Marly de Oliveira

 A propósito deste CD


Por sua origem erudita, sua linhagem clássica e sua alta qualidade literária e filosófica, a exigente obra poética de Marly de Oliveira foi celebrada por figuras do porte de Alceu de Amoroso Lima, Augusto Meyer, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, José Guilherme Merquior, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, e até pelo grande poeta italiano G. Ungaretti.


Escrevendo sobre ela em 1989, Antônio Houaiss lamentava que, em vista das sérias deficiências do ensino da língua portuguesa no Brasil, poucos seriam os leitores que saberiam situar-se nesses escritos. Mas arrematava convicto que "tempos virão em que isso se alcançará e Marly de Oliveira - poeta por ora de poetas- será poeta de todos nós, que a leremos emocionados e gratos pela coragem e beleza que esparziu no nosso mundo."


Admirador fervoroso dessa obra poética desde seu nascedouro, pretendo - com este álbum onde interpreto 120 poemas de 12 de seus 17 livros publicados - não apenas prestar à autora uma homenagem póstuma mais que merecida, como sobretudo contribuir para sua difusão e para que a profecia de Antônio Houaiss se realize o mais breve possível.
Lauro Moreira

SAIBA MAIS SOBRE Marly de Oliveira

Marly de Oliveira, poeta, professora e ensaísta, era capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, embora tenha vivido a infância e adolescência na cidade fluminense de Campos, onde muito cedo se iniciou na literatura, publicando poemas em jornais e revistas. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se em Letras Neo-Latinas pela Pontifica Universidade Católica. Recebeu bolsa de estudos para cursar História da Língua Italiana e Filologia Românica na Universidade de Roma. Ali conheceu o grande poeta Giuseppe Ungaretti, que havia lecionado por algum tempo na Universidade de São Paulo e que, ao ler uma breve coletânea de poemas escritos em italiano pela jovem estudante brasileira, decidiu entusiasmado apresentá-la pessoalmente em um programa literário da rádio-televisão local, referindo-se textualmente ao milagre de criação daqueles versos escritos por uma estrangeira em um italiano luminoso.

De volta ao Brasil, Marly de Oliveira passa a lecionar Literatura Hispano-Americana na Universidade Católica do Rio e de Petrópolis, e Língua e Literatura Italiana na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo. Casa-se com diplomata brasileiro e vive alguns anos em Buenos Aires, Genebra e Brasília. Na década de oitenta casa-se, pela segunda vez, com João Cabral de Melo Neto, com quem reside em Portugal e depois no Rio, até a morte deste, em outubro de 99.
Em 1º de junho último, Marly de Oliveira falece em um hospital do Rio de Janeiro, após quase quatro meses de internação.

Algumas Opiniões sobre a obra de Marly de Oliveira:

“Vou apresentá-la com grande alegria: trata-se de um dos maiores expoentes de nossa atual geração de poetas, que é rica em poesia. (...) Além de poeta, faz críticas da maior erudição, agudeza e sensibilidade.” Clarice Lispector

“Com sua origem erudita, sua dicção clássica, sua substância filosófica, a poesia de Marly de Oliveira é uma construção solitária na literatura brasileira. Comentando outros livros seus, já pude ressaltar tudo isso – o que, para mim, faz dela o maior nome feminino da poesia em língua portuguesa.”Pedro Lyra

“Na longa fala de sua importante obra, Marly vem tecendo e consagrando os seus próprios mitos fundamentais. Desde o primeiro livro de poemas, dos 14 já escritos, ela trabalha e retrabalha uma só iluminação central, multiplicada e projetada sobre horizontes de significados que tanto mais se alargam quanto mais nítida, precisa e despojada se torna sua peculiar dicção.” Mário Chamie

“Ler esta sucessão de esplêndidos livros de rara, inspirada e erudita lírica no Brasil é descortinar, a cada volume, paisagens entrelaçadas por um leitmotiv, pagão, estóico, agnóstico, corajosamente assumido.” Leo Gilson Ribeiro

Sentidos Sentidos

“A aventura poética, aqui, atinge um estado único no Brasil e quiçá na língua portuguesa: um fluir sonoro de completo mas imanifesto domínio dos apoios fonéticos; um artesanato de formas fixas que se embebe no mais acurado conhecimento do passado; uma temática que leva, ao mesmo passo, ao quinhentismo e antes, e aos amanhãs e depois, pertemporizando-se”. Antonio Houaiss

“Marly de Oliveira é uma jovem poeta brasileira. Quem conhece os seus versos em português, aqueles de seu livro Cerco da Primavera, publicado em 1957, e aqueles que compõem a sua nova coletânea Explicação de Narciso sabe que neles ela dá prova de raros dotes de profundidade e de graça. Mais como terá feito esta jovem para apoderar-se de nossa língua, de sua secreta musicalidade ao ponto de poder oferecer o dom da poesia que agora ouvireis? É um milagre: a ingenuidade e a profundidade aqui se mesclam com uma novidade talvez superior aquela que surpreende quando se exprime na sua língua materna. É um milagre: simplesmente poesia em um italiano iluminoso.” G. Ungaretti(alla RAI – 1960)

http://marlydeoliveira.blogspot.com

 Marly de Oliveira, ladeada por Clarice Lispector e Manuel Bandeira

Marly de oliveira ladeada por Clarice Lispector e Manuel Bandeira