com a nomeação para primeiro bispo da nova diocese, o que não ocorreu. Porém, esse fato não o impediu de consolidar uma liderança incontestável no clero piauiense, percorrendo as freguesias interioranas em trabalho missionário, pregando, confessando, construindo ou remodelando igrejas e capelas. Contribuiu na restauração das matrizes de Pedro II, Valença, Picos e Parnaíba e das capelas de Canto Alegre e Altos; no embelezamento das matrizes de Oeiras e São Benedito, esta última em Teresina; na edificação das capelas de Inhuma[15], Forte[16] e Ipiranga; e na reconstrução das capelas de Simplício Mendes, Alagoinha[17] e Fradinho[18].
Em 1906, obteve sentença favorável em ação que ajuizou contra o intendente municipal de Teresina, para reaver a administração do cemitério da povoação de Altos, hoje cidade de mesmo nome[19]. Na qualidade de vigário da freguesia do Amparo, alegou que o cemitério fora construído há mais de 20 anos pelo seu antecessor e dele havia se apossado indevidamente o referido intendente[20].
Em sua faina religiosa fundou em todas as paróquias piauienses, o Apostolado da Oração. Também, trouxe para Teresina a Sociedade São Vicente de Paulo.
Com o prestígio alcançado não pôde fugir ao debate de ideias, nem ao enredo da política. Defendendo ideias conservadoras, a filosofia escolástica esposada no Concílio Vaticano I, combateu o que considerava ser paganismo, anarquismo e erros do racionalismo, numa luta feroz contra a loja maçônica do Piauí. Seus opositores eram jovens bacharéis piauienses egressos da Escola do Recife, defendendo ideias positivistas, racionalistas e evolucionistas. Foi uma luta titânica. Foi causa de acirramento uma pastoral em que o Bispo D. Joaquim de Almeida, apresentou ao clero e aos fiéis a encíclica Pascendi Dominici Gregis, publicada em 8 de setembro de 1907, pelo Papa Pio X, inculcando-lhes a doutrina da Igreja sobre a maçonaria. Sobre o assunto, anotou Higino Cunha:
“Tanto bastou para se desencadear, na diocese, uma luta tremenda, que, começando pela doutrina, acabou nas retaliações pessoais. O clero e os católicos estiveram, ainda no mais acesso da luta, ao lado do chefe da Igreja. Formou-se um partido católico sob a direção do Dr. Elias Martins, um estilista de raça e um general envelhecido nas batalhas políticas, que n’O Apóstolo’, secundado, mais tarde, por monsenhor Lopes e outros, defrontou memoráveis refregas”[21].
Para agravar a situação, o acadêmico Aurelio Britto publicou um artigo no jornal O Monitor, da maçonaria, com ataques virulentos ao clero, especialmente ao Sr. Bispo, D. Joaquim de Almeida. Foi objeto de Protesto firmado por 356 membros da “União Popular” e da “Associação de São José”, esta última presidida por monsenhor Lopes, em cuja casa de morada deu-se a reunião. Para conhecimento do leitor, segue um tópico desse Protesto:
“Lançando este nosso protesto, os membros da ‘União Popular’ e Associação de S. José, previnem ao sr. Aurelio Britto, ou a qualquer outro do seu pensar, que estão dispostos a repelir as infâmias que por ventura forem publicadas no jornal oficial da maçonaria, quer em outro que entender arrastar pela lama a honra e a dignidade daqueles que muito nos merecem. É preciso que o Piauhy de hoje não desminta os seus loiros do passado”[22].
O referido acadêmico declarou ao jornal O Piauhy, que “não se arreceava da discussão, aceitava-a em qualquer terreno, pelo que estava patente que a sua reposta ao Protesto seria publicada, no Monitor do dia seguinte”. Nessa altura, receoso da sorte do filho e protegido pelo governo, o coronel Pedro Melchiades de Moraes Britto, em 30 de novembro de 1909, dirigiu uma petição ao chefe de polícia, dizendo do seu receio de agressão física contra ele e o filho, inclusive indicando nomes de possíveis agressores e requerendo suas respectivas notificações. Sem perda de tempo, o chefe de polícia interino João Augusto Rosa, notificou a todos os indicados, inclusive a monsenhor Lopes, que, segundo essa autoridade dissera ao policial que o intimou:
“... que essas coisas não o intimidavam, pois que tinha grande quantidade de armamento, rifles, para repelir a qualquer afronta feita às pessoas da ‘União Popular’ e para isto possuía pessoal pronto para o que desse e viesse.
‘Que quando a 26 partiu para o interior do município, sob pretexto de fazer casamentos ia aliciar homens armados e que já conseguira muitos”.
Na verdade, o clima estava acirradíssimo, existindo do lado do governo a acusação de que a oposição pretendia empastelar O Monitor e castigar severamente o referido acadêmico. Por seu turno, a oposição acusava o governo de tentar depor o Bispo, fato que teve funda repercussão na imprensa local e nacional. Para a defesa do Bispo e contra as ações abusivas do chefe de polícia, reuniram-se nos arredores do palácio episcopal, na noite de 2 de dezembro, mais de 200 homens armados com rifles, espingardas, cacetes e punhais. O chefe de polícia mandou aquartelar forças, duplicar patrulhas e guarnecer as casas do governador interino Manoel Raimundo da Paz, do candidato a governador Antonino Freire da Silva, do coronel Pedro Melchiades e da tipografia d’O Monitor. Na versão do chefe de polícia:
“Nas proximidades da Soledade, residência do esmo. sr. Bispo diocesano, as patrulhas conseguiram desarmar diversos indivíduos, somando 52 cacetes e 27 facas as armas recolhidas a esta repartição. Um dos que se encaminhavam, porém, para a casa do exmo. sr. D. Joaquim, armado de rifle, conseguiu desvencilhar-se das praças, homiziando-se na Soledade. Mal chegara ali, um grupo maior de cincoenta pessoas, avançou em atitude agressiva contra o brioso tenente Gerson Figueiredo, que no momento, apenas acompanhado de duas praças, fazia o policiamento nas imediações. Desacompanhado, impotente para resistir aos seus atacantes, certo de ser vencido pelo número, nem por isso o digno oficial, que tanto honra a sua classe, se afastou do seu posto. Apenas pediu urgente um reforço para o quartel, reforço que lhe foi imediatamente fornecido.
‘E tanto bastou para a situação se acalmar e de recolherem à Soledade os grupos sediciosos”.
Nessas circunstâncias, assumiu o governo do Piauí em 15 de março de 1910, o dr. Antonino Freire, eleito em pleito extemporâneo. Para governar com tranquilidade, conseguiu contemporizar com o Bispo, amenizando a situação que tanto abalara a sociedade teresinense.
No entanto, a situação voltou a acirrar-se na sucessão estadual de 1912, vencida pelo candidato da situação, advogado Miguel de Paiva Rosa, um dos positivistas que sustentava luta aberta contra o clero piauiense. Ademais, era filho do chefe de polícia João Augusto Rosa, que chefiara as mencionadas ações contra o clero. Por essa razão, contra ela levantou-se o clero piauiense e outros poderosos formadores de opinião. Para combatê-la e sustentar a candidatura oposicionista do advogado Odilo de Moura Costa, fundou-se o jornal Cidade de Teresina. Miguel Rosa assumiu o governo em 1º de julho daquele ano. Poucos meses depois, na madrugada de 24 de novembro de 1912, foi barbaramente espancado o jovem José de Moura, sacristão de monsenhor Lopes. Deu-se a violência nas proximidades da igreja de São Benedito, da qual estava encarregado o referido sacerdote, morador na sua chácara Tabajara, vizinha ao aludido templo. Mais uma vez, damos voz a Higino Cunha, maçom que se manteve afastado da referida contenda:
“Os oposicionistas atribuíram o atentado a soldados da polícia, disfarçados em paisanas. Acrescentaram que o fato obedecia a um plano ainda mais tenebroso, visando também a pessoa do malsinado padre, quando esse corresse sobressaltado em socorro do seu sacristão. Houve grande alvoroço nos seus arraiais. Ninguém se julgou mais em segurança. Todos se viram ameaçados pelos agentes ocultos do governo. O Apóstolo e a Cidade de Teresina puseram as bocas no mundo e o telégrafo vibrou por toda a parte. O mal estar era geral”[23].
Para agravar a perigosa situação, ainda naquele ano ocorreu outro fato alarmante:
“A 1º de dezembro de 1912, em pleno dia, numa das ruas mais concorridas desta cidade, no balcão de uma casa comercial, o dr. Francisco de Moura Falcão Costa matou a tiros de revólver o major Gerson Edson de Figueiredo, em desafronta de uma agressão que sofrera no fim da campanha eleitoral contra a candidatura Miguel Rosa, por praças da polícia comandada pelo referido major. Estabeleceu-se o terror pânico na cidade, houve correrias pelas ruas mais próximas do rio Parnaíba, descargas de rifles no interior de diversas casas e no paço episcopal onde monsenhor Raimundo Gil escapou, por milagre, de ser vitimado, e varejou-se o seminário, onde só se encontrou um padre aluno, que não pôde fugir por enfermo. O padre Cícero Nunes safou-se pelos fundos, dirigindo a um amigo um bilhete, interceptado pela polícia e expresso num grito de agonia: ‘Adeus! Até o dia do juízo final!’ Foi assassinado um homem naturalmente pacífico e inofensivo, o cidadão Malaquias das Chagas, só por ser escrivão do juiz federal, com quem o governador estava desavindo. O padre Lindolfo Uchoa sofreu diversos interrogatórios na polícia, como suspeito do ataque ao paço episcopal. O padre Lopes andou de Herodes para Pilatos, percorreu a rua da Amargura, foi recolhido ao xadrez do quartel da polícia e respondeu a diversos interrogatórios, empunhando o seu breviário, impassível e sereno, como Jesus diante dos seus algozes. Relaxado da prisão, desapareceu de Teresina, e ainda despacharam escolta para recapturá-lo, vivo ou morto. Correu o boato de que fora assassinado. No Senado Federal, Rui Barbosa trovejou contra esse suposto assassínio, e toda a imprensa do Brasil se ocupou dos tristes acontecimentos do Piauí. À meia noite de 11 para 12 de dezembro, foram destruídas as oficinas d’O Apóstolo e da Cidade de Teresina.
‘Terminou assim a luta político religiosa contra o padre Lopes, principal fator da criação do bispado do Piauí. Desde então, todas as fúrias do governo convergiram para o preso dr. Francisco Falcão, que, no fundo do cárcere, padeceu torturas inquisitoriais, até que, afinal, absolvido pelo júri, por unanimidade de votos e com os aplausos de toda a sociedade piauiense, a 14 de agosto de 1914, foi solto para ir morrer, poucos meses depois, em consequência dos maus tratos recebidos”.
Monsenhor Lopes, como ficou conhecido, fez-se líder do partido católico denominado “União Popular”, participando ativamente de diversas campanhas eleitorais. Em 1910, apoiou a candidatura presidencial de Rui Barbosa, ao lado de Elias Martins, cônego Raimundo Gil, farmacêutico Collect Fonseca, coronel José Portellada, bacharel Augusto Ewerton e Silva, cônego Fernando Lopes e Silva e padre Amâncio Ramalho, entre outros[24]. Em 1914, engajou-se na campanha parlamentar de Elias Martins e Joaquim Pires, conforme se vê nessa nota sobre sua visita à cidade de Barras:
“Esteve aqui o monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, chefe do grupo oposicionista ‘União Popular’, que anda fazendo propaganda da candidatura do dr. Elias Martins, para deputado e do dr. Joaquim Pires, para senador”[25].
Monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, foi “um sacerdote exemplar, amigo da terra que lhe deu o berço”, no dizer do seu colega padre Luís Gonzaga.
Em 1911, assim o saudou o jornal O Apóstolo:
“Depois de uma longa viagem ao interior do Estado e à capital da República, em cumprimento dos graves deveres de sua alta missão católica, já se acha entre nós, cheio de vida e de ânimo, o respeitabilíssimo Mons. Joaquim de Oliveira Lopes, verdadeiro ídolo do nosso povo, tão fundas e radicadas são as simpatias que o seu nome inspira, no seio de todas as classes.
‘Sacerdote decidido e criterioso, homem de fé ardente e profunda, caráter inteiriço, espírito de lutador, alma feita de luz e de amor, – o nome do grande Piauiense, vale por um programa.
‘A sua presença, portanto, em nosso meio, é um verdadeiro consolo para este punhado de heróis que, de há muito, tomou sobre os ombros a defesa de todos os direitos da Pátria, direitos conspurcados pela turba malta dos inconscientes.
‘Ao popular e estimado Mons. Lopes, glória do clero nacional, o ‘O Apóstolo’, o verdadeiro órgão do Piauhy, envia o seu cartão de visita, desejando-lhe boas vindas e muitas felicidades, estando sempre com as suas colunas abertas para receber as luzes do seu belo espírito e as inspirações do seu coração justo.
‘Ao Mons. Lopes, uma chuva de flores”[26].
Faleceu o inolvidável monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, em 24 de setembro de 1925, vítima de colapso cardíaco, no povoado Inhuma, então termo do Município de Valença, com pouco mais de 55 anos de idade. Para os redatores do jornal A União, do Rio, Mons. Lopes era um “Caráter integérrimo, intrépido lutador pelo catolicismo e pelo Brasil, bateu-se como um leão contra os poderosos chefes políticos maçons do Piauhy, que foram obrigados a respeitá-lo, fazendo justiça à sinceridade e aos altos intuitos desse sacerdote de rara inteligência, de costumes impolutos e de piedade exemplar”[27]. Segundo a notícia fúnebre veiculada no jornal A Imprensa, era um “Sacerdote dos mais cultos, virtuosos e distintos do Piauhy. O desaparecimento de Mons. Lopes abre no seio do clero e da sociedade piauiense um claro difícil de ser preenchido. De trinta anos para cá não há nenhuma empresa de caráter religioso, em o nosso Estado, pela qual se não tivesse batido ardorosamente o ilustre extinto”[28], acrescentou aquele órgão da imprensa[29]. Perdeu o Piauí, àquela época, seu principal líder católico e grande benfeitor.
[1] REGINALDO MIRANDA, advogado e escritor, membro efetivo da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Contato: [email protected]
[2] CHAVES, Mons. Joaquim. Obras completas. Teresina: FCMC, 2005.
[3] Casados 28 de setembro de 1858, na igreja matriz de N. Sra. dos Remédios da vila de Picos.
[4] Na notícia fúnebre do filho é tratado por coronel.
[5] Câmara Eclesiástica. Genere do habilitando Joaquim de Oliveira Lopes. Maranhão, 1891.
[6] Pacotilha, 28.6.1893 e 18.5.1894.
[7] Pacotilha, 19.3.1924.
[8] Hoje Timon, no Maranhão.
[9] Pacotilha, 9.7.1902.
[10] Pacotilha, 19.3.1924.
[11] Escorço histórico da diocese do Piauí. In: O Apóstolo, 24.11.1907.
[12] Idem.
[13] Antistitem Urbanum, id-est Domesticum Praelatum.
[14] Pacotilha, 12.7.1901; O Apóstolo, 9.1.1910.
[15] Povoado do Município de Valença, hoje cidade piauiense, criada pela Lei Estadual n.º 985, de 17.5.1954.
[16] Sítio do Município de Valença, hoje de Inhuma, onde ele possuía muitos parentes.
[17] Povoado no Município de Pio IX, hoje cidade de Alagoinha do Piauí.
[18] Povoado no Município de Ipiranga.
[19] Criada pela Lei Estadual n.º 1401, de 18.7.1922.
[20] Diário do Maranhão, 10.10.1906.
[21] CUNHA, Higino. A criação do bispado do Piauí e o padre Joaquim de Oliveira Lopes. In: Pacotilha, 19.3.1924.
[22] Ofício do chefe interino de polícia, João Augusto Rosa, datado de 6.12.1909. In: Mensagem apresentada à Câmara Legislativa no dia 10.3.1910, pelo governador em exercício, Manoel Raimundo da paz.
[23] CUNHA, Higino. A criação do bispado do Piauí e o padre Joaquim de Oliveira Lopes. In: Pacotilha, 22.3.1924.
[24] O Apóstolo, 9.1.1910.
[25] Diário do Piauhy, 9.9.1914.
[26] O Apóstolo, 16.11.1911.
[27] A União, 11.10.1925.
[28] A Imprensa, 26.9.1925.
[29] A Imprensa, envia pêsames aos seus distintos irmãos Honorina, Mariana e Severa de Oliveira Lopes, residentes em Teresina, além de Pedro Paulo e Luiz Lopes, residentes em Picos.